Como o azul se tornou uma cor quente para Clémentine

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E pouco a pouco eu entendi que os caminhos para amar são múltiplos. Não se escolhe quem a gente vai amar (…)

Azul é a Cor Mais Quente (adicione ao Skoob) é uma graphic novel escrita pela francesa Julie Maroh, que aborda o relacionamento de Emma e Clémentine.

Preciso dizer que já comecei o quadrinho de coração partido e sentindo a distância entre o original e o filme que se inspirou na obra. Infinitamente melhor que o filme de Abdellatif Kechiche, essa graphic novel é uma história doce, sincera e apaixonante sobre um relacionamento entre duas garotas – uma delas com um medo infinito de assumir o que sente, a outra firme e orgulhosa de sua escolha.

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Eu me sinto perdida, sozinha, no fundo de um abismo. Não sei o que fazer, e tenho a impressão de que tudo o que eu faço nesse momento é antinatural. Contra a minha natureza.

A forma como a narrativa segue, primeiro com as palavras de Clémentine, depois com as palavras de Emma e então com os diários da adolescência de Clém formam uma história tão singela e doce, e constróem personagens tão apaixonantes, que é difícil você largar a história e entender as razões que levam alguém a discriminar duas pessoas do mesmo sexo que se amam. É um amor tão puro.

Quando Clém conhece Emma, ela está no ensino médio e precisa entender o que está acontecendo com ela. Os desejos da sua idade, tão naturais, são encarados com repulsa pela própria Clém que ainda não sabe como aceitar isso. O preconceito, o medo de estar errada, a insegurança de uma relação que lhe pede para arriscar a própria família para poder ficar com alguém. Tudo em nome do amor.

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Azul-escuro, azul-celeste, azul-marinho, azul Klein, azul ciano, azul ultramarino… O azul se tornou uma cor quente. Eu te amo, Emma, você é a razão da minha vida.

A evolução da personagem talvez não seja tão grande assim. Emma mudou mais do que Clémentine, talvez pela segurança e confiança que ela tem em si mesma, diferente da companheira. Ainda assim, essa não é a história de Clémentine, é a história de como duas estranhas se conheceram e serviram de peça no complicado quebra-cabeça que é o amor. <3 Adorei essa graphic novel. O traço delicado, os diálogos intensos, os detalhes da mudança de tons quando Clémentine está feliz ou triste, a forma como o azul se torna uma cor quente na vida da nossa personagem... tudo contribui na experiência de leitura. E o leitor fica com o coração na mão e aquela sensação de que todo o tempo do mundo ainda não é suficiente para estar com quem a gente ama e, mais do que isso, para se amar do jeito que se é. Livre de preconceitos. azul é a cor mais quente hq, julie maroh, hq romance gls, pipoca musical

O filme de Abdellatif Kechiche

Embora eu não tenha curtido, acho que é bom falar do filme aqui. Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2, 2013) não adapta a HQ de Julie Maroh (até o fim, o diretor nem ao menos sabia se seguiria o desfecho da história original), mas tem inspiração no cerne da HQ: um encontro do acaso que muda a vida de duas garotas. O filme mostra um período da vida de Adèle (Adèle Exarchopoulos), os erros e acertos da adolescente, seu amadurecimento e as experiências dela com Emma (Léa Seydoux), a garota de cabelos azuis por quem ela se apaixona. O diretor substituiu o nome de Clémentine por Adèle por achar que soaria mais natural, além de significar “justiça” em árabe.

Em entrevista, Kechiche diz que foi acusado de lançar um olhar masculino sobre o amor entre duas mulheres, mas que acha que o problema é que “algumas feministas acham que homens não têm o direito de falar sobre o amor de duas mulheres”. Particularmente, achei o filme arrastado (três intermináveis horas) e apoiado mais no sexo do que no amor sincero entre as duas meninas.

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Se tem uma coisa interessante no filme, é o uso das cores como signos. O Azul representa a sexualidade da Adèle da mesma forma que o Laranja representa a morte em O Poderoso Chefão. Desde a cor dos cabelos de Emma, que chamam a atenção de Adèle na rua e mexem com ela a ponto de ter sonhos mais íntimos mesmo sem saber o nome da estranha, até a cor das unhas da primeira garota que beija Adèle no colégio, o Azul está sempre lá. No começo é tímido, mas depois que as duas começam seu romance, ele está em todo lugar. Se você já viu o filme, pode clicar aqui pra ler uns spoilerzitos.

