Filhos do Éden #2 – Anjos da Morte, de Eduardo Spohr

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– Levih lhe contou que sou um anjo da morte? – A pergunta era mais como uma confissão. – Sabe que eu voltarei a matar?
– O que você é ou o que faz não é de minha conta. Não serei eu a julgá-lo, tampouco. – E as próximas palavras saíram cordiais, sem condenação alguma. – Mas saiba, Denyel, que todo o sangue que derramar voltará para você.

Anjos da Morte é o segundo livro da trilogia de fantasia histórica Filhos do Éden, escrita pelo carioca Eduardo Spohr. O primeiro livro, Herdeiros de Atlântida, já foi ótimo, mas Anjos da Morte está impecável.

O tecido da realidade, a membrana que separa o mundo físico do etéreo, engrossou por conta do avanço da tecnologia, das indústrias e da poluição, afastando o ser humano do seu lado espiritual e impossibilitando que os Malakins, a casta mais próxima de Deus, consiga enxergar os humanos afim de estudá-los. Então eles criaram um grupo de anjos que são enviados à terra para acompanhar e reportar as guerras, os Anjos da Morte.

[LEIA+: Leia a resenha do livro Filhos do Éden #1 – Herdeiros de Atlântida.]

É aqui que entra Denyel, já apresentado no livro Herdeiros de Atlântida. O anti-herói, sarcástico, cínico e descrente de qualquer ajuda que não provenha dele mesmo, tem sua personalidade destrinchada aqui.

A missão dele é se passar por humano na Terra e participar das guerras do Século XX sem, no entanto, interferir no curso delas. Mesmo sendo um soldado acima da média, Denyel não pode receber nenhuma condecoração, nem se destacar de alguma forma.

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Nessas condições, parecia impraticável continuar, até que ocorreu um fenômeno notável, que Denyel jamais esqueceria. De todas as características humanas, ele refletiu ao focalizar uma bala traçante, talvez a mais estupenda seja a capacidade de se adaptar, de se moldar, física e mentalmente, às situações mais adversas. Passadas duas horas de pura carnificina, os sobreviventes, agachados junto aos cadáveres, começaram a se acostumar ao perigo. O choque que os paralisara no início aos poucos se transmutava em uma coragem instintiva. Os combatentes que ainda resistiam foram tomados por uma espécie de embriaguez, por uma vontade absurda de sobreviver, não importava a que custo.

O livro começa já no Dia D, um capítulo intenso sobre a maior invasão militar da história da humanidade, que aconteceu em 06 de junho de 1944. E o ritmo insano dessas primeiras páginas – que já te fisga de vez, não tem volta – segue por todo o livro, até a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989.

[SAIBA+: Ouça o Nerdcast #362 sobre Anjos da Morte.]

Melhor que muito livro de história, Anjos da Morte aborda sim o contexto das guerras, mas se preocupa mais em contar a experiência do soldado pelos olhos de Denyel. Dotado de uma força desumana, o querubim obviamente se destaca de um jeito ou de outro e faz parte de times táticos já planejados pelo seu amo, Sólon (um dos Sete Malakins). Ele vê as mortes, as tragédias, as aniquilações, e ele próprio sofre algumas perdas ao longo do caminho. Esses capítulos são tão emocionantes, tão intensos, que deixa não apenas Denyel fragilizado, mas nós, leitores.

Quando Denyel termina seu trabalho nas guerras, reportando tudo a Sólon, ele é intimado a realizar missões extras para o Malakin, para derrubar uma teia corrupta que age na terra. Aqui começa a ruptura da honra de Denyel – de anjo guerreiro a mercenário.


Passado e presente na mesma obra

Anjos da Morte é, essencialmente, um livro sobre Denyel. Ainda assim, temos capítulos com a ishin Kaira, o querubim Urakin e o hashmalin Ismael (um executor fiel a Gabriel, inserido nesse volume) intermediando a história.

Esses capítulos intercalados conduzem a história pra frente e fazem com que Anjos da Morte seja realmente parte da trilogia, e não um spin-off. Kaira conta com a ajuda de Urakin e Ismael para encontrar Egnias, outra fortaleza perdida que pode ter uma passagem para localizar Denyel, que se separou deles na missão em Athea, no último volume. A busca vai contra as ordens de Gabriel, algo que coloca o trio em perigo constantemente.

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– Lembranças são como monstros numa caverna. – garantiu Ismael, com a sagacidade de quem conhecia o assunto. – Ou você os derrota, ou termina em pedaços.

Essa troca de tempos na história é bem interessante e funcionou bem com Anjos da Morte, pois havia conexão – em diversos pontos e personagens – entre as aventuras de Denyel e as descobertas do trio.

