Quando eu tinha 21 anos e contraí esclerose lateral amiotrófica, achei muito injusto. Por que aquilo tinha que acontecer comigo? Na época, pensei que minha vida tivesse terminado e que nunca concretizaria o potencial que acreditava possuir. Mas hoje, cinquenta anos depois, estou bastante satisfeito com a minha vida.

“Se você entende como o universo funciona, de certa forma pode controlá-lo”, afirma Stephen Hawking, uma das figuras mais populares da ciência atualmente. O físico teórico e cosmólogo britânico conseguiu explicar os mistérios do universo para leigos em suas obras, em particular Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros.

Nascido no aniversário de 300 anos da morte de Galileu (embora ele calcule “que cerca de 200 mil outros bebês também nasceram naquele dia” e não sabe se “algum deles posteriormente se interessou por astronomia”), Hawking é um dos mais consagrados cientistas da atualidade, e também portador da esclerose lateral amiotrófica (uma doença atípica degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem atingir as funções cerebrais) desde os 21 anos de idade.

Minha Breve História (adicione ao Skoob) é uma autobiografia curta, escrita de forma simples e objetiva pelo próprio cientista com a ajuda de um software que reconhece os movimentos do rosto, escolhendo cada letra em uma tela, escrevendo cada palavra pacientemente.

Em meu último ano em Oxford, notei que estava ficando mais desajeitado. (…) No Natal, quando fui patinar no lago em St. Albans, caí e não consegui me levantar. Minha mãe percebeu esses problemas e me levou ao médico da família. (…) Pouco depois de completar 21 anos, fui para o hospital fazer exames. (…) Depois de tudo isso, não disseram o que eu tinha, apenas informaram que não era esclerose múltipla e que eu era um caso atípico.

Separado por capítulos breves, a história de Hawking é narrada com sinceridade e certo humor. Confesso que gostaria de saber mais sobre a vida pessoal dele – parte do livro é destinada a explicar o processo de descoberta das teorias que o consagraram -, mas ainda que de forma superficial, pudemos ver um outro lado do cientista: seus desafios no colégio (apesar de bom aluno, ele não era considerado excepcional), a descoberta da doença aos 21 anos, seu primeiro casamento e como a ideia da morte prematura estragou tudo entre ele e a esposa, seu desenvolvimento intelectual, etc.

Esse paradoxo tinha sido debatido por trinta anos sem muito progresso, até que eu descobri o que acho ser a solução. É como queimar uma enciclopédia: a informação contida na enciclopédia tecnicamente não se perde caso a fumaça e as cinzas sejam guardadas, mas é muito difícil de ser lida. Na realidade, eu e Kip Thorne fizemos uma aposta com John Preskill sobre o paradoxo da informação. Quando John ganhou a aposta, dei para ele uma enciclopédia de beisebol, mas talvez devesse ter dado apenas as cinzas.

Minha Breve História abre uma janelinha muuuito pequena para o universo pessoal de Hawking, mas não posso deixar de admirar a obra pela vida que ele teve e pelo esforço em publicar algo tão íntimo. Talvez você nem dê bola, mas pense em quantas desculpas arranjamos para não fazer o que queremos, e agora compare com tudo o que esse homem já fez lá da cadeira de rodas dele.

O que quero dizer é que a mente é algo realmente poderoso. Nosso corpo é só uma ferramenta. Foi o cérebro dele, intocado pela doença, que fez a diferença.

Exibíamos um ar de tédio completo e a ideia de que não valia a pena fazer esforço para nada. Uma das consequências de minha doença foi mudar toda essa visão. Quando você se depara com a possibilidade de uma morte precoce, percebe que a vida vale a pena e que há muitas coisas que você deseja fazer.

Também queria dizer que achei o título da biografia bem genial, visto que a obra mais famosa de Hawking chama-se Uma Breve História do Tempo. Aliás, originalmente, este livro de 1988 se chamaria Do Big Bang aos buracos negros: uma curta história do tempo, mas seu editor inverteu o título e subtítulo e trocou “curta” por “breve”. Na opinião de Hawking, foi uma jogada de mestre e, depois dele, apareceram muitas “breves histórias” disso ou aquilo. “A imitação é a forma mais sincera de elogio”, ele diz. :)

Em linhas gerais, Minha Breve História é uma biografia bem objetiva, mas traz algumas lições de superação escritas por um cara que provou que um cérebro saudável é mais poderoso do que qualquer outra coisa.

Alguém já leu algo do Hawking? Ou se interessa pelo tema? Deixe seu comentário :)

Ficha Técnica

Título: Minha Breve História
Autor: Stephen Hawking
Gênero: Biografia
Editora: Intrínseca
Páginas: 144
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