Esta é a história da relação entre a literatura e a vida, entre o ideal e o real, da poesia versus ciência, mágica versus medições, honrar um mistério versus desvendá‑lo. E, em seu âmago, este livro é uma história de amor: a história de duas pessoas muito diferentes aprendendo a aceitar e influenciar e dar espaço uma à outra de maneiras misteriosas e poderosas.
Quem aí curte livros de biografias e memórias? A professora de literatura Priscila Gilman escreveu O Filho Antirromântico (adicione ao Skoob) para contar a história de seu primeiro filho, Benjamin, um garoto que foi diagnosticado com hiperlexia aos três anos.
A hiperlexia é um transtorno de desenvolvimento associado ao autismo e mostra, entre outras características, três aspectos: capacidade precoce de leitura, dificuldade em lidar com a linguagem oral e comportamento social atípicos. Benji começou a ler livros inteiros com apenas dois anos e já estava praticamente alfabetizado antes disso. O que parecia apenas uma habilidade precoce se tornou logo a principal evidência de que ele precisava de ajuda e a família descobriu a hiperlexia no garoto.
Meu pai certa vez escreveu que “ser fã de alguém significa praticar uma forma de magia solidária, que faz você sofrer com e tirar forças de, e geralmente partilhar as vicissitudes e personas de campeões e heróis dos dias modernos”. Ele sempre fora meu maior fã, e eu a dele, e, assim como eu tirara força dele, agora sofria com ele; como eu havia me refestelado em sua magia solidária, agora partilhava, irrestrita e incondicionalmente, suas vicissitudes.
Uma criança especial acaba mudando a rotina e os planos originais de uma família e é normal que os pais procurem ajuda para a criança e também para si. Esse livro passa longe de ser um manual – ele nem tem essa intenção. Priscila fala sobre a descoberta da hiperlexia em Benji, a troca dos profissionais que acompanhavam seu filho, e como a leitura (apontada como sintoma da doença) ajudou seu filho a superar as dificuldades da hiperlexia.
Mas ela também ressalta o impacto na sua vida profissional e acadêmica, as mudanças no seu relacionamento com outras pessoas, seu passado com a família que a criou e outros aspectos que interferiram no rumo planejado para sua vida. Se uso a palavra “interferir” é porque a própria autora deixa um pouco disso no ar (intencional ou não, eu não saberia dizer, pois o amor pelo seu filho certamente é maior que isso tudo). Tudo imerso numa narrativa gostosa e poética de acompanhar, aliada à uma tradução brasileira impecável.
Ao mesmo tempo que é o poeta da infância, Wordsworth é também o grande poeta da perda: a perda da inocência e da alegria infantil, a perda dos pais, a perda de filhos, a perda da espontaneidade emocional, da autenticidade e da alegria, à medida que envelhecemos.
Falei da natureza poética da narrativa porque a poesia está presente no livro de forma concreta. Quando estava em Yale e se descobriu grávida, Priscila trabalhava em uma dissertação sobre o poeta William Wordsworth. Esse fato pode parecer aleatório neste texto, mas é importante para mostrar um aspecto da narração da autora, que usou os poemas do inglês como uma linha de condução da história. A todo momento, trechos dos poemas se mesclam com a história de Benji e o lirismo que isso traz é belo: literatura e vida real se entrelaçando. :)
Não sei se O Filho Antirromântico trará o tipo de conteúdo que uma família que passa por essa situação precisa, mas com certeza é uma história que tem seu valor por mostrar como “abraçar o inesperado” (nas palavras da autora) muda a nossa vida. Se você se interessa de verdade por essa temática, pode ler sem medo, mas se você não curte histórias assim, é melhor deixar pra próxima. Aproveito para deixar aqui um vídeo da própria autora falando um pouco a respeito do seu livro (ative as legendas em inglês para facilitar o entendimento do conteúdo).
SORTEIO DE UM EXEMPLAR
O Filho Antirromântico foi cedido pela Companhia das Letras ao Pipoca Musical por conta da parceria. Acompanhe as novidades da editora nos canais: Site | Facebook | Twitter | Instagram
Ficha Técnica
Título: O Filho Antirromântico
Autora: Priscila Gilman
Gênero: Biografia
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 352
Extras: Leia um capítulo
Skoob: adicione à sua estante
Compre: Americanas | Submarino
Nossa, não conhecia esse livro. Mas se tem natureza poética, é minha cara.
O tema parece diferente, gosto de livros que abordam mudanças de vida por causas especiais e inesperadas.
Fiquei interessada… Hehehe!
Bjs, Isa :)
Eu sou chegada em biografias, então acabo me interessando por essas coisas. Achei a proposta legal, é uma pena que não tenha tido muita divulgação. :( Bjs!