“O que está propondo que façamos?”
“Instruam a criança. Mostrem a ela o que Magia realmente é, o que foi e o que pode vir a ser. Ele tem potencial para tornar-se o adepto humano mais poderoso desta era. Cabe a nós quatro garantir que ele escolha o caminho correto.”
Os Livros da Magia (adicione ao Skoob), de Neil Gaiman, é mais do que a história de um jovem seguindo os arquétipos da Jornada do Herói. Sim, temos os elementos presentes, assim como Roger Zelazny bem fala em sua introdução, mas isso é só uma maneira de se ver as coisas, e essa observação é a que menos importa.
Nessa Graphic Novel acompanhamos Timothy Hunter, um garoto de treze anos aparentemente comum, mas mal ele sabe que dentro de si se esconde um grande potencial para a Magia. Bom, Tim nem mesmo acredita em magia, contudo, um grupo intitulado “A Brigada dos Encapotados”, composta por quatro grandes magos sabem desse potencial e juraram protegê-lo e instruí-lo nesse caminho. Cada um deles tem suas peculiaridades para mostrar a Tim todo o glamour e as vantagens desse universo, assim como seus perigos e os preços que se pagam. A jornada é dividida em quatro livros, e em cada um deles o nosso protagonista aprende uma grande lição e dá um passo à frente em sua decisão de tornar-se o Maior Mago do Mundo.
“A gente tá mesmo no principio de… tudo?
Pode-se dizer que sim. Estamos aqui apenas como observadores, não como participantes.”
Tudo aqui é fantástico e extremamente harmônico: a arte, o letreiramento, a construção dos personagens e, claro, a narrativa impecável de Gaiman. Ele nos conduz como poucos a universos fantásticos e mostra que, além de um ótimo contador de histórias, ele é também um grande leitor, pois trabalha cada um dos personagens (e não são poucos) do universo mágico da DC de forma impecável. O livro é uma verdadeira viagem dentro desse mundo, e quem é fanático pela DC (culpado o/) com certeza vai se deleitar com cada novo personagem que aparece durante a jornada de Tim. Porém, se você não conhece nada desse universo, nada tema!, isso não é essencial para entender a história (e você não vai curtir menos por isso, eu garanto).
“- A gente se reuniu pra mostrar as coisas pro garoto. A idéia é que aprenda o suficiente do mundo da magia pra decidir se é isso que ele quer pra vida dele ou não.
– Parece divertido.
– É, mas o problema é que tem gente querendo matar o moleque.”
Com o uso de analogias brilhantes, citações fantásticas e referências oportunas, Gaiman deixa a leitura fluída e muito agradável. A história conduz o personagem ao universo da magia enquanto a narrativa conduz o leitor aos conceitos fundamentais da história. É um verdadeiro mergulho no mundo mágico.
Os Quatro Livros da Magia
A obra é dividida em quatro “livros”, e são eles:
– O Labirinto Invisível: Onde Tim conhece os quatro magos que guiarão sua jornada, e é levado pelo Vingador Fantasma a conhecer o princípio. E quando digo “princípio”, é ao pé da letra! Tim deslumbra o passado afim de conhecer a Magia Primitiva e sua importância desde a criação do Universo até as civilizações mais antigas. A última fala do Vingador Fantasma antes de Tim atravessar a porta de volta ao “mundo real” é genial.
– O Mundo das Sombras: Nesse livro, que é o meu preferido dos quatro, Tim é conduzido por Constantine (da série Hellblazer) no presente. Eles viajam para a América e John apresenta para o garoto as figuras mais importantes do cenário atual da Magia. Fora o fato de poder ver a interação de vários dos meus personagens favoritos (como Dr. Destino, Espectro, Zatanna, entre outros), o próprio Constantine é uma baita figura e rouba a cena inúmeras vezes, a ponto do próprio Timothy continuar a mencioná-lo no restante da história.
– A Terra do Crepúsculo de Verão: No terceiro livro, Tim é levado até a Terra das Fadas pelo Dr. Oculto, que se revela também de uma outra forma. Eu considero este o livro onde o garoto aprende suas maiores lições, e realmente tem um contato direto com a Magia. Tudo isso rodeado de muitos seres fantásticos, relíquias mágicas e até mesmo deuses. É nesse capítulo da história que Tim percebe a grandiosidade do Mundo que ele pode adentrar.
– Estrada para o Nada: No último livro da saga, o cego Mister Io leva o jovem até o Amanhã, uma viagem ao futuro mostrando alguns caminhos que podem levar a fins muito trágicos, onde a magia pode até se perder por algum tempo, mas jamais deixará de existir. Nessa viagem, Tim vislumbra os verdadeiros perigos por trás de tamanhos poderes e descobre o quão cruel pode vir a ser seu futuro, e também uma surpresa no fim dos tempos.
