Bling Ring e o relato jornalístico apurado de Nancy Jo Sales sobre fama, status e celebridades

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Bling Ring – A Gangue de Hollywood, livro de Nancy Jo Sales publicado em maio de 2013 nos EUA e em julho aqui no Brasil, é um verdadeiro dossiê moderno sobre o caso dos adolescentes que, entre 2008 e 2009, invadiram e roubaram a casa de algumas celebridades do momento, como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom. O livro foi construído com as informações de pesquisa da jornalista, que escreveu o artigo “The suspects wore Louboutins” (Os supeitos usavam Louboutins) publicado em 2010 na Vanity Fair.

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Uma pesquisa realizada em 2011 pela ChildFund Alliance (…) revelou que a maioria das crianças em países em desenvolvimento aspirava a se tornar médicos ou professores (…), falavam em melhorar as escolas de seus países e providenciar para que “houvesse mais comida”, enquanto seus colegas do mundo desenvolvido querem crescer para ter o tipo de emprego que os tornará ricos e famosos – atleta profissional, ator, cantor, estilista. Ou, para os menos esforçados, ladrão.

O bafafá em torno da história chamou a atenção de Sofia Coppola, que comprou os direitos de filmagem da reportagem de Nancy e adaptou a história para o cinema, em um filme estrelado por Emma Watson e Katie Chang.

Paris e Lindsay se valeram da atenção concedida pelos papparazzi (…) o público parecia se divertir com o declínio da sua reputação na mesma medida em que se dizia indignado com aquilo. O minivestido branco e justíssimo Kimberly Ovitz usado por Lindsay Lohan em fevereiro de 2011 numa audiência no tribunal para responder a uma acusação de roubo teve sua venda esgotada em todo o país quase instantaneamente.

Então, o livro é dividido em três grandes capítulos que abordam a Bling Ring em três estágios: como os roubos começaram, porque eles continuaram e como tudo terminou. O relatório da polícia de Los Angeles aponta que a líder do grupo era Rachel Lee, filha de uma imigrante norte-coreana, que estava sempre acompanhada de Nick Prugo, seu melhor amigo desde os 14 anos, quando se conheceram em um colégio com reputação para desajustados.

Unidos pela paixão à moda, a amizade dos dois foi ficando cada vez mais forte. Nick amava a amiga e fazia tudo por ela, então quando ela quis começar a invadir a casa de celebridades que ela mais gostava (!!!!) para “ir às compras” e renovar o guarda-roupa, ele topou.

De uma perspectiva puramente social, a Bling Ring se dividia em duas alas, e Nick era o denominador comum das duas. Era Nick e Rachel (e Diana e Courtney), e Nick, Tess e Alexis (e Gabby), e eles raramente socializavam entre si.

Rachel e Nick procuravam os endereços das celebridades na web e checavam a agenda deles em sites de fofocas e redes sociais para descobrir quando eles estariam fora. Se houvesse uma porta destrancada, seria fácil. A primeira vítima da Bling Ring foi Paris Hilton, que deixava a chave debaixo do tapete da entrada (sério, Paris?).

A ideia da dupla era levar algumas coisas para que Paris não percebesse e eles pudessem voltar. Funcionou bem, pois Rachel e Nick voltaram mais 3 vezes à casa dela, e Paris só percebeu o roubo quando deu por falta de fotos dela fazendo Top Less, cocaína e jóias de alto valor que estavam dentro de um cofre.

Assim como Paris, Audrina Patridge, Orlando Bloom, Lindsay Lohan, entre outras celebridades, também tiveram suas casas invadidas e somaram um prejuízo de quase U$3 milhões pelo roubo de dinheiro, roupas de grife e jóias caríssimas.

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— Com o Twitter — disse ela — é loucura o modo como essas estrelas ficaram acessíveis. — Tão acessíveis, ela acredita, que os jovens da Bling Ring “pensaram que conheciam essas pessoas porque sabiam o que elas comiam no café. Então se sentiram à vontade para entrar na casa delas”.

