“Quan… quantos anos você tem, rapaz? (…) Quinze primaveras, não mais. Não poderiam ser mais…” Suas palavras saíram devagar, de lábios azuis num rosto pálido.
Errou por um par de anos, eu lhe diria, mas ele já não escutava mais. (…) Quinze anos! Se tivesse quinze anos não estaria devastando vilarejos. Quando chegasse aos quinze, já seria rei!
Prince of Thorns (adicione ao Skoob) é o primeiro livro da Trilogia dos Espinhos, escrita por Mark Lawrence e publicada no Brasil pela DarkSide Books (tem surpresa no final do post, mas me acompanhem). Originalmente, a trilogia se chama The Broken Empire e é composta por Prince of Thorns (2011), King of Thorns (2012) e Emperor of Thorns (2013). Sacou os nomes? :P
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Quando era pequeno, o Príncipe Honório Jorg Ancrath passeava com sua mãe e irmão quando estes dois são brutalmente assassinados a mando de outro rei. Enquanto sua mãe é estuprada e seu irmão é quebrado como um boneco, Jorg estava preso em um arbusto de roseira-brava, cujos espinhos rasgaram sua pele e chegaram até os ossos. Após uma dura recuperação (que seu pai, frio como gelo, mal acompanhou) Jorg sai de casa com um desejo incontrolável de vingar a morte da mãe. Mesmo tendo apenas 10 anos, o Príncipe lidera uma irmandade de assassinos que vaga pelas estradas do Império Destruído, e a dor lancinante daquela noite (da perda e dos espinhos) lhe dá força para conseguir o que quer.
“Memórias são coisas perigosas. Você pode revirá-las sem parar, até conhecer cada cantinho delas, mas ainda assim acaba encontrando uma aresta e se cortando.”
O livro oscila entre o presente e o passado com flashbacks bem construídos que nos ajudam a entender a ascensão e motivação de Jorg pouco a pouco. Quatro anos depois, o garoto está com 14 anos, várias almas no seu encalço e topa com um vassalo de seu pai que recebeu a missão de verificar se ele ainda estava vivo (há uma nova Rainha em Ancrath, e um novo herdeiro a caminho). Jorg decide que é hora de voltar para casa reclamar o que é seu.
O homem não nasce mau
Jorg Ancrath, nosso protagonista (e narrador) não se pauta pela idade. Violento e sem moral alguma, ele faz qualquer coisa para alcançar seus objetivos, e utiliza sua inteligência, sagacidade, oratória e charme a todo momento. Ele já matou, já saqueou, já estuprou e não busca redenção para seus pecados. Como ele mesmo diz lá pelas tantas, seu maior pecado é o orgulho, e isso é tudo o que ele tem.
Vou lhes dizer: o silêncio quase me derruba. É o silêncio que me apavora. A página em branco na qual posso escrever meus medos. Os espíritos dos mortos não têm nada a ver com isso. Aquele morto tentou me mostrar o inferno, mas não passou de uma pálida imitação do horror que sou capaz de pintar na escuridão de um momento quieto.
Eu já me decidi por detestá-lo logo no início, mas Jorg não pretende ser herói. Ele quer ser rei antes dos quinze. Ele se vê acima das fragilidades humanas, acha os demais limitados intelectualmente e moralmente, e se encarna como a própria roseira-brava, machucando e marcando tudo que tenta tocá-lo e colocando um antes e depois na vida de todo mundo que cruza seu caminho.
[LEIA+: Confira uma entrevista realizada com Mark Lawrence.]
Mark Lawrence diz que Jorg foi inspirado em Alex DeLarge, o adolescente que chocou muita gente em Laranja Mecânica (livro publicado em 1962 e adaptado para o cinema em 1971 por Kubrick). Você provavelmente vai se lembrar mais de Joffrey do que de Alex, mas de fato, a crueldade do príncipe e a rebeldia de DeLarge estão bem entrelaçadas, ainda que o protagonista da trilogia não tenha interesse em fazer críticas sociais.
“Você traz a morte, Príncipe de Ancrath”, ela disse.
