A borboleta que observa a vida dentro do escafandro

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Haverá neste cosmo alguma chave para destrancar meu escafandro? Alguma linha de metrô sem ponto final? Alguma moeda suficientemente forte para resgatar minha liberdade? É preciso procurar em outro lugar. É para lá que eu vou.

Sou bem chegada em biografias, como alguns de vocês já devem ter percebido. Algumas contam a vida toda do retratado, outras mostram uma breve história, mas todas são feitas com algum motivo. O livro de hoje, O Escafandro e a Borboleta (adicione ao Skoob), foi publicado pela WMF Martins Fontes no Brasil, e virou filme em 2007.

O Escafandro e a Borboleta é o tipo de livro cuja história por trás dele é mais interessante do que a história em si. Por volta dos 40 anos, Jean-Dominique Bauby (editor chefe da Elle francesa) sofreu um acidente vascular cerebral e ficou com o corpo inteiro paralisado, com exceção do olho esquerdo. A “locked-in syndrome“, ou “síndrome do encarceramento” como também é chamada, é uma condição que paralisa o corpo todo, mas mantém as faculdades mentais em perfeito funcionamento. “Like a mind in a jar.

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São esses dois elos extremos da corrente de amor que me cerca e protege. Muitas vezes me pergunto que efeito esses diálogos de mão única exercem sobre meus interlocutores. A mim, transtornam. A esses telefonemas carinhosos eu gostaria tanto de não responder só com o silêncio.

Eu digo que a história por trás do livro é mais interessante que o livro porque ele o escreveu, letrinha por letrinha, com a ajuda de uma fonoaudióloga que recitava as letras do alfabeto lentamente (na ordem decrescente de freqüência na língua francesa, para evitar o abc desnecessário) e a escrevia quando Bauby piscava a pálpebra esquerda na letra que queria. “Na minha cabeça, mastigo dez vezes cada frase, corto uma palavra, acrescento um adjetivo, e decoro o meu texto, parágrafo a parágrafo”, ele diz em determinado momento. Bauby escreveu O Escafandro e a Borboleta em sua cabeça, o editou e aprovou a obra final que foi para o mercado em 1997, dois anos após o acidente.

Com um vocabulário bem rico (beeeeeem rico, várias palavras novas pra gente aprender), Bauby explora o que lhe resta: a memória, a imaginação, as lembranças gostosas de sua vida, o intelecto ainda intacto. Os momentos que o inspiravam a seguir em frente, ou que o desesperavam amargamente, estão aqui nas poucas 142 páginas: a recepção dos amigos, a dificuldade em se expressar, o som da voz de seus filhos, o cheiro da comida, as lembranças com a ex-mulher, entre outras coisas.

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Uma onda de tristeza me invadiu. Théophile, meu filho, está ali, sentadinho, com o rosto a cinquenta centímetros do meu, e eu, o pai, não tenho mais o direito de passar a mão naquela cabeleira basta (…)

O triste é que Bauby morreu apenas dez dias depois da publicação do livro. O morador do escafandro, que examinou o mundo por tanto tempo através de uma única fresta – seu olho esquerdo -, teve sua libertação depois de cumprir a missão de publicar o livro. Ele em si não é tão extraordinário, mas a forma que o jornalista encontrou para contar sua história merece nota.

A adaptação cinematográfica

O filme O Escafandro e a Borboleta (The Diving Bell and the Butterfly, 2007) é um pouco mais tenso que o livro, porque no texto a gente vê a perspectiva do Bauby, as lembranças dele, o sentimento de solidão e isolamento que ele sente olhando por uma janelinha do escafandro, enquanto que o filme mostra o lado claustrofóbico e enfraquecedor da síndrome do encarceramento.

Espero que tenham curtido a resenha do livro de hoje. O Escafandro e a Borboleta funciona mais como um pequeno livro de relatos de dias e lembranças de Bauby, mostrando um pouco da essência do jornalista, um pouco do ser que habita o escafandro. É difícil acompanhar os pensamentos dele, mas dá pra sentir um pouco da clausura que o cerca.

