Do preto e branco às cores em Passarinha, livro de Kathryn Erskine

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Não quero Devon por perto de um jeito diferente. Quero Devon por perto do mesmo jeito. Do jeito que era antes. Quando ele faz pipoca e chocolate quente pra mim. E me diz o que falar e que roupas vestir e como não parecer esquisita para as outras crianças. (…) Esse é o Devon que eu quero. Não o que fica flutuando no ar.

Hoje vim falar do livro Passarinha (adicione no seu Skoob), lançado pela Editora Valentina na Bienal do Livro, que aconteceu no Rio semanas atrás. Recebi o livro como cortesia da editora e é com o maior prazer que venho contar pra vocês um pouco dessa história emocionante sobre empatia, superação e amor.

Para Caitlin Ann Smith, uma garotinha de 10 anos portadora da Síndrome de Asperger, tudo é preto no branco. As cores só servem pra confundir tudo (quando elas se misturam, você nunca sabe que tom elas podem assumir, diferente do preto e do branco) e quaisquer metáforas ou “modo de dizer” são formas de não passar uma mensagem claramente.

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Procuro a palavra desFEcho no Dicionário e ele diz: A vivência da conclusão emocional de uma situação de vida difícil como a morte de um ente querido.

Apesar de não Captar O Sentido das coisas imediatamente, Caitlin é muito inteligente, perseverante e 100% sincera, características da síndrome que são bem trabalhadas na história. Seu irmão, Devon Smith, era quem a ajudava a se comportar da forma correta em público para que outras crianças não a achassem esquisita, mas desde que ele foi assassinado no massacre do colégio Virginia Tech, Caitlin ficou sozinha com seus livros, dicionários e desenhos. Seu pai, que já havia perdido a esposa anos antes, está com o coração partido e ela não consegue ajudá-lo a Lidar Com Isso.

Certo dia, ela ouve a palavra “desfecho” em uma notícia da TV sobre a morte do seu irmão e, ao procurar seu significado, percebe que ela e seu pai precisam de um desses. Sem rumo desde o Dia Em Que A Vida Desmoronou (é como Caitlin chama o dia em que seu irmão morreu), a menina se determina a Trabalhar Nisso para encontrar a paz para ela e seu pai.

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A Sra. Johnson devolve o meu trabalho de grupo. (…) Não se usam maiúsculas em substantivos comuns. Só as palavras especiais levam maiúsculas. (…) Ela colocou um X em cima do C de Coração e escreveu um c minúsculo. Não parece certo desse jeito. (…) Como pode existir alguma palavra mais especial que Coração?

Passarinha foi uma experiência literária emocionante e te causa empatia. Acompanhar as descobertas de Caitlin do mundo ao seu redor, e ver seu intelecto avançado trabalhando arduamente para chegar a um desfecho foi gratificante. Chorei igual criança nos últimos capítulos.

Simbolismos em Passarinha

No início do livro, a Editora Valentina publicou uma nota de tradução contando alguns desafios que tiveram para traduzir esta obra para o português. Passarinha é uma história repleta de simbolismos que ajudam o leitor a Captar o Sentido das coisas. Tudo se conecta tão bem que você fica impressionado. Um exemplo é o “armário de Devon” (Devon’s chest), um trabalho que ele começou a fazer para atingir o nível Águia como escoteiro mas nunca terminou, pois foi assassinado com um tiro no peito (chest também).

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A primeira vez que a gente assistiu a Matar Passarinho eu fiquei esperando o filme inteiro para ver o pai dar um tiro no passarinho. (…) Naquele ano o professor de literatura dele mandou a turma ler o livro e ele disse que o título fazia muito sentido e era isso que queria dizer: É errado atirar em um inocente que jamais teve a intenção de fazer mal a alguém. (…) Acho que aqueles garotos maus que deram os tiros na escola não estavam prestando atenção na aula de literatura porque não Captaram o Sentido do livro mesmo.

Também vale citar a estreita relação do clássico O Sol é para Todos (To Kill a Mockinbird) com esta obra. O filme é o favorito dos dois irmãos e se relaciona muito bem com o tema de Passarinha (coloquei um trechinho aqui em cima especial pra isso).

Sobre o massacre, o autismo e as premiações

O Dia Em Que A Vida Desmoronou para Caitlin e seu pai foi inspirado na tragédia da Virginia Tech University, em 2007, o ataque com o maior número de mortos por um atirador solitário na história dos Estados Unidos. Na história real, Seung-Hui Cho, um estudante da Virginia Tech matou 32 pessoas e feriu outros 17 antes de cometer suicídio. O perfil psicológico era o de um jovem com graves problemas de rejeição e depressão (leia mais aqui).

A autora se inspirou neste acontecimento (a história dos personagens é fictícia) e o cruzou com a luta de uma criança com Síndrome de Asperger para contar uma história inspiradora. Algumas características dos portadores da síndrome são: dificuldade de interação social e de processar emoções, além da interpretação de texto ser puramente literal. Tudo isso foi bem trabalhado ao longo do livro e ver o mundo pelos olhos de Caitlin foi uma experiência interessante.

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Seus olhos não combinam com a sua boca.
Ah, diz ele concordando com a cabeça. Talvez você seja melhor em matéria de emoções do que pensa.
Só que eu não sei qual dos dois está certo.
Os dois. Estou sorrindo porque acho que você é uma menina maravilhosa e com um talento enorme. Já meus olhos estão tristes porque estou pensando no que você e seu pai estão passando.

Quero comentar também que adoro as diagramações e capas da Editora Valentina, mas que Passarinha é, decididamente, o mais bonito da coleção. A capa é espetacular, a escolha do laminado no título se alinhou com as cores que Caitlin tanto fala, e os detalhes internos de diagramação são muito delicados. Tudo isso faz com que Passarinha seja uma beeeeela edição.

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Meu pai não Captou o Sentido, digo a ele.
Nem o meu.
Ele ainda quer jogar futebol?
Michael suspira. O tempo todo.
Ele deve adorar futebol.
Pior que é. Mas acho que ele não joga muito bem.
Por quê?
Porque eu ouvi minha avó dizer que ele está tentando tocar a bola pra frente, mas no fundo mal está se aguentando nas pernas.

Passarinha recebeu várias nomeações e premiações, e foi vencedor de dois títulos que destaco aqui: National Book Awards (2010) e Obra Extraordinária no Bank Street Best Children’s (2011). Também recebeu Honra ao Mérito do Golden Kite Award (2011) e foi eleito para a lista de “100 livros para ler e compartilhar”, da Biblioteca Pública de Nova York (2010). Seguindo este último exemplo, digo a vocês: leiam e compartilhem esta história.

Esse livro foi cedido pela Editora Valentina pela parceria com o Pipoca Musical. Acompanhe as novidades da Editora nos canais: Site | Facebook | Twitter | YouTube | Resenhas

Ficha Técnica

Título: Passarinha (Mockingbird)
Autora: Kathryn Erskine
Ano: 2013 (original: 2010)
Gênero: Drama, Sick lit
Editora: Valentina
Skoob: adicione na sua estante
Páginas: 224

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