Mamãe estava parada do lado de fora, sem olhar para ele, mas também sem olhar para o chão. (…) Ela estava cercada por dois policiais. (…) Todos pareciam muito sérios. Não era preciso ser um gênio para perceber que alguma coisa ruim tinha acontecido.
Hoje é dia de falar do livro Tormento, uma obra infantojuvenil de John Boyne, autor de O Menino do Pijama Listrado. A Companhia das Letras ainda vai lançar mais dois livros do autor este ano (O Ladrão do Tempo e Stay where you are and then leave, ainda sem título traduzido).
Tormento (adicione no Skoob) é um livro que aposta no olhar de uma criança de 12 anos para interpretar as consequências de uma crise familiar.
Danny Delaney é um garoto que está curtindo suas férias de verão numa boa. Ele anda de bike por aí, joga bola com seu vizinho e melhor amigo, Luke, e nas horas vagas sente falta do irmão mais velho, que foi fazer faculdade em outro país. No fim de mais um dia de férias, Danny chega em casa e percebe que a mãe ainda não voltou. Não deixou nenhum bilhete, não ligou, não avisou ninguém, simplesmente não apareceu. Quando ela chega, vem acompanhada de dois policiais.
– O que é que está acontecendo na sua casa?- Luke perguntou depois de um tempinho.
– Nada.
– Está sim. Conta aí.
– Nada – insisti, torcendo para ele não perguntar mais nada sobre aquilo. Ele bufou.
– Não foi isso o que ouvi dizer. – ele disse.
– E o que foi que você ouviu?
– Que a sua mãe encheu a cara, atropelou e matou alguém.
A Sra. Delaney atropelou um garotinho ao voltar para casa, e ele se machucou muito. Entrou em coma e tem poucas chances de sobreviver. Aqui começa o drama familiar: a sensação de culpa da Sra. Delaney, o afastamento e as crises de choro que a assolam dia após dia, enquanto o garoto não se recupera, o nervosismo do pai, que precisa assumir tudo sozinho. Enquanto eles lidam com a situação, Danny é colocado de lado, e todo tipo de sentimento invade o garoto. Nesse meio tempo, a irmãzinha do menino que foi atropelado aparece na casa de Danny, e ela tem um segredo para contar – algo que está intimamente ligado ao dia do acidente.
História curta e um olhar unilateral
Particularmente, gostaria de ter lido mais sobre Luke, o melhor amigo de Danny, que tem um comportamento tempestuoso por conta da ausência do pai em sua vida. Gostaria de ter conhecido melhor a Sarah, irmã do garoto que foi atropelado, e saber como ela estava lidando com tudo isso. Gostaria de saber o que aconteceu na delegacia quando as famílias se encontraram para lidar com os aspectos legais do acidente.
Falando assim, a leitura pode parecer rasa, mas considere a proposta: uma narrativa sob o ponto de vista de um garoto de 12 anos que teve sua estrutura familiar abalada por conta de um acidente que destrói a confiança e a fé da mãe, faz com que ela se afaste de todos por um tempo e mina a paciência de seu pai. A vontade dele também importa, mas ninguém parece ligar, e é por isso que o livro parece raso: Danny não se aprofunda em nada ao seu redor porque ele mesmo não consegue ver nada além da cerca do seu jardim.
– Pra mim já deu, Rachel. – papai disse. – Pra todos nós.
– Pra você já deu? Pra você já deu? Não é você que tem esse peso na consciência, Russell. Não foi você que quase matou uma criança. Não é você que precisa conviver com isso, é?
Como é um livro curto (as 88 páginas que passam voando em duas horas de dedicação), Tormento tem um final meio apressado, mas a proposta é bacana e vai agradar a quem estava com saudades da escrita do John Boyne. Fica também o elogio para a tradução do livro e adaptação do título. O original, The Dare, tem muuuuito a ver com a história, mas Tormento não fica em nada para trás.
Espero que tenham gostado da resenha a apreciem a leitura. :)
Tormento foi cedido pela Editora Seguinte ao Pipoca Musical por conta da parceria. Acompanhe as novidades da editora nos canais: Site | Facebook | Twitter
Ficha Técnica
Título: Tormento (The Dare)
Autor: John Boyne
Gênero: infantojuvenil
Páginas: 88
Editora: Seguinte
Compre agora: Submarino | Americanas
Skoob: adicione na estante
Raquel, é comum que as histórias narradas por personagens muito novos pareçam rasas. Ainda não li esse livro, mas gostei muito do Menino do Pijama, então, por ser do mesmo autor, confesso que fiquei interessada.
Como sempre, tudo lindo aqui!
