Django em Blumenau, Jamie Foxx e Tarantino

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Eu adoro o Quentin Tarantino, é verdade. Muita gente sabe disso, porque não escondo meu favoritismo com esse cinéfilo que cresceu em sua carreira fazendo aquilo que ama, com muita dedicação e ousadia. Pensei muitas vezes antes de escrever alguns posts sobre filmes dele, porque de certa forma eu queria reunir todas as informações do mundo para vocês. E aí nessa ansiedade a gente acaba não fazendo.

[LEIA +: Faça um Tourantino pela Los Angeles de Quentin Tarantino.]

Bom, eu moro na cidade de Blumenau, SC. Uma cidade típica alemã que não recebeu bem o último filme de Tarantino, Bastardos Inglórios (acho que não preciso dizer porquê). O filme ficou apenas dois dias em cartaz antes de ser removido sem nenhum comentário (em época de Oktoberfest).

Três anos depois, Tarantino lança Django Livre nos cinemas. Faltando um dia para o lançamento nacional, Maicon Tenfen, famoso jornalista e escritor e fã declarado de Tarantino, publicou no jornal local como estava ansioso para ver o novo filme do diretor. Um dia depois: nenhum cinema de Blumenau estreou o filme. Durante uma semana inteirinha o jornal publicou cartas de leitores indignados com a decisão dos cinemas de não exibir um filme indicado ao Oscar e etc e tal e alguns até relembraram o caso de Bastardos aqui na cidade. Na sexta-feira seguinte, dois cinemas estavam com sessões legendadas (ainda bem, né!?).

Cadeira de Tarantino com o script de Django Unchained.

Eu fui numa delas, num domingo, e estava bem cheio. Fiquei feliz por ver que bastante gente foi prestigiar a obra sanguinolenta nos cinemas. Nos 10 primeiros minutos do filme, King Schultz, o personagem alemão de Christoph Waltz apresenta seu cavalo negro como Fritz. Risadas no cinema. Será que residiu aí a quase censura do filme?

Empecilhos germânicos à parte… Django é genial. É maduro, divertidíssimo, sanguinolento e, o melhor, tem uma p*ta história de pano de fundo.

O passado de Django (Jamie Foxx) nas mãos de um antigo proprietário cruel leva o escravo ao encontro de King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensas alemão que está em busca dos irmãos Brittle, cuja fisionomia apenas Django reconhece. Schultz compra Django com a promessa de libertá-lo assim que capturar os três irmãos, vivos ou mortos.

Assim que atinge o objetivo, Schultz o convida para passar o inverno caçando os assassinos procurados pelo Estado para juntar dinheiro e, depois, atravessar o Texas e o Mississipi para salvar a esposa de Django, Broomhilda (Kerry Washington), vendida há anos para algum fazendeiro. A busca de Django e Schultz os leva a “Monsieur” Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) – é assim que ele gosta de ser chamado, apesar de não falar francês – um senhor de terras conhecido pelo seu gosto por lutas de escravos. Com uma oferta falsa para “conquistar a atenção” de Calvin, os dois se passam por clientes para chegar à fazenda onde Broomhilda se encontra.

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“Agora você pode chamar o delegado.” – King Schultz

[LEIA +: Conto “A Morte de Sigfried”, colaboração do leitor Thiago Duwe.]

Jamie Foxx com o diabo nos olhos

Django Livre é repleto de deliciosas cenas de humor e tensão, com surpresas no final de cada sequência, do jeito que Tarantino gosta. Uma trilha sonora diferente, piadas soltas e provocações muito visíveis são a cereja do bolo deste longa que conta com uma boa história e um ótimo elenco.

