X-Men: Deus Ama, o Homem Mata

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Rótulos arbritários são mais importantes do que a maneira como levamos nossa vida? O que supostamente somos é mais importante do que o que realmente somos?!

Chris Claremont é considerado por muitos (e com muita justiça), o roteirista definitivo de X-Men. Ele liderou o título dos Mutantes por nada mais, nada menos, que 16 anos (de 1976 a 1991). Criador de vários personagens icônicos da revista, ele é responsável pelos valores implícitos na equipe até os dias de hoje.

Os X-Men tem um cunho social em suas histórias desde sua inauguração, visto que os principais Mutantes em conflito, Charles Xavier (ou Professor X) e Magneto, foram inspirados em Martin Luther King e Malcon X respectivamente (objetivos parecidos, métodos opostos). Claremont potencializou isso ao máximo quando criou X-Men: Deus Ama, o Homem Mata. Com debates ideológicos explícitos, ele questionou valores tradicionais e nos presenteou com uma história ímpar, que nos faz refletir e contestar nossa sociedade.

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Somos os purificadores. A esta altura, jovenzinho… nossas intenções deveriam ser óbvias.

A história já começa com um tapa na cara, quando dois jovens são perseguidos e mortos por um grupo intitulado “Purificadores”, responsáveis por uma onda de mortes entre os mutantes. Logo somos apresentados a um personagem inédito na cronologia mutante, o reverendo William Stryker, fundador da “Cruzada Stryker”, que difunde a ideia de que Mutantes não são seres humanos. Não é preciso muito esforço pra ligar os pontos: o Reverendo que promove discussões diplomáticas sobre o assunto na TV é também o responsável pela “caçada aos mutantes”, se mostrando um verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Ele massacra Xavier num debate ao vivo e dissemina cada vez mais seu discurso de ódio.

Nessa história, que dá um show no roteiro super bem elaborado, os X-Men são submetidos à muitos testes físicos e psicológicos, e acabam por aceitar seu maior inimigo, Magneto, como aliado. Nada como um inimigo comum, hein?

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Mas, se usarmos os métodos de nossos inimigos, meu caro… como vamos ser melhores do que ele?

Muitas coisas me chamam a atenção em X-Men: Deus Ama, o Homem Mata. A arte de Brent Anderson é super clássica, e muito tocante em seus momentos de emoção (destaque para o quadro do Charles chorando :’)). O roteiro de Claremont, além de contemporâneo, é extremamente bem amarrado, e traz debates magníficos. A personagem Kitty Pryde tem uma notável evolução no decorrer da trama – seus poderes alcançam um novo patamar e ela cresce ideologicamente.

Mas vamos ao “X da questão”. Quer saber porque essa história é – na minha opinião – indispensável para qualquer leitor de quadrinhos? Simples. Claremont escreveu “Deus Ama, o Homem Mata” como um arco fechado, ou seja, uma história com começo, meio e fim. Ele dispensa qualquer leitura anterior dos quadrinhos dos mutantes. Além de tratar de uma trama adulta, ele fez essa história pensando em como marcar, em um único arco, a identidade dos X-Men.

Claremont também aproveitou que a Marvel estava começando a produzir no formato “Graphic Novels” (obrigado, Eisner), para contar a história que ele realmente queria – sem amarras e com liberdade para explorar o que há de melhor e pior em ser um humano. Não é à toa que esta é a história preferida de Bryan Singer, e serviu de inspiração para o segundo filme dos Mutantes.

O grande mérito da história é conseguir fazer com que a grande batalha seja travada com diálogos, sem deixar de lado cenas de ação de primeiríssima qualidade. A ousadia do roteiro é notável e um exemplo disso é a forma que tratam Charles Xavier, que sofre uma lavagem cerebral (literalmente) e se volta contra seus pupilos, o que traz uma inversão de valores bem interessante para a trama, já que os X-Men estão trabalhando ao lado de Magneto.

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Um mutante maligno como nosso arqui-inimigo Magneto, pode ser confrontado fisicamente. Não temos tal opção com Stryker, cujas armas são palavras e ideias. Só podemos rebater isso com palavras mais sensatas.