E o Harry Potter da JK Rowling?
A história de um jovem de óculos que adentra um mundo mágico ao lado de uma coruja pode ser facilmente comparado com a série Harry Potter, da autora J.K. Rowling. Muitos falam que a autora plagiou Neil Gaiman, mas o próprio Gaiman negou ao dizer que esse mesmo arquétipo já tinha outros precedentes na literatura. Em resumo: ambos beberam da mesma fonte.
“Timothy: Você viu o que tínhamos para mostrar, viu o passado, viu um punhado de praticantes da arte. Teve um vislumbre dos mundos que tocam o nosso. Viu o principio e o fim. Agora a decisão é sua.”
Realmente vejo duas obras bem diferentes, e ainda que J.K tivesse se inspirado em Gaiman, eu não iria desmerecer nada do fabuloso universo que ela criou. Os Livros da Magia tem um teor mais adulto e garanto que, se você é fã de Harry Potter, vai se identificar muito com essa HQ. O protagonista lida com conceitos mais clássicos, com personagens mais densos e também com dilemas bem complexos ao longo da jornada.
A HQ de Os Livros da Magia é um encadernado razoavelmente curto. Dependendo da sua empolgação dá pra ler de uma só vez. Fiquei sabendo pelo meu amigo Branco Dunn (tão viciado em Gaiman quanto a dona desse blog :P) que a jornada de Tim teve uma continuação em outras histórias que não são assinadas por Neil Gaiman, mas também não mantém o mesmo brilho.
“Desejas ver os reinos distantes? Pois bem. Mas antes saibas: Os lugares que irás visitar, os lugares que verás, não existem. Pois são apenas dois os Mundos que existem: o teu, que é o mundo real, e outros mundos, de Fantasia.
Mundos como este são mundos da imaginação humana: A realidade deles, ou a ausência da mesma, não importa. O que importa é que estão onde estão.
Estes Mundos fornecem uma alternativa. Um escape. Uma ameaça. Fornecem um sonho e poder, e refúgio e dor. São eles que dão sentido ao teu Mundo.
Eles não existem; e portanto são tudo que importa. Entendes?”
Por fim, eu recomendo a obra para todos os públicos, seja você fã ou não de super heróis ou quadrinhos. Talvez a única exigência seja a de você gostar de fantasia. Posso te garantir que estamos falando de uma das boas!
Espero que tenham gostado da minha primeira resenha por aqui! Minha missão é trazer para o Pipoca Musical um pouco mais de quadrinhos. Deixem seus comentários e nos vemos novamente em algum espaço tempo de um universo fantástico. ;)
Ficha Técnica
Título: Os Livros da Magia – Edição de Luxo
Autor: Neil Gaiman
Ano: 2013 (original: 1990)
Editora: Panini
Gênero: Graphic Novel
Páginas: 212
Skoob: adicione na sua estante
Oi Bruno,
Em primeiro lugar, obrigada pelo post, ficou incrível e super completo! Chamei a pessoa certa pra falar de quadrinhos. :)
Em segundo, acho que quando surgiu a polêmica JK vs Gaiman foi a primeira vez que ouvi o nome dele. Mas não dei bola na época (e pelo visto perdi a chance de ler uma baita história). Achei importante você pontuar a opinião do Gaiman a respeito da acusação de plágio. OK que são bem parecidas mesmo, mas como você dissem, ambos bebem da mesma fonte, e é besteira pensar que um assunto tão vasto e antigo quanto a magia não seria tratado por autores brilhantes cada um em seu tempo.
E por último, acho que já gostei da história do Tim com o Constantine. O John é ótimo, ahehahehae.
Beijo pra você, obrigada pelo post e volte sempre! :D
/o/
Essa coisa de Plágio sempre rende boas discussões, na maioria das vezes não tem nada de plágio, as ideias estão ai soltas, e muita gente pensa parecido sobre vários aspectos, se a gente cresce lendo, assistindo e ouvindo as mesmas coisas provavelmente iremos ter muitas ideias parecidas, e nenhum vai ter “copiado” do outro, existe uma lei que explica exatamente o que categoriza algo como plágio, mas acho uma parada bem subjetiva (claro que as vezes é tão descarado que não há como negar rs).
Polemicas a parte, indico que você leia essa quando tiver oportunidade, e com certeza você vai gostar da HQ como um todo e vai concordar comigo que o livro do Constantine é o melhor rsrs
Eu que agradeço pelo espaço, e com certeza eu volto, falar de HQs é sempre divertido =D
Só estou me preparando para a facada. Mas quero essa HQ pra mim.