Anjos da Morte é o melhor livro escrito por Eduardo Spohr até agora. “Ah, Raquel, mas é lógico, é o último livro do cara.” Não, não é lógico. Quantos autores de um sucesso só a gente conhece? Quantos ‘o primeiro livro é bem melhor’ a gente já falou? À medida que eu ia avançando as páginas e registrando essa montanha russa no Skoob, comentava o quanto determinados capítulos despedaçavam meu coração (é esse o termo mesmo, quem leu vai me entender). Até recebi um recado de uma pessoa que disse estar cogitando ler o livro por conta dos comentários que eu ia fazendo, hehehe.

[SAIBA+: Ouça o RenegadosCast #43 sobre a saga Filhos do Éden.]

Eu já estava bem satisfeita com Herdeiros de Atlântida, tanto com a estrutura da história quanto com a maturidade da escrita. Mas devo dizer que Anjos da Morte supera 100% o livro anterior. Além disso, ainda tem um dinamismo latente em cada virada de página, porque os capítulos são curtos e os diálogos são objetivos, salvo os momentos que realmente precisam de explicação.


Pesquisa histórica

Eduardo Spohr fez pesquisas em livros e visitou diferentes países (que delícia!) para poder sentir os lugares, conversar com as pessoas e ver de verdade como é tocar em determinados assuntos (como guerra e nazismo, pra exemplificar) com uma cultura específica.

Fascinado pela guerra (não como algo bom, mas algo que leva as pessoas a seus extremos), Eduardo faz questão de frisar que este não é um livro de história, e sim uma fantasia histórica. O esforço do Hitler de querer provar a superioridade dos arianos, e arranjar alguma forma de dizer cientificamente que eram descendentes dos atlantes também entra aqui, por exemplo, mas com detalhes mais fantasiosos sobre a sociedade Thule do que se tem prova. Esse misticismo presente na Segunda Guerra está atrelado à Anjos da Morte em diversos pontos.

Recomendo assistir a entrevista com Eduardo Spohr realizada em agosto de 2012 pela Globo News. A Editora Verus também publicou alguns vídeos para o lançamento de Anjos da Morte em abril de 2013, que ficaram bem legais.


Os extras de Anjos da Morte

Adoro extras em livros, e Anjos da Morte trouxe duas novidades. A mais legal delas é uma playlist recomendada para ouvir enquanto lê determinadas cenas ou capítulos. Funciona super bem e você mergulha na história com mais um dos seus sentidos.

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– Deixe essa luta comigo, sargento. – o anjo pediu, com a água pelos joelhos, sacando duas pistolas Colt. – Posso dar cabo deles.
– Também posso – Craig não daria o braço a torcer. – Já enfrentei coisa pior.
– Claro que já. – Denyel pensou num jeito de convencê-lo. – Faça por mim, então. Gostaria de retribuir por ter salvado a minha vida na Bélgica.
– Chega de papo-furado. Pensa que me enrola com essa cara de peixe morto? – As hélices do Huey começaram a girar. – Se quer retribuir, pode começar me poupando dessa lenga-lenga. Sou o mesmo de sempre, com alguns pelos brancos, apenas, e um tumor gigante no peito.

Outras coisa bacana foram os mapas, inseridos em determinados capítulos, para que a gente possa se localizar geograficamente e entender o avanço dos soldados na história.

O livro também conta com notas históricas comentando as inspirações para a criação de determinados lugares, as informações de batalhas e em quais pontos devemos separar realidade de ficção para curtir a história como a fantasia que é.

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Últimas considerações:

– Capítulo 14, 48 e 72 me levou às lágrimas. Poxa vida, Dudu!
– A Kaira não é tola. Ela com certeza terá um papel bem mais forte no próximo livro.
– Eu quase fui com a cara da Yaga, mas como bem disse o Denyel: “nada é de graça”.
– Quem é fã de A Batalha do Apocalipse vai curtir os extras deste volume.
– O capítulo da queda do Muro de Berlim, aliado com o diálogo que foi escrito, deixou a cena duplamente significativa. Gostei.
– A guerra entre Miguel e Gabriel não é deixada de lado, fique tranquilo. Por sinal, coisas bem interessantes acontecem.
– Eu estava ansiosa pra descobrir o motivo das farpas entre Urakin e Denyel, algo mencionado constantemente no primeiro livro, mas o capítulo dedicado a isso não me deu subsídios pra compreender 100%.
– Se você é um fanático religioso, vai ter que aprender a abrir a mente pra essa história. Isso não vale só para Anjos da Morte, mas para todos os livros do Spohr publicados até então.

E aí, curtiu? Eu adorei, e espero ansiosamente o lançamento de O Paraíso Perdido, terceiro e último volume da série Filhos do Éden. ♥

Ficha Técnica

Título: Filhos do Éden #2 – Anjos da Morte
Autor: Eduardo Spohr
Série: Filhos do Éden
Ano: 2013
Editora: Editora Verus
Páginas: 586
Gênero: Fantasia, Literatura Nacional