Espero que tenham gostado da resenha de hoje. Se você já viu o filme (e não gostou), ignore e busque a graphic novel. Se você não viu o filme, vai direto pra livraria. Se você já leu a história original de Julie Maroh ou se interessou por ela, deixe seu comentário. E viva o amor. <3

Ficha Técnica

Título: Azul é a Cor Mais Quente
Autora: Julie Maroh
Ano: 2013 (original: 2010)
Gênero: HQ, Romance
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 160
Compre: Amazon
Skoob: adicione na sua estante

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Comentários

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22 comentários via blog

  1. Diego comentou em

    OH MEU DEUS! Essa HQ é tão linda, tão pura e tãão verdadeira <333

    Concordo e dou RT em tudo que você escreveu! hahahaha
    Adorei o lance das cores com referência de O Poderoso Chefão :)
    E gente eu ainda preciso ver o filme :$

    Beijos meu bemmm :)

    1. Pois é, se o filme fosse MASSA eu ia insistir pra tu ver logo, mas sinceramente acho que vc não tá perdendo muito. Mesmo assim, sei que a gente não sossega enquanto não confere o filme ~daquele~ livro legal. :-))))

      Beijoquita <3 Obrigada pelo empréstimo!

  2. Isabela comentou em

    Pipoquinha, ainda não vi nem o filme acredita? Adoro histórias com temas relevantes, que mostram o amor e a evolução do sentimento sem se amparar em preconceitos bobos.

    Li uma resenha no Visconde e fiquei bem curiosa pela HQ, eu adoro esse estilo. Preciso organizar meu tempo para conseguir ler essas opções diferentes e inteligentes.

    Bjs, Isa.

    1. Ooi Isa! O Visconde me emprestou a HQ logo depois que li a resenha, é muito bonita, vale a pena separar um tempinho pra ela ♥. Espero que você goste da forma como a autora escreveu a história. O filme em si não recomendo, mas como falei pro Diego no comentário aí em cima, quando a gente lê um livro e sabe que tem uma adaptação, a gente sempre vê, hehehe.

      Beijoca!

  3. Então acho que já vou direto para a livraria. Adorei a resenha! :)

  4. Renata comentou em

    Tá de sacanagem que o laranja (ou a laranja) representa a morte no podeoso chefão? srsrsrs….eu nunca tinha reparado! kkkkkk

    1. Juuura? Não é ~só~ a cor laranja, mas a fruta em si. Laranja = morte, hehehehe. Bjss!

  5. Juliet comentou em

    Eu não acho o filme todo ruim, acho ele muito hypezado por essa nova moda (leia-se: ser gay, mas não quero entrar nesse eterno mimimi sobre opção sexual) e realmente homem é muito pretensioso quando faz filme que tenha uma tematica lesbica. é fato que vai ter uma louca cena apelativa e tals, é a natureza do homem e isso gera audiencia (The L Word passou por isso quando era exibida na tv norte americana).

    Enfim, fiquei politizada demais agora e queria dizer que eu tenho tanta vontade de ler essa HQ, muita mesmo, mas de tudo que eu já li eu sei que vou me entristecer demais com a vida, o universo e tudo o mais do amor. Sou uma frustrada e isso é fato.. hahahahahahah

    E acho tão legal esse lance das cores, seja ela no filme ou no Poderoso Chefão (que pra mim não mudou minha vida cinematográfica….mamilos).

    Preciso me corromper e ter essa HQ sim.

    1. Pois é, certamente o filme ficou no hype, Juliet. A HQ é mais romântica, mais intensa e mais divertida até. Espero que vc possa ler em breve, achei muito bacana. :’)

      Gosto bastante de O Poderoso Chefão, além de ter uma grande história, sempre vi com minha família. :) Eu curto. Não tem graça fazer polêmica de cinema ou literatura comigo, hahahahhaha, eu geralmente me pauto na premissa de que gosto é gosto. :P

      Beeeeijo! (Juliet-Polêmica)

  6. Acho muito bom que os quadrinhos internacionais, além dos americanos, estejam ganhando mais espaço no gosto do público e das editoras. Tem vários quadrinistas franceses da internet que gosto muito.

    Eu quero poder conferir essa história o mais logo possível, tanto o livro, quanto o filme. Gosto quando existem histórias que saem um pouco da tangente do comum, mesmo que seja um pouquinho, ou que sejam clichés.

    Espero poder também ver opiniões de alguns quadrinhos nacionais aqui, já que eles também estão crescendo comercialmente. :]

    1. Oi Nic!

      A ideia é crescer a seção de quadrinhos do site, eu também gosto muito! Prefiro HQs únicas, com início, meio e fim, do que as histórias da Marvel e DC por exemplo, e é essa linha que quero investir tempo. :D

      Se tiver algumas dicas aí pra compartilhar, vou adorar conferir!

