“Sabe o que um daqueles caras que trabalham no drive-thru do Starbucks tem tatuado no antebraço?”, perguntou Bernadette. “Um clipe de papel! Antigamente, era tão ousado fazer uma tatuagem, mas hoje em dia as pessoas estão tatuando suprimentos de escritório no corpo. Sabe o que eu acho disso?” Claro que era uma pergunta retórica. “Acho que ousado é não ter uma tatuagem.”
Responda rápido: quantas vezes você desejou que um personagem literário ganhasse vida? Seja pelos atributos físicos, intelectuais ou quaisquer motivos que os tornam cativantes, os seres criados por nossos autores favoritos têm o péssimo hábito de, sem que percebamos, conquistar nossos coraçõezinhos sedentos por ficção e deixar um vazio inconcebível quando vão embora. É o caso de Bernadette Fox.
Quando comecei a ler o ótimo Cadê Você, Bernadette? (adicione ao Skoob), de Maria Semple (roteirista de séries televisivas como Mad About You e Arrested Development), mal sabia eu que este se tornaria um dos livros mais fascinantes da minha lista de 2013. E o motivo é simples: num estalar de dedos, eu me apaixonei perdidamente pela personagem principal e desejei com todas as forças que ela fosse real, se tornasse minha melhor amiga e compartilhasse suas esquisitices comigo. (Esta é a parte em que você deveria questionar a minha sanidade. Mas, pela preservação da reputação impecável Pipoca Musical, vamos fingir que eu não tenho fantasias com pessoas que não existem.)
Sim, eu arrastei minha carcaça imprestável até um analista. Eu fui num cara aqui, o melhor de Seattle. Levei cerca de três sessões para mastigar o pobre-diabo inteirinho e depois cuspi-lo fora. Ele se sentiu terrivelmente mal por ter fracassado comigo. “Desculpe”, ele disse, “mas os psiquiatras daqui não são muito bons.”
Cadê Você, Bernadette? nos apresenta a história de Bee, uma menina que acaba de concluir os estudos e, como presente de formatura, pede aos pais que a acompanhem a uma viagem à Antártida. No desenrolar da trama – escrita principalmente em forma de e-mails, cartinhas e bilhetes – conhecemos também Elgin, pai de Bee, um programador da Microsoft que se tornou uma espécie de rockstar no mundo nerd depois de ter dado a quarta palestra mais vista no TED.
A cereja no bolo de um “elenco” perfeito é Bernadette, que não suporta a vida na pacata Seattle e está à beira de um ataque de nervos. Poucos dias antes da aguardada viagem às terras geladas, a mãe de Bee desaparece misteriosamente. Dali em diante, Bee faz de tudo para encontrar a mãe e descobrir o que exatamente fez com que ela perdesse as estribeiras.
Confesso que estranhei muito o formato narratológico da obra. Afinal, por que diabos a autora optaria por uma construção totalmente fora dos padrões, pouco estruturada e, convenhamos, deveras confusa? Só fui gostar de verdade do livro sessenta páginas à frente, quando me acostumei com o estilo da narrativa e consegui me localizar em meio a tantos personagens secundários. Depois de ser irremediavelmente conquistada por Bernadette e sua personalidade sarcástica + ácida + hilária + oi-eu-sou-a-mãe-mais-legal-do-mundo, terminei o livro em um preguiçoso fim de semana. E garanto: relutei a cada virada de página. No fim das contas, dizer adeus a Bernadette Fox não seria tão fácil assim.
Um dos pontos mais ricos da obra é a tentativa da autora de entender o que se passa na cabeça de cada um dos três pilares que seguram a história: Bee, Elgin e Bernadette. Por fora, eles parecem a família perfeita (mesmo que Bernadette seja excêntrica, meio antissocial e potencialmente louca aos olhos dos vizinhos), mas, à luz do dia, vemos a luta diária de uma mãe, um pai e uma filha para permanecerem sãos no olho do furacão que é o convívio alheio.
As reflexões de Bee em momento algum competem com as conclusões de Bernadette sobre a vida e as pessoas, mas complementam a mentalidade de ambas sobre um tema que amarra o drama: as mudanças que acontecem conosco pouco a pouco, sem que notemos. E mais do que isso, Bernadette nos mostra que mudar nem sempre é ruim; que devemos fazer paz com o nosso “novo eu” antes de sair por aí bombardeando uma personalidade recém-criada em quem nos conhecia de outra forma.
Num contexto geral, Cadê Você, Bernadette? é uma lição para quem não sabe ao certo o que quer da vida (ou que se sente desconfortável demais com esse tipo de questionamento). Bernadette nos desafia a sair da caixinha e rir do ridículo – pelo simples fato de ser ridículo, para início de conversa. Se você se flagrar escrevendo um e-mail cheio de divagações e detalhes exagerados num ritmo ultra-acelerado para um completo estranho, não se preocupe: é apenas o Efeito Bernadette tomando conta do seu ser.
Cadê Você, Bernadette? foi cedido pela Companhia das Letras ao Pipoca Musical por conta da parceria. Acompanhe as novidades da editora nos canais: Site | Facebook | Twitter
Ficha Técnica
Título: Cadê Você, Bernadette?
Autor: Maria Semple
Ano: 2013 (original: 2012)
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 376
Skoob: adicione o livro na sua estante
Oii, Camila :P
Adorei demais tua resenha. Eu já tinha visto outras por aí, mas tu me fez ter vontade de ler esse livro hoje mesmo. Natal chegando, já vai pra lista de pedidos hahahaha
Gosto de livros que mexem com nossa maneira de pensar sobre coisas simples da vida e dar risada x)
Adorei as quotes escolhidas, principalmente a que fala da tatuagem, incrível!
Ah, eu A-M-E-I o seu perfil do Pipoca, principalmente o fato de ter Like a Virgin hahahahaha :B
Beijos, Diego.
http://aculpaedovisconde.blogspot.com.br/
Dieguito, que bom que gostou! :)
Bernadette foi uma das lindas surpresas de 2013. Super recomendo, como podes perceber na resenha!
Aaaah, e obrigada pelo perfil. Não foi tanto pelo Like a Virgin quanto por Cães de Aluguel, mas tá valendo! Hahaha.
Beijão!
Camila,
amoooo esse livro e essa super capa!!! <3 !!!
Os vários gêneros literários do livro são muito loucos cara!! Mas até isso a Maria Semple explica pra gente, fazia tempo que ñ lia um livro em que a história é toda "fechadinha" não fica nenhuma ponta solta!!! Incrível!!! =D
Amo e me identifico um pouco com a Bernadette…sem falar na fofura da Bee '-'
Dei boas risadas com essa doida e recomendo pacas a leitura!!!
Parabéns Camilla e Raquelzita fotos MARAVILHOSAS (novidade nenhuma)
:P Beijoooooooooooo
Yaaaay, Fabiana!
Também adorei o estilo narrativo da autora. Ela é muito fera! :D
Que bom que curtiu a resenha e obrigada pelos elogios. Beijão!
Sou louca com esse livro! Me apaixonei pela Bernadette também! (Quem não?)
Amei ele de paixao, lindo lindo lindo!
Também adorei a resenha! :)
Beijos,
Carol
http://palavrasaleatorias.blogspot.com.br/