Kaputt: uma humanidade quebrada, destroçada, acabada.

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Tá aí uma obra que demorei para trazer ao Pipoca Musical por conta do seu teor. Quem gosta de quadrinhos e histórias de guerras vai curtir, mas é preciso ter sangue frio. A WMF Martins Fontes lançou recentemente Kaputt (adicione ao Skoob), uma graphic novel ilustrada por Eloar Guazzelli, com base no livro de 1944 de Curzio Malaparte, sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial.

O quadrinho é dividido em seis contos que acompanham o início, o ápice e o fim do nazismo, e se complementam de forma a juntar as peças do quebra cabeça cruel da guerra.

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Kaputt, que em alemão significa “quebrado, destroçado, acabado, deteriorado”, traz diálogos e personagens detestáveis, para falar sobre o fanatismo ideológico, o racismo e os valores distorcidos, que ocasionaram tanta dor durante a guerra. O livro em si foi escrito secretamente quando Malaparte cobria a Segunda Guerra Mundial como enviado do jornal Corriere della Sera.

[Leia a entrevista de Guazelli para a WMF Martins Fontes]

Malaparte esteve nas ruas, presenciando combates, mas também esteve em jantares com generais de alta patente. Viu soldados fuzilando pessoas e governantes falando de civilizações perfeitas. O autor da obra coloca os alemães como seres amedrontados: de tudo, dos velhos, das crianças, das mulheres, do sofrimento. Quem era diferente era assustador. E a dor de ler sobre fuzilamentos gratuitos, ainda que sejam tão belamente desenhados aqui, é algo que devasta a gente.

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Todo esse horror inspirou Eloar Guazzelli, quadrinista responsável pela adaptação da obra, a transportar a dor e o sofrimento em contrastes de cores e sombras, e brincar com a expressão dos personagens, que se perderam em um regime sangrento.

O livro apresenta uma estrutura pensada com seus contos que são divididos com animais: os cavalos, os ratos, as renas, os cães, os pássaros e as moscas, como forma de relacionar a situação com a crueldade humana e suas consequências. Se você já leu Maus, vai lembrar de algo parecido no quadrinho de Spiegelman.

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Algumas cenas são realmente marcantes, como a dos cavalos que morreram congelados fugindo do fogo, e os trens carregados de corpos de judeus mortos, saindo pelas janelas.

A Segunda Guerra é uma ferida aberta, repleta de histórias hediondas que algumas obras eternizam. O ser humano é capaz de atos de bondade maravilhosos, mas também de atrocidades que nunca serão esquecidas ou perdoadas. Essa é uma delas. :/

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A obra original de Malaparte já teve algumas edições traduzidas para o português, mas atualmente se encontra esgotada. Talvez você encontre o livro em sebos virtuais ou físicos, mas é preciso garimpar. Uma boa substituta, com certeza, é essa graphic novel de 184 páginas, com capa preta emborrachada. Vale a leitura e vale a edição.

Esse livro foi cedido pela Editora WMF Martins Fontes pela parceria com o Pipoca Musical. Acompanhe as novidades da Editora nos canais:
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Ficha Técnica

Título: Kaputt
Autor: Curzio Malaparte
Arte: Eloar Guazzeli
Ano: 2014 (original: 1944)
Editora: WMF Martins Fontes
Gênero: Quadrinhos, Guerra
Páginas: 184
Skoob: adicione à estante
Compre: Submarino | Americanas

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10 comentários via blog

  1. Kellen comentou em

    Fiquei super curiosa pra ler Kaput, como já disse outras vezes adoro uma história dramática e achei super bacana essa divisão criada pela Eloar. Também quero ler o trabalho original! Impressionante como sempre descobrimos novos horrores e novas perspectivas da Segunda Guerra né? :(
    Beijos!
    Kellen

    1. Pois é, Kellen, sempre tem algo a se dizer sobre a Segunda Guerra. A gente não consegue nem imaginar tudo que o povo sofreu. A graphic novel é bonita, mas cruel. Vale a leitura. :˜

      Beijos!

  2. Gosto de livros que tratam deste tema e fico surpresa sempre que termino de ler um, pois recebemos informações que não tínhamos antes ou acabamos analisando uma situação sob um olhar ou uma crítica diferentes. Este parece ser muito interessante e sendo em graphic novel então, despertou meu interesse.

    1. Espero que você aprecie a leitura, é uma graphic bem pesada mas, ainda assim, tem uma espécie de poesia. Boa leitura, Maria!

  3. Nossa, fiquei com bastante vontade de ler, igual ao também citado Maus, que sempre é citado e recomendado.

    Eu lembrei de uma obra que me deixou bem mal, e ao mesmo tempo pensativo, sobre as guerras e conflitos, que é a animação Valsa com Bashir. Ela é bem pesada, mas muito boa mesmo, recomendo demais. Se não me engano tem em hq também…

    Apesar de ser um tema ruim, pesado, e infelizmente universal (e atual), os temores da guerra e repressão sempre dão boas histórias. É literalmente a prova contra aqueles que acham que quadrinhos e animações são mídias pra crianças, que não podem ser consideradas arte.

    1. Nicolas, meu caro, você disse tudo em seu último parágrafo. Abordar esse tema de uma forma tão inteligente nos quadrinhos é mesmo (mais) uma prova de quem fala algo meio avesso sobre quadrinhos. Bem observado. Quanto à dica da animação, nunca tinha ouvido falar, vou procurar (e chorar enquanto assisto e como pipoca). :P

      Bjs!

  4. Pipoca, realmente não é uma HQ fácil de ler e de digerir. É preciso estômago. Mas acho que temas assim são extremamente relevantes, porque mesmo falando do passado, eles refletem muito da nossa sociedade, que ainda discrimina, que ainda insiste que algumas pessoas ou classes sociais são superiores. Acho que mesmo sem guerra e de forma mais velada, vivemos muito dessa crueldade, então é bom pensar sobre isso.

    E como você disse, o trabalho foi muito bem construído na HQ.

    Beijos!

    1. Com certeza, Bela. É tão atual que assusta, né. A gente vê na TV os crimes incitados por racismo, homofobia, xenofobia, e dá medo. :(

      Obrigada pelo comentário, querida. <3

  5. Carla comentou em

    Oi, Raquel! Eu não sou muito de ler graphic novel, mas essa me interessou pelo tema! Apesar de todos os horrores, a Segunda Guerra Mundial é um dos meus períodos “preferidos” de estudo de história, sabe? Acho que ver assim a crueldade a que as pessoas foram capazes faz a gente enxergar as coisas de outra forma – principalmente nos dias de hoje em que os discursos extremistas estão por toda parte.
    Adorei sua dica ;)

    bj

    1. Oi Carla,

      É uma parte bem vergonhosa da história, né, mas é significativa. Também é um dos meus temas “favoritos” (hehe) para ler e ver materiais a respeito, mas dói. Duro é ver que nem tudo mudou.

      Beijo e boa leitura <3