      Bjs ♥

      1. Bom, de HQs nacionais eu conheço várias. Li quase nenhuma delas, infelizmente, mas pelo que já vi críticas boas, e também do que conheço do trabalho dos autores, acho importante recomendar sim.

        Tem os quadrinhos do selo MSP da Turma da Mônica, onde diversos artistas f*das já fizeram sua própria visão dos personagens, do Chico Bento, Astronauta, Piteco, e da própria turminha. E já tá vindo também uma segunda leva de histórias de outros artistas.

        Também tem as tirinha do Valente, feitas pelo Vitor Cafaggi, que também trabalho com a irmã dele, Lu Cafaggi, na graphic novel Laços, pelo selo MSP que falei.

        Outra é o Daytripper, do irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, que quero muito ler. Sou fã das série de tirinhas deles chamada Quase Nada.

        E outra obra que sou muito fã é o Toscomics, da Samanta Flôor. É uma série de tirinhas auto-biografias que acho genial.

        1. Oooopa!

          A Coleção MSP eu sou fã, falei de Pavor Espaciar aqui uma vez, e li Laços, mas ainda não coloquei no blog. O Vitor manda bem pra caramba, e o traço da irmã dele é a coisamaislindinhadessemundo. ♥ E meu namorado leu Valente e se apaixonou, acho que logo vem resenha por aqui. \o/

          E, claro, Daytripper é um destaque no mercado nacional, já ganhou alguns prêmios, até. Vi uma entrevista com o Fábio Moon e o Gabriel Bá sobre a infância deles, achei bem maneiro. O Quase Nada eu não conhecia, vou procurar.

          Beeeijo, obrigada pelas dicas! \o/

  7. Ju comentou em

    Eu li a HQ antes de ver o filme e, devo admitir, que quando o vi pareceu mais verdadeiro o original. Apesar de ter adorado o fim na adaptação, Adèle parece perdida e como se não tivesse amadurecido, de qualquer forma, as duas artes me comovem. Eu amo a simbologia da história, como o azul está presente quando o amor por Emma está lá.
    Não leio muitas HQs, mas ter lido essa foi uma boa, os desenhos sinceros e a cor sob medida, tudo isso é muito lindo. Tudo isso precisa ser lido mesmo.
    Eu sempre amo suas resenhas (e fotos!)!

    1. Oi Ju!

      Gostei da simbologia também, especialmente do final do filme, mas concordamos que a HQ é amor. <3

      Eu gosto bastante de HQs, mas prefiro estas "únicas", do que séries como as publicadas pela Marvel e DC, por exemplo (mas adoro os filmes <3).

      E fico feliz de receber um elogio tão legal. Brigadão mesmo *____* Bjs!

  8. Passeando pelo site vi uma resenha de um quadrinho pela Sra Pipoca, não podia deixar de ler não é mesmo? rsrs
    Bem eu ainda não li (na verdade li um pedaço na livraria rs) essa Graphic Novel, então não posso falar muito, mas o pouco que vi já me faz crer que é muito superior ao filme, apesar de eu ter gostado do filme, acho que ele realmente leva mais pro lado da atração física, quando que a hq vai por um lado mais profundo, como eu li somente o começo posso concordar contigo que de cara vc já percebe que não tem muito a ver com o filme, sem dar Spoiler pra quem gosta de ler os comentários, mas só a forma que a narrativa começa, e como é apresentada a história, e os personagens, é mesmo outra pegada!
    Ainda quero ler ela direito, assim que possível vou adquirir =)
    Até mais, bjss

    1. Realmente, Brubs, o começo já muda tudo, hohoho. É uma HQ lindinha sim, gostei muito. E vc lembra como eu tava frustrada com o filme, né? Hahahahhaa

      Pois é, me arrisquei aqui nos quadrinhos. Gosto dessas histórias de um volume só. :D

      Bjo pra tu!

  9. Estou muito afim de ler esse HQ. Eu tinha visto alguns comentários sobre o filme, mas nenhum tinha dito que não parecia com a história em que se baseou (não assisti o filme também). Parece ser uma história linda.
    Beijos

    1. É uma história doce e linda, espero que você goste. <3 Me conta depois! Bjs :)

  10. Ítalo Costa comentou em

    Eu assisti ao filme e achei muito bom, mesmo, então eu imaginei: “Se o filme é bom, talvez o quadrinho seja melhor ainda”. Uma amiga minha também leu o quadrinho e adorou. O traço é muito bonito, a escrita, bem poético, tudo muito azul…

    1. Achei mega fofinha a Graphic Novel. Valeu cada minuto da leitura :)