Uma das coisas mais interessantes no livro é ver, através dos depoimentos coletados, que Nick e Rachel não se sentiam culpados pelos roubos, porque as celebridades nem dariam por falta daquelas coisas todas. Mas como Lindsay disse em júri, o problema não eram apenas as coisas roubadas, mas o fato de alguém ter violado o único lugar no mundo em que ela tinha privacidade. É algo bem pessoal, não é?

Ao longo da narrativa de Nancy Jo Sales, somos apresentados a outros adolescentes envolvidos no caso direta ou indiretamente. Destaco aqui Alexis Neiers, uma garota que é, talvez, a pessoa mais ativa na mídia.

Pretty Wild - Vanity Unfair
[VEJA+: Alexis Neiers fica revoltada com o artigo de Nancy Jo Sales e vira piada na TV]

Filha de uma ex-coelhinha da playboy, Alexis estrelou Pretty Wild, seu próprio reality show, que foi ao ar logo que a bomba da Bling Ring explodiu. O programa aproveitou vários episódios para acompanhar Alexis no tribunal, encenando diálogos e ligações (inclusive para Nancy Jo Sales) que encheram a bola do programa (esse link aí em cima, clica pra assistir).

O que esperar do livro Bling Ring?

O livro é resultado de relatos, entrevistas e detalhes dos roubos, contados com uma ótima escrita jornalística, moderna e envolvente. Nancy teve o cuidado de inserir estatísticas e relacionar músicas e filmes ao contexto em que aqueles jovens se encontravam. Ele me chocou em diversos pontos pela dissimulação dos adolescentes, e pela futilidade que os motivava.

[Lady] Gaga compara o amor moderno ao amor pela fama — se apaixonar é seguir obsessivamente uma celebridade, é ser paparazzo: “Sou seu maior fã / Vou te seguir até você me amar / Papa-paparazzi…” Agora era como se todo mundo tivesse se transformado no maior fã de si mesmo. Todos se exibiam nas redes sociais. Todo mundo era o seu próprio paparazzo.

Se você é mais chegado em uma história de ficção e tal, não desanime. O conteúdo jornalístico de Bling Ring é um retrato inteligente de como a juventude enxerga a fama e a riqueza. Nancy Jo Sales ainda pondera sobre os caminhos que levaram os adolescentes (no geral) a celebrarem esse estilo de vida e desejarem dinheiro fácil para sustentar seus luxos.

[VEJA+] NBC News entrevista Nick Prugo e Alexis Neiers, membros da Bling Ring.

Nancy não fantasia o caso: as informações que apresentavam contradições são expostas com sinceridade com base em fatos apresentados durante o processo. Além disso, ela não poupa o leitor das opiniões das vítimas, dos familiares e dos acusados (que achavam que não estavam fazendo nada de errado).

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Não que ele se importasse com o fato de Rachel levar algumas das coisas de Paris — olha só para a casa da Paris, ela “tinha tudo”. E ela “na verdade não contribuía para a sociedade”, não era “um grande ator como Anthony Hopkins ou Johnny Depp, alguém realmente bom no que fazia”. Ela era uma herdeira cabeça-oca ou, como diziam os tabloides, uma celebutard (uma celebridade burra e extravagante).

— Não via maldade naquilo — disse Nick. — Não estava ali roubando, digamos, algum cidadão trabalhador.

Ao que o livro dá a entender, mesmo que em alguns momentos as vítimas dos roubos tenham divulgado vídeos das câmeras de segurança na web com o intuito de que as pessoas ajudassem a identificar os invasores, a polícia não tinha nenhuma pista pra começar a investigar.

Não fosse Nick Prugo se entregar e confessar os crimes (além de dedurar os amigos), pode ser que levasse mais tempo para o padrão ser percebido e os culpados serem identificados.

[VEJA+] Assista ao vídeo da câmera de segurança de Audrina Patridge divulgado no TMZ no dia do roubo.

