ENTREVISTA COM BECKY CHAMBERS, AUTORA DE “A LONGA VIAGEM A UM PEQUENO PLANETA HOSTIL”

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A LONGA VIAGEM A UM PEQUENO PLANETA HOSTIL, de Becky Chambers

Aposto com quem quiser que nos próximos anos vamos ouvir muito sobre duas mulheres incríveis na ficção científica: Nnedi Okorafor e Becky Chambers, autora de A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil.

Becky nasceu para escrever sobre espaço – filha de um engenheiro espacial e uma astrobióloga, viciada em Star Wars e Star Trek desde jovem – e escreve para todos, veteranos e novatos do gênero. Planeta Hostil me conquistou desde a primeira página com personagens completos, diversificados e que nos dão a sensação de que, como a autora falou na entrevista abaixo, todos pertencemos ao espaço.

Eu fiz essa entrevista pra poder produzir o vídeo de 10 curiosidades sobre a Becky Chambers, mas as respostas dela são tão legais que acabei postando a entrevista na íntegra aqui. Se gostar do post, compartilhe pra que mais pessoas conheçam o trabalho dela :)

UM PAPINHO COM BECKY CHAMBERS

BECKY CHAMBERS NO BRASIL

Geralmente lemos sobre personagens impressionantes, únicos, O Escolhido, mas seus personagens são pessoas normais com uma vida, relacionamentos e trabalho para lidar enquanto grandes eventos acontecem. Pode explicar um pouco por que você escolheu trabalhar com heróis do dia a dia?
Tenho duas respostas pra isso. A primeira (e mais curta) é que mesmo amando assistir todos os tipos de aventuras espaciais quando criança, eu não me identificava como nenhum dos heróis. Eu não sou corajosa assim! Eu sempre tive mais curiosidade nos personagens no fundo, os extras andando nas bases espaciais enquanto nossos heróis paravam para abastecer ou algo assim. Eu queria saber como era a vida para aquelas pessoas levando um dia normal no futuro intergaláctico.

A segunda resposta, e mais comprida, é que eu acredito que há um grande problema em como pensamos em humanos no espaço na vida real. Na época da Corrida Espacial, os astronautas eram a elite militar. Hoje, temos critérios diferentes para astronautas, mas ainda são pessoas com uma educação e credenciais impressionantes – a elite intelectual. E agora, com o SpaceX e Virgin Galactic, estamos no ápice do espaço ser aberto para quem puder pagar a viagem – a elite econômica

Agora coloque tudo isso de lado. Como você disse, são sempre os heróis e Os Escolhidos. O espaço é para pessoas que são especiais, tanto na vida real quanto na ficção, mas isso é completamente irreal! O universo pertence à toda a humanidade. É para todos nós. É parte de todos nós. Nós pertencemos lá e perdemos noção disso. Então eu tento empurrar nessa direção.

Qual objeto ou comida da Comunidade Galáctica você gostaria de ter na Terra?
Essa é difícil. Eu quase escolhi os sim hubs, mas escolhi ser prática: imunobôs. Adoraria ter um várias maquininhas na minha corrente sanguínea.

O espaço é algo grande na sua vida, obviamente, e ao invés de ser uma astrobióloga ou engenheira, como seus pais, você escolheu ser uma (ótima) escritora. Você sente que, de alguma forma, como escritora, também teve a oportunidade explorar espaço tendo a liberdade de criar sua própria versão com o conhecimento que tinha?
Ah, com certeza. A ciência e arte são dois lados da mesma moeda. No fim, estamos todos fazendo perguntas e buscando a verdade. Cientistas perguntam “por que?”, engenheiros perguntam “como?”, e escritores de ficção perguntam “e se?”. Essas perguntas não são complementares; elas abastecem umas às outras.

Você não pode escrever ficção científica sem saber um pouco sobre ciência, mas a ciência precisa de criatividade para continuar se desenvolvendo. Não importa se você está observando por um telescópio, construindo um satélite ou escrevendo sobre alienígenas. A meta final é, em suma, a mesma.

Você já mencionou antes que a Ursula K. Le Guin é uma das suas maiores influências. Se você pudessem “pegar emprestado” um dos personagens ou mundos dela para escrever junto com um dos personagens da Andarilha, quem ou qual você escolheria?
Não tenho certeza se minha equipe se encaixaria em algum dos mundos dela (além disso, eu não quero sujar os mundos dela com meus sapatos sujos); mas se precisasse escolher, eu mandaria Sidra para Hain-Davenant. Ela ficaria extremamente feliz com a riqueza de conhecimento que eles tem e acho que eles ficariam felizes em ensinar qualquer coisa que ela quisesse aprender. E eu, pessoalmente, iria morar em Anarres. Me daria bem por lá.

