Sinal e Ruído: estamos sempre vivendo os últimos dias

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Estava aqui pensando no que poderia trazer pra vocês para fechar o Especial Neil Gaiman de novembro com chave de ouro, e encontrei um trabalho dele em conjunto com o Dave McKean (que você já ouviu falar em Os Lobos Dentro das Paredes) que certamente merece um destaque.

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Estamos sempre vivendo os últimos dias. Quanto tempo nós temos? Cem anos ou muito, muito menos até que chegue ao fim o nosso mundo.

Em Sinal e Ruído (adicione ao Skoob), nosso protagonista é um diretor de cinema que descobre ser portador de uma doença terminal. Como um último suspiro, ele dedica seus dias ao desenvolvimento de um roteiro cinematográfico que pode nunca ser filmado.

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E eu me pergunto:
Por que estou escrevendo um filme que nunca vou filmar, criando algo que ninguém vai ver?
O mundo está sempre acabando para alguém.
É uma boa fala.
Eu a coloco na boca do pai da criança. Ele diz isso à esposa.

Vamos fazer uma pergunta básica aqui: o que é o fim do mundo pra você? Podemos ter medo da virada do milênio ou do misticismo em torno de uma data cabalística, mas uma coisa é fato: todos os dias, milhares de pessoas tem o seu próprio fim do mundo (aprendi isso em Filhos do Fim do Mundo). A morte – seja a nossa própria ou a de alguém próximo – é por si só o término de um ciclo. Mas e saber que você vai morrer em poucos meses?

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Tenho cinquenta anos. (…) Daqui a dez anos terei… (morrido) sessenta.

Nosso protagonista fala – e vive – isso. Diagnosticado com câncer já avançado, ele escreve o roteiro que vê em sua mente, um filme que tem o fim do mundo como pano de fundo. Talvez o filme de sua própria vida, com seus próprios medos? A história criada por ele se passa no último dia do primeiro milênio, e há a expectativa de que a virada desse ano traga consigo o fim de todas as coisas.

O roteiro refinado de Neil Gaiman nos coloca frente a frente com um homem que faz reflexões sobre a vida diante da morte, que enfrenta o próprio medo do desconhecido, vive a solidão diariamente e tenta exportar suas emoções e pensamentos para um trabalho que talvez nunca seja visto.

Porém, mais do que elogiar o trabalho do Neil, temos que falar do talento de Dave McKean. A colaboração gráfica dele pra essa obra fez toda a diferença. O tom sombrio para retratar a vida que se esvai do nosso protagonista, somado às cores vibrantes das cenas mais intensas de sua imaginação se juntam para formar um trabalho único e cheio de interpretações. É muito, muito bem feito.

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A expressão “Signal to Noise” vem da ideia de proporção sinal/ruído, um conceito de engenharia que compara o nível de um determinado sinal (como música) ao nível de barulho do ambiente. Quando maior a proporção, menos intrusivo é o ruído no ambiente.

Na graphic novel de Neil Gaiman​ e Dave McKean, o termo se refere à dificuldade em transferir as ideias na sua cabeça de forma precisa e completa para um público. O sinal é o que o protagonista deseja contar, e o ruído é sua criatividade desafiada pela morte iminente.

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E nós morremos, porque as coisas importantes se acabam. Mas, às vezes, os padrões que criamos seguem adiante.
“Você só morre de fato quando a última pessoa que o conhecer estiver morta.”

Sinal e Ruído é uma daquelas histórias que servem pra te deixar desconfortável. E devo dizer que ela tem também um dos melhores títulos que já vi.

O que é realmente importante no meio de tanta coisa inútil nessa vida? Não tem como não se compadecer do personagem e dos pensamentos que ele tem isolado no seu apartamento, enquanto escreve sua última obra.

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Parado em um sinal de trânsito, olho de relance as linhas da minha mão – da mesma forma como o faço agora. Vejo uma cicatriz ma base do polegar, onde me cortei na infância com uma garrafa quebrada. Meu passado está escrito ali. Mas e o meu futuro? Examino a minha mão, tentando adivinhar um futuro na sua rede de ranhuras e caminhos. Eles se mantêm ilegíveis. E eu retorno ao passado.

Sinal e Ruído é excelente em seu argumento e texto, e é excelente em sua arte. Neil Gaiman e Dave McKean adicionaram um ótimo trabalho aos seus portifólios. Certamente, esta é uma graphic novel para ser lida uma, duas, três vezes ou quantas forem necessárias. E aí você tira sua lição. E entende, e aceita.

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A dor dentro de mim é um acúmulo sólido de ódio. Raiva do meu corpo por me trair. Raiva do meu mundo, e dos meus sonhos, e da minha vida, por não durar para sempre. Raiva porque nada do que criei ficou tão bom como poderia ter ficado, deveria ter ficado. Na minha cabeça era.

A edição especial publicada pela Conrad Editora traz a introdução de Jonathan Carroll, escrita em 1992, bem como pequenos prefácios de Dave McKean e Neil Gaiman escritos a cada relançamento ou ampliações da obra.

Espero que vocês tenham a oportunidade de conhecer este trabalho da dupla. Se quiser uma leitura mais densa, pronta para fazer você refletir, anota essa dica aí.

Alguém aí já leu? Deixe seu comentário! :)

Ficha Técnica

Título: Sinal e Ruído
Autor: Neil Gaiman
Arte: Dave McKean
Ano: 2011 (original: 1989)
Gênero: Graphic Novel
Páginas: 96
Skoob: adicione à sua estante
Comprar: Amazon

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Comentários

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11 comentários via blog

  1. Thais Alves comentou em

    Puxa, que legal, eu não conhecia esse trabalho dele, mais agora vou procurar que nem maluca pra comprar!!!