Quando eu pensei em fazer um filme sobre escravidão nos EUA, busquei como referência uma situação equivalente. E qual seria a paisagem mais sangrenta que alguém poderia imaginar? Um filme de Sergio Corbucci, claro. Mas não acho que meu Django Livre seja simplesmente um filme de vingança como algumas pessoas falam. A vingança é um motor para vários gêneros de dramaturgia, sejam peças de Shakespeare, tragédias, exploitation, artes marciais ou westerns. A vingança serve para muitas finalidades, e há, sim, vingança em Django Livre. Mas, sendo bem franco, acho que o filme é menos direcionado para uma história de vingança, e mais para uma história de resgaste. O personagem do Django vai lá e mata um monte de gente com o objetivo de resgatar sua mulher.

– Quentin Taratino.

É difícil não gostar dos personagens. Jamie Foxx, que já estrelou o excelente Ray (2004), aqui mostra o diabo nos olhos de Django. Se um dia você quiser exemplificar um olhar de ódio, mencione Django. Christoph Waltz, que poderia ter repetido Hans Landa (de Bastardos Inglórios), fez um personagem único, com seus trejeitos, expressões e sotaques, mesclando humor e drama na medida certa. O ator disse que quando leu o roteiro, sabia que o personagem era pra ele. Leonardo DiCaprio se entregou ao papel de vilão e fez um Calvin imprevisível, nervoso e cruel. E Samuel L. Jackson, que você reconhece no momento em que abre a boca, faz Stephen, o caseiro de Candie, muito puxa-saco e extremamente audacioso.

O filme tem a participação de Franco Nero, o Django original (do filme de Sergio Corbucci, em 1966), em um diálogo capiscioso. Outra coisa legal é que Tarantino utilizou a música de abertura, cantada por Rocky Roberts, do mesmo filme.

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– Como é o seu nome?
– Django.
– Você sabe como se soletra?
– D-J-A-N-G-O. O D é mudo.
– Eu sei.

Django Livre foi indicado a 5 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Estou ansiosa para ver o resultado. No dia 24 de fevereiro vamos conhecer os ganhadores.

Django Livre na Internet

Eu quis abrir um tópico aqui para comentar o trabalho da distribuidora com a divulgação de Django Livre no Brasil. Desde que pipocaram as primeiras informações oficiais sobre o filme, a fanpage Django Livre (Brasil) estava postando links para a trilha sonora de Django, quotes famosas, fan arts maravilhosas e até mesmo aquelas imagens de “essa pessoa quer fazer tal coisa” que muita gente odeia, mas que aqui foi feito com inteligência.

[LEIA +: Como Django Livre se conecta a Pulp Fiction e Kill Bill.]

A página também divulgou concursos, sorteou pôsteres oficiais e manteve a galera agitada para assistir ao filme. Recomendo a visita (e o like, porque a minha timeline ficou muito mais divertida depois disso). Outra visita super recomendada é o site oficial de Django Livre no Brasil, que é feito em flash e tem um visual incrível.

Ficha Técnica

Título: Django Livre (Django Unchained)
Ano: 2012
Diretor: Quentin Tarantino
Gênero: Western
Duração: 165 minutos

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2 comentários via blog

  1. Bom dia Raquel
    Primeira vez que acesso o site, muito legal mesmo!
    Interessante seu texto e as abordagens sobre Django Livre, principalmente a questão de cinemas estrearem o filme bem depois, as vezes nem estrearem ou quando estreiam, como se tivessem feito um favor, colocam dublado…por favor!
    Também sou suspeito para falar, sou muito fã de Tarantino, talvez tenha sido o texto mais longo que escrevi sobre uma obra foi justamente sobre esse excelente filme que é Django Livre.
    Só a lamentar a trilha sonora no país: ao contrários de outros filmes do próprio autor, dessa vez só encontro a trilha em lojas com preços exorbitantes, alegando que a trilha de Django Livre é importada…uma pena, pagar quase 80 reais pela trilha sonora não é uma opção viável atualmente…rs
    Saudações

    1. Olá,

      Nossa, R$80? Realmente, tão pedindo pra não vender, né? É uma pena, pois essa trilha vale a pena ter para ouvir sempre que puder. Também gosto demais do Tarantino, fico feliz de saber que você curtiu o texto e o blog. Volte sempre :)

      Abraços!