Bjs
Oi Isa,
Hmmm, depende. Extraordinário não é raso. Passarinha também não. Mas esse aqui dá pra entender por conta do contexto: o Danny não está preocupado com nada ao redor dele, ele quer a mãe de volta, e por isso não se aprofunda muito. Pra quem curte John Boyne, é uma boa dica :)
Beeeijo!
Amei a resenha, e amo o filme O menino do pijama listrado e sonho em ler o livro, e parece que esse livro do autor também é muito bom, e agora entrou na minha lista de desejados.
Que bom que gostou da resenha, Dani! Espero que aprecie o livro :)
Vou muito pelo autor. Como curti o O Menino do Pijama Listrado, e outros do John Boyne, tenho certeza que vou acabar curtindo esse aí também. Com certeza está na lista dos livros para 2014!
❤️
Oi, Ana! Pois é, a escrita dele continua agradável, espero que goste do livro, flor :) Beijo! ♥
Gostei muito da resenha do livro. Com certeza vou ler (se eu ganhar, melhor ainda…rsrsrs mas não tenho Twitter então minhas chances são poucas..rsrsrs )
Não li O Menino do Pijama Listrado, mas também está na minha lista…
Seria uma ótima forma de conhecer o autor.
:)
Oi, Adriana! Com certeza esse livro é uma boa forma de conhecer o estilo do John. Espero que goste da leitura! :)
Esse homem gosta de escrever livros tristes. OMG!
Complicado, né? HAEUHAEUHEA :P
A Mari ganhou o livro, parabéns!
Oi Raquel! Gostei muito da proposta do livro, estou com um da Companhia das Letras que é bem parecido. Estou curiosa para começar a lê-lo e já sei qual livro vou procurar depois para comprar.
Adoro livros sobre dramas familiares e ainda mais quando são narrados por crianças.
Beijoca!
Anna
http://pausaparaumcafe.com.br/
Oi Anna,
São interessantes, né? Também gosto do ponto de vista infantil da história. Embora acredite que livros como Extraordinário e Passarinha tenham uma narrativa mais interessante, Tormento tem uma proposta bem básica: mostrar a crise pelos olhos de quem sempre sofre com isso – a criança. Vai agradar os fãs do autor, imagino. :)
Beijoca, flor!
Ainda não tive oportunidade de alguns livros dele, mas assisti ao filme O Menino do Pijama Listrado e chorei horrores! Fiquei muito interessada nesse livro.
Ah, eu consegui parceria com a editora Seguinte! Eles já enviaram algum email para você escolher algum livro? Até agora recebi os lançamentos e estou louca para escolher um desse autor! Hahaha
Oi Dani,
O Menino do Pijama Listrado é realmente um filme pra chorar abraçado no balde de pipoca, sempre fico de cara com a sensibilidade da história. O livro, imagino, não é diferente. Espero que goste deste aqui também.
PS: Sim, eles enviam a lista de lançamentos todo mês :) Faça bom proveito da parceria, é uma editora excelente ♥
Beeeijo!
Outro dia eu tava comentando sobre algumas escolhas que o diretor fez sobre seu filme, que foram bastante criticadas, por ser uma cinebiografia de um artista plástico. Queriam ver mais do trabalho do pintor. Mas eu fui tentar explicar que não foi esse aspecto que o diretor escolheu mostrar. Acho realmente bom ser sensível a esse tipo de coisa, perceber a proposta que nos foi dada e mergulhar nela, mesmo que possivelmente seja considerada rasa.
Vim comentar mais por causa disso. ahsuhaus É que eu fico feliz quando as pessoas percebem esse tipo de coisa, porque eu acho muito injusto com alguns autores/diretores/artistas em geral que o público queira tudo do seu próprio jeito. Não que artistas sejam imunes ao erro, mas às vezes é pura e simplesmente uma questão de escolha. A resenha ficou excelente. ^^
Oi Naíza,
Às vezes a gente tem que fechar o livro e tentar olhar pelos olhos do autor, não é? Nós, como leitores ávidos, sempre queremos mais informações, mais detalhes, mais pontos de vista, mas como a proposta era justamente essa, ele não errou. Foi uma escolha, exatamente como você disse.
Concordo com você inclusive no que tange ao aspecto de filme: é uma visão, e mesmo que a leitura ou uma obra cinematográfica possa ser interpretado como a gente bem entende, há sempre uma mensagem, um pano de fundo. Obrigada pelo seu comentário, foi muito pertinente. :)
Beijo, querida :)
Quando vi o nome do autor, já gostei do livro sem nem saber do que se tratava. Ele escreve como ninguém, histórias do ponto de vistas de crianças. É bem fininho mesmo. Fiquei mais feliz ainda quando cheguei no final e vi que ia ter sorteio dele hehehehehe
Blog Prefácio
Oi Sil!