    1. Hehehehe, pode confiar Thaís! E oh, eu lembro que paguei R$9,90 na edição, e outro leitor aqui do blog também. Fica de olho nessas promoções e arremata Sinal e Ruído e Mr. Punch (outra graphic novel bem legal, que ainda não falei aqui). :)

      Beijo!

  2. Diego comentou em

    Oiiii guapa :P

    Lembro de quando você me falou dessa graphic e eu fiquei super encantado com a história. E logo na mesma semana teve aquela promoção linda e comprei <3333 hahahahahhahaha
    Ainda não li, dei apenas uma folhada, achei o traço incrível!!
    E agora lendo tua resenha me deu mais vontade de ler, mas como tu falou, é melhor ler mais de uma vez, certeza que farei isso, quero captar todos os detalhes possíveis!!
    Ah, o mês do Mr. Gaiman foi sensacional, ok?
    Vocês foram demais mesmo, sabe que sou #TeamPipoca AAAAHAHA

    Outra coisa, amei essa quote – "Você só morre de fato quando a última pessoa que o conhecer estiver morta.”

    Um beeeeeeeeeijo xuxu :)))

    1. Oooooiiii Diiih :)

      Eu lembro disso, eu tinha recém terminado de ler e tava super empolgada com a história, hahaha. Que bom que reforcei isso pra você com a resenha. Tira um final de semana pra ler ele numa paulada só, daí você para, reflete e toma uma água. Depois de umas duas semanas volta à ela. Funciona, viu? Hehehe.

      E que ÓTIMO saber que você curtiu o mês do Mr. Gaiman! Ele tem tantas obras que é difícil escolher algumas poucas, mas o blog tem muitos anos pela frente ainda, vai dar tempo de falar sobre outros em breve, hehehe. :)

      PS: Essa quote é ótima, mas a minha favorita é a do título.

      Beijo!!!

  3. Ricardo comentou em

    Taí o único livro do Gaiman, dentre os que eu já li (e não foram poucos, visto que sou um grande fã de Neil Gaiman), que eu não gostei. Achei o roteiro tedioso, arrastado, chato e, sim, superficial. Não achei que as reflexões foram tão boas reflexões ou tão grandes e profundas, ou pelo menos pra mim elas não fizeram com que o livro valesse a pena. Na minha avaliação, o Dave McKean nesta obra merece 5 estrelas e o Gaiman só 0,5 estrela. Poxa, não tinha como deixar o roteiro mais interessante? E também o personagem principal? Chegou uma hora que eu já estava pensando “morre logo, caramba!”. Como pode ver, não tive identificação nenhuma com o protagonista. Tive que me forçar a concluir a leitura, que levou mais tempo do que poderia ter levado se a história fosse mais engajadora. Que pena, eu tinha altas expectativas e queria ter gostado.

    É até engraçado você concluir o mès do Gaiman justamente com a única obra dele (até agora) que eu não gostei. Mas mesmo assim eu adorei esse longo especial sobre o Gaiman, com tantas obras que adoro, como O Oceano no Fim do Caminho e The Graveyard Book.

    1. Oi Ricardo,

      Literatura é uma coisa engraçada, né? As histórias podem tocar as pessoas de diferentes formas. Particularmente, achei o roteiro muito intrigante, talvez por me interessar por esse ponto de vista de fim do mundo mais do que pelas teorias que vemos por aí. Lamento não ter escolhido um livro melhor pra te animar com o encerramento do Especial Neil Gaiman, mas pelo menos falamos de dois que você gostou muito! Isso já me deixa feliz :)

      Se tiver alguma sugestão de livro dele pra gente falar, comenta aí que eu preparo algo. Adoro conferir as indicações dos leitores :D

      Abração :)

  4. Temo dizer que essa HQ, junto com Mr.Punch, foram as hqs mais difíceis de digerir assim, de primeira. Fiquei uns dias sem dormir direito pensando nelas e tudo mais =x

    Mas mesmo assim, as adoro <3

    1. Sabe que Mr. Punch não mexeu muito comigo não? Mas Sinal e Ruído foi algo impactante, gostei demais da leitura e do ‘pós’ dela. :’)

  5. Nossa, fiquei demais com vontade de ler essa graphic novel. Tanto por ser uma história do sr. Gaiman, como também tem essa arte incrível!

    Lendo a premissa, eu fiquei imaginando bastante como seria em filme. Eu acho que já estou acostumado com filmes existenciais, e me parece, que essa história me cairia muito bem em um filme meio independente. Me lembrei um pouco do Adaptação, do Spike Jonze, que vai nessa pegada também, mas não é tão sombrio assim.

    Sobre a questão da mortalidade, essa é uma questão que atinge a todos nós, querendo ou não. Mesmo com ou sem fatores que agravem nossa saúde e vida, acredito que seja escolha de cada um tomar em consciência que estamos todos morrendo, a cada segundo. Uns preferem ignorar, outros preferem ter noção da vida que possuem. E o que cada um faz com o tempo que resta é o que importa.

    1. Eu adoraria ver um filme dessa graphic novel, ou então o produto final do nosso protagonista. Seria sensacional. Nunca vi esse do Jonze que você mencionou, mais um que vai pra lista, com certeza. Obrigada pela dica.

      E olhaí, citando Gandalf no post do Gaiman. Master blaster ;D