Seja uma pessoa fina, elegante e, sobretudo, sincera: você já tinha ouvido falar de Um Estranho Vampiro, filme de 1988 dirigido por Robert Bierman, alguma vez? Se sim, meus respeitos! Se não, pode se tranquilizar, já que muito provavelmente não é a exceção. Eu também jamais tinha ouvido falar ou visto em alguma locadora (isto é, no longínquo tempo em que ainda frequentava locadoras). Porém… e esse meme aqui, já viu?
Se você passa mais do que 5 minutos diários na internet e não acessa o site do seu email pelo buscador do Google, é bem provável que sim (nada contra, tenho até amigos que fazem assim). E eu confesso: foi esse meme que me fez procurar o filme, uma mera curiosidade pra conhecê-lo melhor. Nada muito nobre ou profundo, apenas um programa de domingo à tarde.
A história do filme é, em teoria, bem simples e seguiu uma onda de longas protagonizados por yuppies que aconteceu entre as décadas de 1980 e 1990 (temos Psicopata Americano, Wall Street, Jerry Maguire, Fogueira das Vaidades e mais tantos outros exemplos famosos nessa linha). Nela, o agente literário Peter Loew (ou Nicolas Cage Losing His Shit) era bem sucedido, com uma vida de relacionamentos casuais e eventuais sessões de psicoterapia. Nada fora do comum, pelo menos até ser mordido por uma vampira. Opa! A partir disso, o filme nos mostra toda a sua transformação de cara comum a um… vampiro demente? Maníaco alucinado? Chefe on drugs com sede de sangue? Algo assim.
Falando desse jeito parece bem besta, mas o filme pode ser qualquer coisa, menos ordinário. Pode chamar de ruim, de bizarro, de sem sentido, mas – eeeeeeeepa! – de ordinário, não. A atuação do Nicolas Cage (que, como sabemos, pode ser bem intensa) é completamente frenética e hipnotizante. Ele chegou a comer um inseto (veja o trailer no fim do post e saiba qual) vivo, de verdade, nos três takes que foram precisos pra conseguir a cena. A história é tão bisonha e confusa em alguns pontos que fica impossível deixar de assistir. E o mais importante: é tão dúbio se o filme foi feito pra ser uma comédia ou um terror que o resultado final só poderia ser um – risadas. Não, não risadas. Gargalhadas. Particularmente, fazia muito tempo que um filme não me divertia tanto.
Na época em que foi lançado, Um estranho vampiro foi um fracasso e esquecido rapidamente. Entretanto, como vários outros filmes meio obscuros de décadas passadas, ganhou uma veneração cult, talvez justamente pela sua esquisitice. Nos extras do DVD o próprio diretor disse que não sabia o que queria dizer com ele ou o que significava (imagina a gente). Bierman chegou a drogar um pombo pra filmar uma cena, ao mesmo tempo em que contratou um cara que fez os efeitos especiais de Star Wars (veja bem, Star Wars) pra fazer um morcego-robô.
Ainda assim, o orçamento era tão baixo que não havia verba para figurantes (até porque metade dela deve ter ido só para o cara do Star Wars), então as cenas externas foram filmadas com transeuntes de verdade, que sequer reconheceram o Cage, então com 26 aninhos. Cage esse que de repente tinha um sotaque inglês estranho, saído das densas brumas do nada (neste nível), e que durante as filmagens se trancou em seu quarto de hotel com o seu gato Lewis e não permitia que sequer o pessoal da limpeza pudesse fazer o seu serviço lá dentro. Sem contar que, além de tudo isso, ele quis ser mordido por um morcego real (compromisso com a verdade é assim), pedido que foi negado pelo diretor. Uma pena.
Porém, nada do que eu disser vai conseguir explicar a grandiosidade de toda essa película e do que a envolve. Estou falando muito seriamente quando digo que estou apaixonada. Um estranho vampiro é o melhor pior filme que eu vi nos últimos anos, e que você deveria ver também. Pra ter um gostinho melhor, dá uma olhada no trailer. Sério.
Por favor.
Ficha técnica
Título: Um estranho vampiro (Vampire’s Kiss)
Diretor: Robert Bierman
Ano: 1988
Gênero: Comédia, Suspense
Duração: 103 minutos