Bonequinha de Luxo, a obra de Truman Capote

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bonequinha de luxo, truman capote, capa de livroBonequinha de Luxo foi celebrado da forma mais romântica que o cinema poderia fazer, em 1961, com Audrey Hepburn imortalizando Holly Golightly. O livro que deu origem ao filme é um dos grandes momentos da carreira de Truman Capote. É audacioso para a época – fala de prostituição, homossexualismo, drogas e ações sem moral.

Capote construiu uma Holly sedutora, pé no chão, ingênua e desligada de tudo ao seu redor. Com 14 anos a moça fugiu de casa para tentar a sorte em Hollywood, onde conheceu O. J. Bermann, que lhe deu um trato com aulas de francês e boas maneiras. Antes de fazer um importante teste para sua carreira de atriz, Holly se mudou para Nova York, e lá permaneceu em um apartamento pequeno, cuja chave sempre esquecia e, por essa razão, incomodava os vizinhos.

Quando “a coisa fica preta” e ela se sente mal, sem saber o motivo, Holly gosta de ir até a Tiffany’s. Não pelas jóias – “embora os diamantes sejam outra história”, e Holly mal possa esperar para ter cabelos brancos e rugas para usar um belo colar de diamantes – mas pela tranquilidade do lugar.

“Mas descobri que o melhor pra mim é pegar um táxi e ir até a Tiffany’s. Eu me acalmo na hora com aquele silêncio e aquele orgulho no ar; nada de muito ruim poderia acontecer ali, não com tantos homens gentis de terno elegante e aquele cheiro de prata e carteira de crocodilo. Se eu encontrasse um lugar de verdade que me fizesse sentir do jeito que me sinto na Tiffany’s, eu compraria alguma mobília e daria um nome ao gato.”

Enquanto sonha com uma vida calma, segura e elegante, trabalha como acompanhante de luxo – algo que é sugerido o tempo todo, sem usar necessariamente estas palavras. Suas peripécias são narradas do ponto de vista de Paul Varjak, um escritor ainda não conhecido que mora no mesmo prédio que Holly e se intriga pelo seu jeito apaixonado e tranquilo de ser. A amizade de ambos tem altos e baixos, mas é sincera.

Sem uma história de vida concreta, já que “mente tanto que talvez nem ela saiba mais da onde veio”, Holly também recebe algum dinheiro para visitar o mafioso Sally Tomato na cadeia uma vez por semana, apenas para conversar e trazer algumas mensagens das quais nada entende e que, por isso, acredita que não podem prejudicá-la.

“Ela falou da sua infância também; mas era tudo muito vago, sem nome nem lugar, um recital impressionista, muito embora a impressão final fosse oposta à esperada, já que ela fez um relato quase voluptoso de verões e banhos de rio, de árvores de Natal, primos bonitos e festas: em suma, de uma alegria que ela não parecia sentir, e certamente bem diferente do passado de uma garota que fugira de casa.”

Holly coça o nariz quando está incomodada porque acredita que sua privacidade está sendo invadida. Divide seu apartamento com um gato ruivo ao qual não deu um nome, porque crê que ambos são criaturas livres que não se pertencem, apenas se encontraram.

Sua personalidade selvagem, a noção clara dos seus objetivos e a atitude para torná-los reais são algumas das características de Holly. Ela é sonhadora, mas calcula os riscos, é ambiciosa. O filme de Blake Edwards mostra isso, mas é bem “açucarado” quando comparado ao livro.

ilustração bonequinha de luxo, capa 1958 bonequinha de luxo

O filme Bonequinha de Luxo é super recomendado, mas não deixe de ler o livro de Truman Capote. É uma história gostosa de ler e, pelos trechos e frases do livro que usamos aqui, já dá pra perceber que é uma baita obra do escritor.

“Não ame nunca um bicho selvagem, sr. Bell”, Holly o aconselhou. “Esse foi o erro de Doc. Sempre voltava para casa com alguma coisinha selvagem. Um falcão de asa machucada. Até um lince crescido com a pata quebrada. Mas não dá para entregar o coração a um bicho desses: quanto mais você dá, mais forte ele fica. Até que fica forte o bastante para voltar para o mato. Ou voar até uma árvore, depois para outra mais alta, depois para o céu. É assim que acaba, sr. Bell. Se a gente amar um bicho selvagem, vai acabar olhando para o céu.”

A edição da Companhia das Letras traz ainda três contos de Truman Capote: Uma Casa de Flores, Um Violão de Diamante e Memória de Natal. Todos são curtos e muito bem escritos, mas nenhum deles se compara à história de Bonequinha de Luxo. Nenhuma personagem é complexa e delicada como Holly, muito embora sua leitura seja recomendada (dê uma folga entre os contos, para aproveitar melhor o que Golightly oferece).

A respeito da adaptação cinematográfica de Bonequinha de Luxo, Truman Capote queria que o filme fosse dirigido por John Frankenheimer e estrelado por Marilyn Monroe, porém Monroe foi aconselhada a não interpretar uma prostituta, pois seria ruim para sua imagem. O desafio foi passado então à Audrey Hepburn, que pediu a substituição do diretor por um que ela conhecesse.

Ficha Técnica

Título: Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s)
Autor: Truman Capote
Ano: 1958
Gênero: Romance
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 145 (com os contos da edição)

Tourantino, por Jayne Jain Kennedy

* Este texto foi escrito em 1995 e foi reproduzido no livro “Quentin Tarantino”, de Paul A. Woods. Los Angeles. A cidade dos Anjos. A Capital do Cinema Mundial. O centro da cirurgia plástica do universo. Uma cidade de um milhão de contradições. Para apreciar melhor aquele glamour corrompido de Los Angeles, uma cidade que […]

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