Em entrevistas você disse o quanto quer que seus livros sejam acessíveis para todos. Você acha que existe uma espécie de estigma que ficção científica é “complicada demais” ou “nerd demais” para a cultura mainstream?
Sim, eu acho. Recebo cartas de leitores que dizem que não tinham dado uma chance para sci-fi porque não sabiam muito sobre ciência e tecnologia, e eles estavam ou intimidados a tentar, ou incertos por onde começar. Ao mesmo tempo que coisas nerds são algo que atraem pessoas que já amam o gênero (eu inclusive), não quero que seja isso uma festa privada.

Se você quer que esse gênero continue crescendo e expandindo – e, por extensão, fazer com que mais pessoas se interessem por ciência porque no final é isso que a ficção científica faz – você precisa se esforçar para dar boas vindas à novos leitores.

Você não precisa ter estudado na área de exatas para achar ciência e tecnologia interessante e não deveria precisar desse contexto para gostar de histórias sobre o futuro. Então eu faço o que posso para fornecer uma porta de entrada acessível. Eu quero que meu trabalho tenha veteranos do sci-fi de deliciando também, mas é igualmente importante que esses livros possam ser dados para qualquer pessoas.

Uma vez, você escreveu uma carta para a Becky de 10 anos na sua coluna sobre games no site The Mary Sue, falando principalmente sobre como você não precisava se sentir mal ou culpada por ser boa com jogos ou “fingir ser um menino” para gostar de Star Wars, O Hobbit e não gostar de princesas que precisam de um salvador. Qual a mensagem que quer passar para jovens mulheres e meninas que leem seus livros?
Eu acho que os livros são a mensagem. Mulheres são metade dos humanos na vida real e isso se mantém na minha galáxia fictícia. Temos empregos, interesses, relacionamentos, famílias e metas diferentes. Somos complexas e complicadas, cheias de erros e mais do que nossas sexualidades. Somos amigas umas das outras e às vezes mais. Não existem segundas intenções aqui. É só mostrar como o mundo é de verdade.

Se alguém te disser o contrário, se alguém disser que você não pertence em algum lugar ou que não é inteligente o suficiente, não se encaixa ou que existe algo inerentemente político em mulheres existirem e fazerem coisas, ignore. É uma grande mentira e você está à caminho do espaço, então não tem tempo pra isso. Você tem mais o que fazer. Você tem um futuro para explorar.

Vindo de uma família onde todos estão envolvidos de alguma forma com espaço e astronomia e que foi uma grande influência na sua vida, você colocou alguma piada interna ou easter eggs no livro?
Não nesse sentido, nada de ciência. Tenho algumas piadas que alguns amigos vão entender, mas são segredo total.

Se você pudesse ter seu próprio dragão, qual nome daria?
Ysera [É o nome de um personagem de WoW].

Durante a infância você teve a oportunidade de visitar a NASA e aprender sobre o programa espacial logo cedo. Houve algum momento específico que “ativou” sua vontade de escrever sobre espaço ou foi algo que veio naturalmente?
Não houve um momento específico, mas uma crescente pilha de influências. Eu sempre amei ler e escrever, desde pequena. Estava constantemente assistindo Star Trek e Star Wars antes de ir para a escola e meus pais sempre falavam sobre lançamento de foguetes e novas pesquisas. Eu assisti o filme Contato (1997) quando estreou nos cinemas e fiquei obcecada com Carl Sagan e astronomia (e buracos de minhoca, o que explica um pouco do meu primeiro livro).

Eu ganhei A Mão Esquerda da Escuridão quando era adolescente e foi um privilégio visitar o JPL e o Laboratório de Ciências Espaciais da Universidade de Berkeley e lugares assim, que sempre me deixaram empolgada. Misture tudo isso e você tem o meu trabalho. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa.

A LONGA VIAGEM A UM PEQUENO PLANETA HOSTIL, de Becky Chambers

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Ficha Técnica

Título | A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil
Autora| Becky Chambers
Tradutor | Flora Pinheiro
Editora | DarkSide®
Edição | 1a
Idioma | Português
Especificações | 352 páginas, capa dura
Dimensões | 16 x 23 cm
ISBN | 978-85-9454-050-8
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