O Bruno pode responder melhor, Mari, mas acho que tá na faixa dos R$25, assim como Dias da Meia-Noite. :)
O preço comum é 25,90 se você procurar bem acaba pagando 19,90 numa promoção =)
Óia aí, amor eterno pela Panini ♥
Estou aqui apaixonada por esse post. Ficou incrível Bruno, parabéns! Quero ver mais posts teus por aqui!
Estou deixando Livros da Magia de Lado pq confesso, estou com medo de fazer comparações. Eu sou totalmente fangirl do Gaiman, eu casaria com ele se pudesse. Mas amo Harry Potter e vou ler para meus filhos.
Agora tenho certeza que vou amar. Vou aproveitar logo para ler (:
Beijos.
Anna
*O* Valeu Anna o/
Faça como eu e limpe sua mente, pense que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e com certeza vai curtir a leitura!
Até mais, =**
Olha o Brubsssss! :D
Que bom te ver por aqui! Primeiro de tudo: OBA! Mais Neil Gaiman <3
Segundo, parabéns pela resenha, Brubs. Eu ouvi falar sobre Os Livros da Magia recentemente em um podcast e foi nesse mesmo que ouvi sobre essa da JK ter plagiado o Gaiman. Realmente duvido muito que isso tenha acontecido e histórias de magia com pessoas de óculos e corujas (que são animais símbolo de sabedoria) já não eram novidade na época dos dois. E o Harry é bem mais bonito do que esse Tim hahahaha
Sem dúvidas Os Livros da Magia vai entrar pra minha lista de leitura de HQs. As Espero ansiosa por mais resenhas tuas aqui pra eu colecionar mais recomendações :)
Beijos!
Bruna
http://umpoucodissoeaquilo.com.br
Valeu Bruninha *O*
Devia ter uma latinha da coca-cola dizendo “Quanto mais Gaiman Melhor” rsrs
Exatamente ninguém copiou ninguém, são somente inspirações parecidas com base em mitos e arquétipos já existentes, é besteira deixar de ler um ou o outro por conta disso!
Leia sim, com certeza ira curtir. Pode deixar que volta e meia dou as caras por aqui =)
Beijos, até mais o/
Comentário meio atrasado, mas antes tarde do que nunca!
Bem, quando eu vi que você cita a “tempestade em copo d’água” que criaram sobre a conversa do plágio, eu me apaixonei pelo seu post.
Eu li Harry Potter e me amarrei, mas eu também amo de paixão Gaiman e se fosse plágio, foda-se porque a J. K Rowling teria pelo menos o bom gosto de plagiar o Gaiman. Eu lembro que eu vi um post por aí que eu achei ridículo, o cara só levou tempo em falar mal da Rowling.
Desculpa pelo comentário gigante, foi a empolgação! rs
Aee, antes tarde que mais tarde ainda Ítalo =)
Realmente fizeram um barulho atoa quanto a isso, acho besteira pq sim eles tem algumas semelhanças mas tem muito mais diferenças. A galera gosta de sair criticando sem antes pesquisar, e pior tomando as dores que nem o próprio autor fez questão… mas bem, ainda temos pessoas dispostas a analisar as coisas com mais coerência e não deixar se levar por mimimi alheio rsrs
Por fim amo Harry Potter e Gaiman, bem é o Gaiman né rsrs
Abs cara, volte sempre o/
Essa é apenas mais uma das obras de Gaiman que eu não conhecia. Interessantíssima essa intertextualidade com HP, mesmo que a Rowling claramente tenha VÁRIAS influências pra escrever esse livro, entre elas Tolkien e talvez o próprio Gaiman.
Acho que há algum tempo, esse tipo de livro (pelo menos nos EUA) era uma certa fórmula para o sucesso, mas acho que hoje em dia já não adianta escrever sobre bruxinhos, fica manjado (o único que conseguiu foi o James Patterson, e os livros dele ficaram péssimos).
Obrigado pelo comentário o/
A Rowling tem várias influências assim como o Gaiman também tem e o Tolkien também tinha, é algo absolutamente natural termos artistas do nosso gosto como referências para nossas obras, plágio é outra história!
Quanto à escrever sobre bruxos, não acho que seja bem uma fórmula, na minha opinião o assunto é só o assunto, o que vemos as vezes de forma repetitiva e que acaba cansando é a forma de se contar essa estória, é claro que alguns assuntos acabam ficando na moda por um tempo e chamando a atenção como foi com bruxos na época do HP, depois vieram os Vampiros e hoje os Zumbis, mas ainda acho que o que conta mesmo é como você conta a estória. Se você me apresentar hoje uma estória de Bruxos bem contada com é Livros da Magia eu vou me amarrar estando ou não o assunto na moda =)