Querido John,
Hoje é meu dia de folga e me peguei pensando nos seus filmes. Pequenas jóias das quais – como você deve ter ouvido muitas e tantas vezes – ajudaram jovens a enfrentar e a perceber que não estavam sozinhos em uma época tão complicada como a adolescência.
Quase trinta anos se passaram desde a primeira vez que assisti um filme seu. Não consigo nem ao mesmo recordar quantas viagens de trem, aviões, de carona ou incontáveis férias frustradas aconteceram nesses anos. Teve até uma louca aventura pela Europa. Mas o sentimento, John, esse continua o mesmo. Imutável. Mesmo após tantos outros filmes, de tantos outros diretores ou de tantas outras lições que a vida nos trouxe.
Dia desses, lembrei de uma vez, com meus poucos três anos de idade, quando papai e mamãe se esqueceram de mim dentro do colégio e pedi ajuda ao carteiro para me levar de volta pra casa. Afinal, ninguém segura esse bebê!
Deixando as brincadeiras de lado, John, queria agradecer por você ter estado presente em boa parte da minha vida. Através dos seus filmes, cresci compreendendo que quem vê cara, não vê coração e que muitas vezes devemos nadar contra a corrente para enfrentar os problemas e as dificuldades da vida. Escola, pais, futuro. Você me ajudou a construir uma carreira, mesmo que eu não tenha conseguido ser um cozinheiro em Vênus.
E por falar em problemas, como é difícil se apaixonar aos quinze anos, certo? Vivemos intensamente tantas paixões, amores de verão, levamos foras e deixamos de ir atrás de algumas pessoas. Nos seus filmes a gente viu que muitas gatinhas e gatões passam pelas nossas vidas e que, mesmo parecendo uma eternidade até a gente encontrar a mulher nota mil, ela aparece. E você, mais uma vez, tinha razão.
O que quero dizer com essa carta, John? Algumas pessoas passam por nossas vidas e nos ajudam a entender melhor o que somos e o que podemos nos tornar ao crescer. Você foi uma delas. Um fantástico roteirista e excelente diretor que ajudou a mim, jovens e até mesmo atores, a enxergarem dentro de si coisas que não percebíamos até conhecer você.
Seus filmes partilharam da dificuldade que é crescer e a de se tornar adultos. Roteiros simples, mas que tocam nossos corações de uma maneira única e a encarar a vida com outros olhos, sentimentos e a sonhar alto, sem limites ou horizontes.
Obrigado por tudo, mestre. Hoje, aos trinta e três anos, percebo o quanto você me ajudou a curtir essa vida adoidado. Danke schön!