12 Anos de Escravidão e a longa batalha de um homem livre

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Foto: Anna Schermak (Pausa para um Café)
Texto: Camila Iara | Foto: Anna Schermak (Pausa para um Café)

Falar de preconceito nunca é fácil. Mergulhar de cabeça em um assunto tão controverso e que foi (e continua sendo) pano de fundo de tanto sofrimento, então, nem se fala. Mas foi assim que Solomon Northup decidiu contar sua história: pulando do penhasco sem pensar duas vezes. Em 12 Anos de Escravidão (adicione ao Skoob), conhecemos a história real de um homem livre que foi sequestrado e lançado à escravidão por 12 anos, em 1841, em uma plantação de algodão em Washington, atual capital dos Estados Unidos. Publicado pela primeira vez em 1853, mesmo ano em que Solomon foi libertado, o livro narra não só as várias tentativas de fuga do prisioneiro, como também traça um paralelo entre as raízes do homem negro e a luta pela liberdade – principalmente de espírito.

Filho de um homem que foi escravo e logo depois liberto, o protagonista da história foi alfabetizado pela mesma família que libertou seu pai. Foi na casa em que cresceu que aprendeu a tocar violino, paixão que mais tarde dividiu com a esposa e os filhos. Realizado e financeiramente estável, Solomon foi capturado e vendido como escravo depois de receber uma proposta de emprego em Washington. Foi lá que acordou acorrentado e sem saber onde estava. Depois de apresentar a premissa ao leitor, o autor permeia a obra com descrições detalhadas sobre as torturas que sofreu (certas passagens, como as chicotadas que serviam como punição caso houvesse desobediência por parte dos escravos, chegam a ser perturbadoras). Apesar da dor, Solomon procura deixar claro que sofreu calado. Como tinha consciência de que aquilo era um erro, um grande engano, o escravo não via motivos para se defender.

Apesar de fiel à obra cinematográfica homônima que rendeu as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Diretor a Steve McQueen no Oscar 2014 (além do merecidíssimo prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para a maravilhosa Lupita Nyong’o), 12 Anos de Escravidão nos apresenta uma narrativa quase fria de Solomon. Com certo distanciamento da própria história, ele discorre sobre atrocidades e violências sub-humanas como um simples espectador, o que se torna perfeitamente compreensível. Mesmo que se saiba sobre praticamente todos os acontecimentos da época da escravidão, especialmente no Brasil, ter em mãos um relato real e tão minucioso pode ser desconcertante e emocionalmente desgastante – e o autor sabe disso. Por isso, o uso de expressões simples e uma linguagem fluida, sem floreios, deixa clara não só a intenção do escritor de se fazer entender, mas impõe ao leitor que não se deixe acometer por sentimentalismos ligados ao personagem. Para Solomon, as páginas não contam apenas a sua história – é o retrato de uma geração injustiçada, ferida e dilacerada por um governo sem dono, sem alma.

Uma das coisas mais bacanas, em se tratando da edição da Companhia das Letras, é que o posfácio contextualiza tudo isso – a história de Solomon Northup e a escravidão norte-americana, especialmente no conservador Sul dos Estados Unidos. Detalhes como estes são essenciais para entender por que o autor passou por tanto sofrimento e como saiu mais forte do outro lado. 12 Anos de Escravidão é daqueles livros que nos presenteiam com a possibilidade de compreender a lenta evolução de uma sociedade dominada pelas pessoas erradas, e que aos poucos foi substituindo a ignorância pelo bom senso. É uma obra que se lê e sobre a qual se reflete por dias, semanas, meses. É impossível ser insensível à delicadeza das palavras de Solomon sobre um tema tão repugnante. E mais impossível ainda é se manter indiferente à capacidade humana de sobreviver.

12 Anos de Escravidão foi cedido pela Companhia das Letras ao Pipoca Musical por conta da parceria. Acompanhe as novidades da editora nos canais:
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Ficha Técnica

Título: 12 Anos de Escravidão
Autor: Solomon Northup
Editora: Penguim / Companhia das Letras
Páginas: 280
Ano: 2014 (original: 1855)
Gênero: Biografia
Compre: Site da Editora
Skoob: adicione à estante

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Comentários

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4 comentários via blog

  1. Ficou muito boa sua resenha, Camila! E é por saber desse desconforto que a história pode causar que ainda não o li. É preciso estar preparado para ler algo tão profundo e tocante. Abraço.

  2. Oh well, eu me interessei bastante por esse livro por alguns vários motivos. O primeiro deles: gosto do tema por me tirar da zona de conforto. Em segundo lugar: o livro e o filme foram confirmados como material de apoio nas escolas americanas a partir de setembro desse ano. É um período do qual eles tem vergonha e fiquei impressionada de ver que o assunto será debatido. E também achei essa edição maneira. A capa é muito significativa.

    Beijoca, queridona. Como sempre, ótimos textos :*

  3. Como não amar esse livro?
    Um dos meus “clássicos” preferidos, eu chorei, me emocionei e fiquei com o coração apertado tantas, mas tantas vezes que ele me marcou muito.
    Adorei sua resenha, agora preciso ver o filme, estou adiando por causa daquela cena da “surra”. To com medo de ver.

    Abraços!