Fale!, o grito silencioso de Melinda Sordino

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Laurie Halse Anderson. Esse nome foi responsável por uma das histórias mais marcantes que li este ano. Fale! (adicione no seu Skoob) é um dos romances mais importantes publicados na última década, utilizado por professores e psicólogos para abordar uma realidade que já assombrou 17,7 milhões de mulheres norte-americanas: o estupro e a depressão.

Esse ato de violação a todos os direitos do ser humano a ser livre e dono do próprio corpo, faz com que as vítimas tenham 3x mais chance de sofrer depressão, 26x mais chance de consumir drogas e 4x mais chance de cometer suicídio. Os dados foram expostos no final do livro, como um complemento ao texto de Laurie.

Melinda Sordino é uma adolescente que levava a vida numa boa até que um acontecimento marcante em sua vida tirou dela tudo o que tinha: paz, respeito, segurança e liberdade. Em uma festa de alunos do seu colégio, Melinda é estuprada por um veterano e acaba chamando a polícia. Incapaz de contar aos outros o que havia acontecido, ela é excluída por todos por ter dedurado e estragado a festa sem nenhum motivo aparente.

Abro um clipe e o passo na parte interna do meu pulso esquerdo. É patético. Se uma tentativa de suicídio é um pedido de socorro, então, isso que estou fazendo é o que? Um choramingo, um ganido? (…) Minha mãe vê meu pulso no café da manhã. (…) Não tenho tempo para isso, Melinda.

O abuso faz com que ela se feche para o mundo. Nenhuma palavra além do necessário é proferida por Melinda. Suas melhores amigas dão as costas pra ela, incapazes de perdoar a garota por ter estragado a festa. Todos gostam de provocá-la, para puni-la pela atitude. Embora ligue para os comentários, o silêncio de Melinda diz mais do que palavras: ela está sofrendo, ela está em dor. E ninguém parece escutar.

De mal a pior em todas as matérias, Melinda encontra uma atividade que pode ajudá-la a ganhar sua segurança e confiança de volta: artes. Na primeira semana de aula, o professor dá a cada um uma palavra que eles devem, até o final do ano, transformar em uma obra de arte de qualquer tipo, que expresse o que ela significa. A palavra de Melinda é “árvore” (sacou a capa, agora?).

Nesta semana inteirinha, desde o encontro de incentivo, ando pintando com aquarela árvores tingidas por raios. Tento fazê-las de um jeito que pareçam quase mortas, mas não de todo. O prof. Freeman não faz qualquer comentário sobre ela. (…) Uma das aquarelas está tão escura que mal dá para ver a árvore.

O espírito de Melinda – confuso, irritado, cansado – se reflete nas primeiras tentativas de transformar a palavra em arte. Enquanto tenta se encontrar, Melinda se arrasta do colégio pra casa e da casa pro colégio, sem vontade nenhuma de fazer qualquer coisa além de dormir – um sinal claro da depressão. Nem a chegada de uma garota nova no colégio, que tenta fazer amizade com ela, parece animá-la.

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No livro, Melinda relata seu dia a dia com pensamentos sobre seus pais, colegas, sobre o garoto que abusou dela, sobre seus professores, suas expectativas e sonhos interrompidos. Ela não conta logo de cara o que aconteceu. Leva tempo para que ela aceite conversar com nós, leitores (mas não entendam isso como spoiler, ok?).

Os meus pais não me deram educação religiosa. O que a gente mais chega perto de louvar é a trindade Visa-MasterCard-American Express. Acho que as cheerleaders do Merryweather me confundem porque não participei da catequese. Só pode ser um milagre. Não há outra explicação. De que outra forma elas poderiam dormir com o time de futebol americano no sábado à noite e chegar na segunda como deusas virginais reencarnadas?

Algumas coisas bem legais sobre o livro: 1) Após publicar seu livro, em 1999, a autora recebeu MUITAS cartas de pessoas que sofreram abuso sexual, contando como foi e como estavam lidando com isso. 2) A pergunta que mais chocou a autora vinha de meninos que não entendiam por que Melinda ficou tão abalada com o estupro – uma coisa que, segundo Laurie, é reflexo da mídia que vende o sexo como algo trivial. 3) A personagem Melinda aparece de relance em outro livro de Laurie, chamado Catalyst. A autora já pensou em continuações para a história dela, mas nunca se deparou com um argumento bom o suficiente. 4) O livro serviu de roteiro para o filme O Silêncio de Melinda, com Kirsten Stewart no papel principal, e o resultado final foi aplaudido pela escritora. 5) Caso você não se recorde do nome, Laurie escreveu Garotas de Vidro, um dos livros incluídos na lista de sick-lits do momento, da Revista Veja (e que estou aceitando de presente).

O livro em si também é muito bonito. A Editora Valentina caprichou nessa edição, com uma capa muito (muito, muito, muito) mais maneira que a original, carregada de significado, e com detalhes bonitos na diagramação. Destaco também a escolha pelo soft touch na capa, que dá aquela sensação “aveludada”, sabe? Ficou perfeito.

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Para finalizar, quero dizer que a qualidade da escrita de Laurie é impressionante. Ela está gritando pra gente, mas faz isso com frases, pensamentos e sentimentos mesclados que aparecem nas entrelinhas e formam uma história marcante e muito forte. Fale! é um livro para ser apreciado.

E discutido. Sempre.

Esse livro foi cedido pela Editora Valentina pela parceria com o Pipoca Musical. Acompanhe as novidades da Editora nos canais: Site | Facebook | Twitter | YouTube | Resenhas

Ficha Técnica

Título: Fale! (Speak!)
Autora: Laurie Halse Anderson
Editora: Editora Valentina
Ano: 2013 (original: 1999)
Gênero: Romance
Skoob: adicione na sua estante
Páginas: 248

O Estranho Mundo de Jane True #1 – Garota Tempestade, livro de Nicole Peeler

Jane True é uma mulher de 26 anos que vive na pacata Rockabill, com o seu pai. Após encontrar um corpo no mar, a garota descobre que ela é filha de uma criatura sobrenatural, ao mesmo tempo em que se apaixona pelo novo bonitão da cidade, Ryu, um vampiro sexy e muito sedutor, que está investigando mortes misteriosas de meio humanos como Jane em Rockabill.

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