Chegou em boa hora, viu? Hehehehe :)
Beijos!
Adorei a resenha, tinha visto um vídeo sobre esse livro no Youtube e gostei muito. Tenho muita curiosidade em conhecer a escrita desse autor, já vi o filme O menino do pijama listrado e me emocionei muito, quero muito o livro. E quero muito esse livro também, vou adicionar na minha lista do Skoob.
Beijos.
É verdade, O Menino do Pijama Listrado é bem emocionante mesmo. E tomara que você goste de Tormento, Ana! :)
Proposta muito bacana! Gosto bastante de histórias apresentadas sob a visão infantil. John Boyne parece saber conduzir muito bem esse olhar.
Recentemente, com “Para Sempre”, senti algo parecido, no que diz respeito a sentir falta de conhecer outros lados da história, mais dos outros personagens e suas vidas/escolhas. No caso de Tormento (também curti a ‘tradução’ do título!) acho que é mais compreensível, pela proposta de apresentar o impacto da situação na vida e pela interpretação de uma criança.
Me senti infantil e facilmente manipulada quando me deparei com o “e ela tem um segredo para contar – algo que está intimamente ligado ao dia do acidente.” e fiquei aflita por ter interrompido ali; por instantes não me importei com spoilers.
Dedos cruzados, quero saber do segredo!
Oi, Thamires!
Também curto muito livros narrados por criança, geralmente quando é um tema sério. Destaco Extraordinário e Passarinha, que foram duas leituras que me marcaram bastante. Não li Para Sempre ainda, mas entendi seu sentimento. É bem por aí, a gente sempre quer mais.
Agora, “facilmente manipulada” foi engraçado, hahahaa. Parei na hora certa, então. :P
Beijo!!
Desse autor eu só tive oportunidade de ler O Menino do Pijama Listrado que é maravilhoso *—* Por isso tenho curiosidade de ler esse também. Mas antes mesmo de começar já fiquei chateada de não saber mais sobre a irmã do menininho. hehe.
Beijos,K.
Girl Spoiled
http://girlspoiled.blogspot.com.br/
Pois é, faz parte da viagem, hahaha. :)
Uau, só 88 páginas, Rachel? Não parece.
É que sob a perspectiva de uma criança, como aprofundar, não é mesmo? Seria até bacana a existência de um livro sob a perspectiva de um personagem mais adulto, mas não sei se essa é a proposta do autor.
Fiquei interessada pela história, mesmo sendo rasa. Parece ser tocante justamente pelo ponto de vista frágil. Estou precisando de um drama ultimamente rs Até comentei no último vídeo.
Beijos <3
http://www.literature-se.com/
Viu? Muita história em 88 páginas, hehehehe. Eu gosto demais dessa perspectiva infantil em uma temática adulta. Um livro que resolve bem essa questão de outros pontos de vista é Extraordinário, que tem capítulos de algumas pessoas que convivem com o menino ~doente~. Mas John Boyne cumpriu o objetivo direitinho, acho que muita gente vai curtir. :)
Beijo! <3
Oi Raquel, que resenha linda e delicada. Até hoje não li nada do autor, mas morro de curiosidade. Adoro quando consegue sair do habitual e narrar uma história sob uma perspectiva diferente. E para as crianças os dramas sempre são muito mais intensos e traumatizantes. Fiquei doida pelo livro. Obrigada pela dica. Beijos, Mi
http://www.recantodami.com
Oi, Mi!
Obrigada pelo elogio, fico feliz que tenha gostado da resenha. Também gosto quando o autor dá uma perspectiva diferente, esses dramas eu gosto muito, a única coisa que fico com um pé atrás, é que tem alguns autores que tem medo de tentar um final ousado. Não que seja o caso aqui, mas acontece.
Beijo! :)
Oii, tudo bom?
Morro de curiosidade de ler O Menino do Pijama Listrado, porque é um livro muito famoso, mas sempre adio porque não tenho certeza se vou gostar. Talvez eu leia Tormento primeiro por ser pequeno e tratar de algo que eu acredito que vou me identificar mais.
A história parece bem boa, mas é uma pena que o autor não tenha se aprofundado tanto. Como você mesma disse, dá para entender já que a narrativa é feita por um menino de 12 anos, mas acho que seria mais legal ter um olhar mais amplo sobre tudo que aconteceu, né?
Adorei a resenha, muito bem escrita mesmo!!
Beijoss
Thaís – Instinto de Leitura
Oi Thaís,
Sabe que até hoje não li O Menino do Pijama Listrado por completo pelas mesmas razões que você? Tormento é menor e foi rápido de identificar o estilo do John Boyne, além do tema ser mais ~próximo~ do que poderíamos viver hoje em dia. :)
Obrigada pelo seu comentário :)))
Beijo!