Dando sequência a série de posts especiais para o aniversário de Charlie Chaplin no mês de abril (semana passada falamos de Luzes da Cidade), hoje vamos falar sobre um dos últimos filmes de Chaplin, Luzes da Ribalta, de 1952.
Luzes da Ribalta conta a história de Calvero (Chaplin), um comediante famoso que perdeu a capacidade de cativar sua audiência (um pouco do reflexo do que Chaplin vinha passando nos EUA) e já estava se entregando ao alcoolismo quando conheceu Terry (Claire Boom), uma jovem dançarina que tentou se matar.
Quando ela recobra a consciência, Calvero descobre que a jovem sempre sonhou em ser bailarina, mas uma paralisia nas pernas a impediu de realizar o sonho. Determinado a ajudá-la, Calvero descobre a força que não imaginava que ainda tinha e começa a se reerguer.
– Meu lar é o teatro.
– Pensei que você odiasse o teatro.
– Eu também odeio ver sangue, mas está nas minhas veias.
Inicialmente, Luzes da Ribalta tinha mais de 700 páginas. Chaplin tinha em mãos um verdadeiro romance, com a biografia de todos os personagens, infância e vida familiar. Depois, retomou o original e reduziu a peça consideravelmente, para poder rodá-lo em poucos dias.
O filme ganhou o Oscar de Melhor Canção Original 20 anos após o lançamento oficial. O filme não estreou nos EUA em 1952, então ficou fora da disputa. Em 1973, o filme foi lançado no país e pode concorrer na categoria ao lado de O Poderoso Chefão (que levou o prêmio de Melhor Filme naquele ano), Trama Diabólica e outros.
O nome original do filme, Limelight, significa luz de cal. No século XX, a eletricidade era pouco usada e utilizavam-se no teatro lâmpadas Drummond, projetores que tinham pastilhas de cal que eram acesas e direcionadas às vedetas (atrizes que se destacavam nas apresentações de teatro). Limelight virou então uma gíria do teatro em 1900, no sentido de uma grande publicidade.
Os EUA contra Charlie Chaplin
Chaplin fez Luzes da Ribalta em seu período mais conturbado. No livro Chaplin por ele mesmo, publicado pela Martin Claret, o autor conta que no final dos anos 40, Chaplin sofreu com os ataques da imprensa e do governo, além dos escândalos pessoais. Ele não podia contar com o apoio dos EUA para abraçar o sucesso de Luzes da Ribalta, então decidiu partir para a Europa, mas naquele verão, Chaplin precisou ficar e responder ao fisco e às autoridades da imigração.
Quando deixou tudo em ordem, Chaplin saiu de Bervely Hills com sua família. Passou alguns dias em Nova York e fez uma exibição particular deste filme, que o público o aplaudiu de pé. No entanto, nenhum cinema de Nova York quis a película. O diretor seguiu seu caminho para fazer a première de Luzes da Ribalta em Londres, enquanto um inquérito contra sua pessoa era aberto, devido a “ações antiamericanas” (algo envolvendo telegramas a Picasso, onde debatia suas opiniões sobre a expulsão de um compositor amigo).
Só deixarei de fazer filmes quando cair morto. Não creio na técnica, no passeio da câmara em volta das narinas e das orelhas das vendetas. Creio na mímica. Creio no estilo. Alguns me dizem passado de moda, outros me dizem moderno. A quem dar fé? Receio pelo nosso futuro. O nosso mundo já não é o mundo dos grandes artistas. É um mundo espumante, agitado, amargo, um mundo invadido.
A Inglaterra recebeu Chaplin de braços abertos, com uma multidão. Depois de tantos anos, os ingleses demonstravam o mesmo entusiasmo por ele como em 1921. Durante muitos dias, a imprensa inglesa tomou partido por Chaplin e publicava mensagens contra o responsável pela abertura do inquérito que, “para agir esperava que a sua vítima estivesse de costas”. Outro jornal ainda fazia uma homenagem, publicando a silhueta clássica de Carlitos, que “acabara de ser expulso de um luxuoso palacete particular, por um mordomo feroz com a cara do Tio Sam.”
Chaplin teve seu visto anulado para voltar aos EUA, então foi morar na Suíça com a sua família. Durante seu afastamento, ele fez dois filmes, e voltou para a América do Norte apenas 20 anos depois, para receber o prêmio da Academia. Chaplin morou na Suíca até o dia de sua morte, no Natal de 1977.
Fundação Cultural de Blumenau exibirá filmes de Chaplin em Abril
Como falei no post sobre Luzes da Cidade, a Fundação Cultural de Blumenau irá exibir cinco filmes de Chaplin no mês de Abril, retomando as exibições do CineArte. Na segunda-feira passada (1), assistimos Luzes da Cidade no escurinho do cinema, e ainda estão previstos na programação os filmes Luzes da Ribalta (1952), Em Busca do Ouro (1925), O Grande Ditador (1940) e O Garoto (1921) durante o mês. A programação completa você pode ver no site da Prefeitura de Blumenau.
AGENDA: 1, 8, 15, 22, 29 às 19h30
LOCAL: Cine Teatro Edith Gaertner (Rua XV de Novembro, 161, Centro)
VALOR: Gratuito
E então? Vamos lá? :)
Ficha Técnica
Título: Luzes da Ribalta (Limelight)
Diretor: Charlie Chaplin
Ano: 1952
Gênero: Drama
Duração: 137 minutos
Post escrito por: Raquel Moritz.