O que eu mais senti falta nesse livro foi de um apoio visual. Com pouquíssimas imagens ilustrando coisas sem importância da história (tipo uma foto aleatória da Paris Hilton), acho que as editoras perderam a chance de fornecer aos leitores a chance de mergulhar mais fundo no caso. Diversas vezes são mencionadas manchetes de portais de notícias e vídeos que poderiam ter ilustrado as passagens, mas no fim das contas eu tinha que ficar pesquisando no celular o tempo todo.

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RESUMINDO: Bling Ring foi uma experiência de leitura e tanto, que me deixou impressionada com os detalhes e os pensamentos das mentes adolescentes, fascinadas com o dia a dia das celebridades. No fundo, no fundo, a gente não pensa realmente no impacto que o estilo de vida das celebridades tem na população. A Bling Ring era fascinada pelo mundo luxuoso de tapetes vermelhos e roupas de grife que parecia ser a vida de Paris Hilton, Lindsay Lohan e Megan Fox. Eles não queriam apenas uma blusa ou um sapato parecido: eles queriam aquela blusa e aquele sapato. Aquela bolsa. E se sentiram no direito de ter. Mais do que falar de Nick, Rachel e a patota envolvida nos roubos, Nancy Jo Sales estuda a sociedade e entrega um resumo do que estamos vivendo nos últimos 20 anos. Então, sim, recomendo que você leia.

Espero que tenham curtido a resenha! Demorei, mas publiquei, hehehe :)

Ficha Técnica

Título: Bling Ring – A Gangue de Hollywood
Autor: Nancy Jo Sales
Editora: Intrínseca
Páginas: 271
Ano: 2013
Gênero: Não-Ficção, Jornalístico

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Comentários

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18 comentários via blog

  1. Oba, tava esperando essa resenha! Fiquei ainda mais curiosa pelo livro, gosto bastante de livros que adotam uma postura mais jornalística e é muito bom para quebrar uma sequência de romances de vez em quando. Fiquei chocada com a falta de culpa dessas criaturas.

    Beijos.

    1. Oi Paloma! Lembrei de você quando postei a resenha, por causa do seu comentário no outro post. Bling Ring é chocante em muitas passagens, recomendo que você leia pra ver se você vai ficar tão boquiaberta quanto eu com a dissimulação dessas criaturas. É muito legal. :)

      Beijo!

  2. Engraçado… pensei que era um livro meio Chick-lit.
    Não pensava que fosse mais jornalístico.

    Acho que a capa me enganou de fato.

    1. Oi Mari!

      Acho que não foi só a capa que enganou. O trailer do filme mostra o ponto de vista dos adolescentes da Bling Ring, então a gente meio que acaba mergulhando no mundo de luxúria deles. A Sofia adaptou a história pra que não saísse um documentário, sabe. O livro é super legal, adorei ♥

      Beijos!

  3. Como você já sabe, quero mesmo ler esse livro.
    Uma pena ter que ficar no celular procurando. Faço isso sempre enquanto leio qualquer livro e acredito que este, por ser jornalistico, deveria vir mais ilustrado (de acordo com o que li na resenha porque não tenho e nem vi o livro ainda).
    Mas adorei a dica!
    Com certeza está na minha lista de leituras.
    Beijos.

    1. Oi Babi,

      Pois é, pois é, uma história dessa precisava de um apoio visual melhor, mas okay. Eu adoro os livros de uma especialista em Marketing chamada Martha Gabriel, que sempre coloca QRCodes no livro que levam para diversos vídeos do youtube e matérias na íntegra sobre os assuntos que ela aborda. Se tivesse isso em Bling Ring seria perfeito! :)

      Beijo :*

  4. Hummm, vamos ver, vamos ver…. conclusão: não quero ler o livro. Eu já peguei um parecido com esse estilo, nem lembro o nome, era sobre uma criança que matava outras crianças e o estilo do livro me cansou muito fácil (nem consegui terminar).
    Acho que, pela forma que você descreveu o livro, vou me cansar muito fácil. E eu nem conhecia a história e as pessoas de Bling Ring.Prefiro partir pro filme mesmo!

    Ai tadinho do Orlando né? Tão fofo! E como é que essas celebridades me deixam informações tão pessoais nas redes sociais, que burrice!! -.-‘

    Beijos!

