– Mas você não tem fé… – argumentou a Mãe debilmente. Fé e jornalismo nunca combinaram. A natureza antagônica da fé e do fato separa um jornalista de um devoto por quilômetros de distância. Acreditar sem provas, provar sem crença. Uma equação eterna e sem resposta.
Logo que comecei a acompanhar o trabalho de Fábio M. Barreto, vi que ele estava para lançar um livro de ficção aqui no Brasil. Comprei o meu na pré-venda (embora tenha chegado depois das lojas já disponibilizarem o livro, por conta do Carnaval), contei os dias pra lançar, aquela coisa toda, pra poder prestigiar a obra dele. Toda a espera valeu a pena.
Filhos do Fim do Mundo (adicione ao Skoob) é uma história eletrizante, com um ritmo de emergência desencadeado já nas primeiras linhas, o que deixa o leitor sempre ansioso, vivendo com os personagens no meio do caos.
É meia-noite do dia 24 de dezembro quando uma notícia deixa todo mundo em pânico: todos os bebês nascidos nos últimos 12 meses morrem misteriosamente, e as crianças nascidas naquela noite já vem ao mundo mortas. Não apenas os bebês, mas também plantas e animais com menos de um ano de vida foram afetados em escala global. Rapidamente, todos se deparam com a promessa de escassez e de um fim do mundo diferente do que esperavam.
O Governador percebeu que ela segurava algo. Olhou para a esposa e viu toda aquela tristeza em seus olhos. Viu compaixão e incapacidade perante uma situação incontornável. Não sabia como nenhum daqueles pais e mães que perderam os filhos se sentiram, e sentiam, desde a catástrofe, mas acabara de experimentar os efeitos da mazela. Ele ainda não conhecia o sentimento em primeira mão, mas experimentara algo pior: a Filha sabia exatamente o que cada uma daquelas pessoas havia sentido. O filhote continuava em seus braços, enquanto olhava para o Pai, esperando que ele fizesse um milagre.
No meio desta história temos o Repórter, convocado pelo único jornal em circulação para buscar informações sobre a fatalidade, junto ao Governo – que cortou as comunicações para evitar que informações erradas se espalhassem pelo mundo, causando pânico entre a população. Alguns de seus colegas de trabalho foram afetados pela tragédia, e o próprio Repórter torce para encontrar uma saída antes que sua esposa grávida entre em trabalho de parto.
Somos apresentados a outros personagens ao longo da história: a Esposa, o Padre, o Diretor, o Governador, o Blogueiro (infernal!!!!), o Major e assim por diante. Cada um tem seu ponto de vista exposto na história e apresenta um gancho que se conecta a outro personagem. Assim, a história flui sem interrupções, quase como se já tivesse sido roteirizada para o cinema.
Me envolvi muito com o livro, porque ele é magistralmente escrito e tem um ritmo frenético que cai como uma luva para a história. Além disso, a situação caótica foi retratada com tanto esmero, que não é difícil ver aplicabilidade naquilo. O instinto de sobrevivência do ser humano pode nos levar a fazer coisas impensáveis. A gente passa a vida acompanhando o ciclo natural de nascimento, amadurecimento e morte, e daí o Barreto sugere a incapacidade de continuar a vida humana na Terra. Impressionante.
Em uma entrevista do Fábio M. Barreto para o Geekcast, o autor comenta que queria escrever um livro sobre fim do mundo, mas teria que ser diferente do que a gente vê em massa por aí. Então ele parou pra pensar que o fim do mundo pra cada um é de um jeito. O fim do mundo para ele seria ficar sem a própria filha, então ele tirou as crianças da história. Isso, por si só, nos dá uma nova visão sobre o futuro da humanidade. Aonde chegaríamos sem novas vidas?

Gostei muito da narrativa, da escolha do autor de substituir os nomes pelos papéis e valorizar as ações e decisões dos personagens que, diga-se de passagem, não são poucas. O livro é cheio de momentos de decisões significativas. Deixar a Esposa e partir em busca da verdade ou ficar ao lado dela? Contar a verdade para o mundo ou evitar o caos e guardar as informações para si? Segurar a mão da Esposa ou proteger a casa?
E que final! Foi construído com inteligência, e uma boa dose de ousadia. Recomendo a leitura desde já! E como eu sou legal e vou facilitar a sua vida, já vou deixar os links pra você comprar o livro Filhos do Fim do Mundo na Travessa ou no Submarino.
Filhos do Fim do Mundo na web
Quem se interessou pela história vai gostar de saber que não para por aí. O Fábio é um sujeito muito atencioso com todos que o procuram e faz um excelente trabalho de relacionamento pelo Twitter, além de manter uma página no facebook com as novidades da publicação.
Tem outro artigo bem legal do próprio Barreto no Brainstorm #9 que fala sobre o processo criativo de Filhos do Fim do Mundo. Outro adendo interessante é o curta Filhos do Fim do Mundo produzido pelo Barreto, que pode ser assistido no Vimeo. Não contém spoilers, é apenas um prólogo pra atiçar ainda mais a curiosidade de vocês.
Desde que li a excelente crítica de O Hobbit, escrita por Fábio M. Barreto, passei a acompanhar o trabalho dele. Fábio é brasileiro residente em Los Angeles, jornalista, escritor e diretor de cinema. Escreveu para Sci-fi News, CNN e Brainstorm #9 e entrevistou celebridades como J.J. Abrams, Neil Gaiman (♥), Denzel Washington e centenas de outros nomes interessantes.
Resenha em vídeo
SAIBA +:
– Ouça o TrollCast com Fábio Barreto;
– Leia o capítulo excluído do livro Filhos do Fim do Mundo.
– Entrevista do Azilator com Fábio M. Barreto;
– Ouça o RenegadosCast #53 com a participação de Fábio M. Barreto;
– Leia online um trecho de Filhos do Fim do Mundo no site da Fantasy – Casa da Palavra..
Ficha Técnica
Título: Filhos do Fim do Mundo
Autor: Fábio M. Barreto
Gênero: Ficção, Fantasia
Editora: Fantasy Casa da Palavra (LeYa)
Páginas: 288
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Skoob: adicione na sua estante