A história traz uma humanização dos Mutantes, que são seres super poderosos, e faz com que a gente fique contra o ser humano – Stryker, que tem lá suas motivações que NÃO justificam as atrocidades que ele comete. Uma cena muito icônica até hoje é a do Reverendo apontando para o Noturno e contestando: “Humanos? Você ousa chamar aquela… coisa… de HUMANO?!?”

X-Men: Deus Ama, o Homem Mata foi escrito em 1982, em um Estados Unidos ainda abalado pela luta contra a segregação racial e a conquista dos direitos civis dos negros. Chris Claremont se utilizou dos mutantes como um grupo de minoria para fazer uma analogia crítica aos recentes acontecimentos. Podemos ver isso na utilização do termo “Mutuna”, uma ofensa aos mutantes equivalente ao termo “crioulo” para os negros, além de questionar o fanatismo religioso que crescia como um vírus na sociedade americana.

O que ele não contava é que, mais de 30 anos depois, a história segue mais atual do que nunca.

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“A esperança é que estivéssemos contando uma historia que não precisaria ser contada vinte anos depois ou vista como um anacronismo. Infelizmente, ela se tornou mais relevante do que nunca.” – Chris Cleremont

Isso nos serve de base para entender que, mesmo com tantos avanços tecnológicos, a gente acabou regredindo em muitos assuntos de extrema importância. Num Brasil que fica chocado com uma simples cena de beijo entre duas mulheres, se faz clara a necessidade da reflexão que esse tipo de obra nos traz. Parafraseando John F. Kennedy, “Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância”.

A história X-Men: Deus Ama, o Homem Mata nos mostra o quão suscetíveis somos às manipulações de lideres e também da mídia. Mas também que podemos lidar com isso, refletindo e contestando. É uma história pesada, porém otimista, pois traz a esperança de que ainda podemos mudar os rumos da história.

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Ficha Técnica

Título: X-Men: Deus Ama, o Homem Mata
Autoria: Christopher Claremont e Brent Eric Anderson
Páginas: 104
Gênero: Quadrinhos
Editora: Panini
Compre: Comix

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4 comentários via blog

  1. César Paladini comentou em

    Bacana mesmo a resenha!

    Seria muito bom se mais dessas novas adaptações para as telonas fossem baseadas – o mais próximo possível – de grandes obras como essas.

    Vide o “Era Ultron”, onde muito provavelmente não vão citar o Hank Pym como criador do Ultron e dar méritos apenas ao Tony Stark – atual queridinho da América. Ou seja, ótimas histórias, mas com adaptações fracas e pouco fiéis.

    Abraço.

    1. Brubs comentou em

      Valeu César :D
      Seria mesmo cara, não sou contra certas liberdades na hora de adaptar a obra, mas muita coisa acaba se perdendo mesmo, e sim muitos filmes seriam bem melhores se fossem mais fiéis ao original.
      Temos exemplos de peças muito fiéis que ficaram boas (como 300), e de outras que seguiram por outros caminhos e que mesmo assim ficaram fodas (como O Iluminado). Acho que é uma questão de bom senso e entender o público, coisa que Hollywood faz cada vez menos
      Obrigado pelo comentário :)

  2. Ananda comentou em

    Nunca fui chegada em Super Herói, mutantes, e quadrinho pouco me chama a atenção. Mas bati o olho aí e New York: a vida na cidade grande <3
    Foi um dos poucos quadrinhos que li e me apaixonei demais. Tanto que resenhei no blog.
    Quem sabe eu não aprendo a gostar mais de heróis estranhos e peludos :)

    1. Brubs comentou em

      hehe gosto é gosto né, sou maluco por heróis desde pequeno, e isso nunca mudou.
      Mas obras como New York e Contrato com Deus do grande Eisner são pontos fora da curva mesmo, são leituras que independente de ser fã de quadrinho ou não vão agradar. Qualquer hora eu resenho ela por aqui tbm (alias me manda o link da sua resenha pls).
      Bom se quer aprender a gostar de heróis estranhos e peludos esse quadrinho aqui da resenha é uma ótima pedida rsrs indico tbm clássicos como Piada Mortal, Batman Cavaleiro das Trevas e Watchman.
      Obrigado por comentar o/ :)