    1. Oi Jeeeehhhh! :)

      É, achei melhor ser honesta a respeito do tipo de escrita do livro porque muita, muita gente achou que seria meio “chick-lit”, sabe. Estou ansiosa pra ver o filme, a Sofia e a Nancy escreveram o roteiro juntas, vamos ver no que vai dar.

      A respeito das informações, o livro menciona que tem um site que fornece a vista aérea da casa das celebridades por uma mensalidade irrisória. E, claro, os membros da Bling Ring pagavam isso pra poder estudar as brechas da casa. Fora isso, é o de sempre: checkin no foursquare pra todo mundo ver no twitter onde você está, manchetes em canais de fofoca, facebook aberto com a sua vida inteira lá, blablabla. As pessoas não se tocam da exposição a que elas se submetem.

      Beijooo :*****
      <3

  5. Oi Raquel.

    Estou com Bling Ring aqui na fila e eu estou LOUCA para lê-lo. Espero que além dos crimes cometidos pela Bling Ring eu possa encontrar uma abordagem sobre essa paixão louca e obsessiva pela celebridades na sociedade atual.

    Sou fascinada por esse contexto de crimes e celebridades hahaha

    beijos.

    1. Oi Virgínia!

      É certo que sim, a Nancy Jo Sales colocou muita informação rica sobre isso. Vai fundo ;)

      Beijos :)

  6. Gabriel Rezende comentou em

    Esse livro deve ser D.E.M.A.I.S! Sério, antes eu nem tinha conhecimento e nem curiosidade para ler… A capa não me chamou tanto atenção. A questão é que depois de ler essa resenha, fiquei curioso com a proposta do livro.
    Ótima resenha!
    Beijo

    1. Oi Gabriel!

      Que ÓTIMO saber disso! A capa também não tinha me interessado muito, mas me surpreendi totalmente com o livro. É um baita estudo, fiquei impressionada. Recomendo a leitura ;)

      Beijo!

  7. Oi,Raquel!
    Bem, tenho visto muito burburinho em torno dessa obra e, principalmente em relação ao filme. Provavelmente seja porque Emma Watson esteja no elenco, O fato é que só depois dessa resenha fantástica( isto já está se tornando repetitivo) que me interessei pelo livro. Assim que tiver a oportunidade comprarei o livro. Ah..já ia me esquecendo: Pra onde devo enviar a fatura do meu cartão?rs

    Zilda – Cachola Literária

    1. Oi Ziiiiiiiiiiiiiiilda!

      Que bom ver você aquiii! E que ótimo saber que você curte as resenhas (♥). Eu achei que Bling Ring seria uma coisa pop, meio patricinha, e acabei me surpreendendo com o excelente conteúdo e as análises da Nancy. Vai sem medo :)

      Beijooo!

  8. Mirelle comentou em

    Oi Raquel, amei a tua resenha, extremamente bem fundamentada e crítica. É chocante pensar que tudo isso é real e que pessoas como eles realmente existem. É uma pena que a nossa juventude esteja cada vez mais se perdendo. Adorei as fotos do post. Beijos, Mi

    http://www.recantodami.com

    1. Oi, Mi!

      Pois é, também fiquei chocada. A Nancy me deixou boquiaberta com a quantidade de informações que ela trouxe, os comparativos, as análises de músicas, tudo. Muito legal :)

      Beijo!

  9. Fabiana Almeida comentou em

    Raquel bom dia :))

    Nem desconfiava desse formato jornalístico do livro o.O Interessante pra caramba! Não sei se eu estou *realmente* mal informada ouuuu o filme nos dá outra impressão do livro.

    Valeuuu, bjim

    1. O filme que dá essa impressão, flor. Coisas da Sofia Coppola, rsrsrs. Mas o livro foi escrito por uma jornalista mesmo, é bem organizado e bem embasado (quando a autora não tem provas de uma afirmação, ela coloca o nome de quem disse e tal, bem legal). Espero que curta :) Beijos!