Os demais personagens que fazem parte da história servem apenas como objetos decorativos, pois tudo o que sabemos deles é o que Jorg nos diz, e para Jorg eles são apenas meios de atingir um fim. Mesmo que um ou outro tenha “mais profundidade”, não é o suficiente para decorarmos seus nomes e nos envolvermos com eles.
O universo de Mark Lawrence
A Trilogia dos Espinhos parece se tratar de uma fantasia medieval (por conta dos príncipes e cavaleiros e tudo o mais), mas é nos detalhes que a gente vê um outro cenário: há várias citações ao paganismo, cristianismo e a filósofos como Nietzsche (1844-1900).
“Lúcifer falava assim. O orgulho o exilou do paraíso, ainda que se sentasse à direita de Deus. (…) No final, o orgulho é o único mal, a origem de todos os pecados.”
“Orgulho é tudo o que eu tenho.”
As limitações de tecnologia e a falta de conhecimento da massa dá a entender que a humanidade retrocedeu em algum ponto. Ao somar isso a alusões não explicadas (até porque nosso protagonista não se deu ao trabalho) a antigos “Construtores” e suas marcas, o Império Destruído parece ser um cenário pós-apocalíptico, ou algo que o valha.
[SAIBA+: Ouça o podcast especial do Matando Robôs Gigantes sobre Prince of Thorns]
O autor publicou um conto paralelo a história da trilogia, chamado Sleeping Beauty. Ele não tem o intuito de complementar nada, apenas serve como um spin-off para quem quer ler mais sobre o Império Destruído e Jorg Ancrath. Clique aqui para ler online o conto Sleeping Beauty, de Mark Lawrence.
Poucas coisas que valem a pena são fáceis de conquistar
Mesmo que eu e Jorg não tenhamos nos entendido, admito que Mark Lawrence tem um talento impressionante para descrever coisas, pessoas e sentimentos. Diversas vezes me peguei lendo e relendo algum parágrafo por ter finalmente encontrado palavras tão perfeitas para expressar um momento.
Encontrei seu olhar. Eu não tinha seus olhos azuis, puxei o lado de mamãe. Havia um inverno inteiro nos olhos dele, e nada mais. Até no olhar plácido de Sageous eu podia cavar mais fundo e encontrar um subtexto, mas os olhos de meu pai não demonstravam nada além de uma estação gélida.
Prince of Thorns foi, para mim, uma leitura repleta de caretas por conta das atitudes de Jorg. Eu superei o choque das primeiras páginas para ver até onde ele iria com aquela revolta toda. Ele foi longe e, considerando o título dos próximos livros (King of Thorns e Emperor of Thorns), Jorg Ancrath tem muito mais a trilhar.
Se eu vou acompanhar? Certamente. Não por morrer de amores ao Jorg, mas por ter curtido a forma como Mark escreve. E, como disse nosso protagonista com sede de sangue, “eu posso estar ficando sem opções, mas fugir não é uma opção”.
[LEIA+: Leia os primeiros capítulos de Prince of Thorns no site da DarkSide Books]
Se você não se importa em ter um garoto tão cruel como protagonista, em uma história com assassinatos, vinganças, misticismo e reviravoltas, convido você a ler Prince of Thorns. E que venham os próximos títulos.
É o que eu sou. Se você quer desculpas, venha buscá-las.
Curiosidade: Mark Lawrence está planejando outra trilogia, chamada The Red Queen’s War, que irá se passar no mesmo cenário e período de tempo, porém com personagens diferentes. O primeiro livro será publicado em junho de 2014 sob o título Prince of Fools.
Prince of Thorns foi cedido pela DarkSide Books ao Pipoca Musical por conta da parceria. Eu super recomendo que você acompanhe as novidades da editora nos canais: Site | Facebook | Twitter | YouTube | Tumblr
Ficha Técnica
Título: Prince of Thorns
Autor: Mark Lawrence
Ano: 2013 (original: 2011)
Gênero: Fantasia, Guerra
Editora: DarkSide Books
Páginas: 360
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