O Lado B desses êmes-pê-não-sei-do-quê

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“É possível que dentre o silêncio dos nossos pensamentos,
ao som do lado b que deixou de existir nesses êmes-pê-não-sei-do-quê,
pudesse se ouvir um ‘oi’ no meio de um riff clichê.”

– Dezembro de 2008


Eu deveria ter uns cinco ou seis anos na época em que comecei a me interessar pela música. Não a entender ou ter bandas favoritas, claro. Naquela época meus pais tinham muitos vinis, dos mais variados possíveis, e como eu tinha acabado de aprender a ler e inglês não era o meu forte, assim como o português, a batida e a sonoridade eram mais importantes do que o nome das bandas.

Lembro de uma vez em que azucrinei meu irmão mais velho para ele comprar um vinil do ratinho Topo Gigio, que era personagem de um programa infantil transmitido na época pela Bandeirantes. Fomos até uma loja de discos, esperamos a eternidade de alguns minutos para uma criança de cinco anos, e lembro de como fiquei desapontado quando a atendente disse que só tinha um com músicas em italiano. Saímos de lá com uma fita K7 da Turma da Mônica.

Voltando da loja, com meu irmão, a “febre” com a fita da Mônica e sua turma durou apenas alguns dias. A minha curiosidade se voltou novamente aos discos e ao fascinante processo de como o som era projetado a partir de uma agulha e um disco rodando.

– Como é que eles colocam a música nessa agulhinha, mano ?
– Não é da agulha que sai o som, é desse disco rodando aí.
– E como eu posso gravar um disco ?
– Não dá. Mas você pode gravar uma fita.

Bingo ! Eram todas as palavras necessárias para dar um “start” na imaginação de uma criança:

– Coloca a fita, aperta Pause, depois Rec, coloca a agulha na faixa do disco que quer, tira do Pause e repete o processo em toda faixa que você quiser.

Meu irmão deu início à primeira fase Rob Gordon da minha vida, onde eu gravei as mais variadas e possíveis mash ups em fitas K7.

Mas o que me fez escrever sobre essas coisas, foi a saudade do Lado B. Sim, aquele lado do vinil e do K7 que quase ninguém ouvia. Pois, fora a primeira faixa do Lado A, as músicas mais legais – na minha opinião – estavam do outro lado: “Rock Around the Clock” (Bill Haley & His Comets), “We Will Rock You” (Queen), “How Soon is Now ?” (The Smiths), “Strawberry Fields Forever” (The Beatles), “Wouldn’t It Be Nice” (The Beach Boys), “Don’t Be Cruel” (Elvis Presley) e tantas outras.

De certa forma o Lado B era romântico. Sério, pensem comigo. Você levava cerca de 30 minutos para chegar até ele e ouvir a música que você tanto gostava. Mas antes que ela terminasse, já ficava com saudades, porque levaria agora mais uns 50 minutos para ouvir ela de novo.

E 21 anos depois, ao relembrar e escrever todas essas coisas, gostaria de agradecer de alguma forma ao meu irmão e o Mauricio de Sousa por terem me ensinado a gravar os melhores “B-Sides” da minha infância.

E claro, em me tornar o maior serial killer infantil dos K7 de Milionário e José Rico, Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis e sua turma.

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1 comentário via blog

  1. “De certa forma o Lado B era romântico”. Bem legal seu texto :D