Esse livro foi cedido pela Editora wmf martinsfontes pela parceria com o Pipoca Musical. Acompanhe as novidades da Editora nos canais:
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Ficha Técnica

Título: O Escafandro e a Borboleta
Autor: Jean-Dominique Bauby
Ano: 2007 (original: 1997)
Gênero: Biografia
Editora: WMF Martins Fontes
Compre: no site da editora
Skoob: adicione à sua estante
Letterboxd: The Diving Bell and the Butterfly (filme)

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14 comentários via blog

  1. Gente, precisando desse livro já.
    Por ser biografia e por ter uma historia por trás tão foda e por ter algo a ver com que eu faço. .

    1. Oh, verdade, né? E é bem fininhi. Adoro a capa, tem as letras do nome dele, como se estivessem soletrando.

      Já viu o filme? Ele tem uma pegada mais claustrofóbica. Talvez vc goste.

      Bjs ;*

  2. Já li outras resenhas sobre este livro e também amo biografias. Esta ainda não li porque não encontrei o momento certo, histórias tristes para mim possuem um momento certo para ler. Sua resenha ficou ótima.

    1. É verdade, Maria, tudo a seu tempo né? :) Bjs, que bom que gostou da resenha!

  3. Okay Raquel, você conseguiu me conquistar. Nunca imaginei que a história por trás do livro era de tamanha riqueza. Eu preciso ler.
    Adoro quando o livro é mais que só um livro, mais um marco para o autor e esse mostrou realmente um momento de superação, algo que todo mundo poderia dizer que ele nunca conseguiria. Amei!

    1. Esse livro, assim como Minha Breve História, do Stephen Hawking, foi escrito com muito esforço e isso por si só é admirável. Imagina o tempo que ele levou pensando nas frases, editando, comunicando cada letra lentamente, revisando e tudo o mais? A lição que fica é de superação mesmo. É um livro curto, mas profundo em sentimento. Não tem tanta história, mas você se compadece do autor. :/

      Beijo <3

  4. Eu tenho um sentimento meio claustrofóbico sobre esse livro. É mais ou menos a mesma coisa que eu tive quando li Feliz Ano Velho.

  5. Foi assistindo ao filme que eu aprendi o que significa ‘escafandro’ hahahaha eu tenho uma grande queda pelo filme; ele realmente se aprofunda mais nesse lado claustrofóbico do protagonista, mas o que eu realmente gosto é a determinação e o amor que o protagonista tem para escrever seu livro. O processo não é fácil nem rápido, mas ele continua… :)
    Com certeza vou procurar o livro!

    Beijos, Quel <3

    1. Lendo o livro você vai se deparar com PALAVRAS MUITO MAIS COMPLEXAS que escafandro, hahahaha. O dicionário bombou nessa leitura, como um bom francês, o Jean-Dominique foi bem rebuscado na escrita. O que tornou tudo um pouco mais complexo, mas ainda assim deu pra entender o sentimento. A determinação dele em compartilhar a história realmente é notável. :)

      Beijo ♥

  6. Isabela comentou em

    Tenho tanta, tanta vontade de ler esse livro… Realmente a história por trás da história é incrível.. Que exemplo de persistência e força de vontade, não é mesmo? Pode ter certeza que no dia que eu fizer a leitura, passarei aqui para deixar a minha opinião…

    Bjs, Isabela ;)

    1. Oi Isa,

      Pois é, o livro por si já vale pela dificuldade que foi escrevê-lo. Até citei em outro comentário aqui que me lembrei do Hawking com a curta biografia dele. Quando ler (a Kellen vai te colocar pressão, hein?), passa aqui sim!

      Bjs ♥

  7. Renata comentou em

    Raquel, só vc mesmo para trazer essas dicas que eu nunca saberia que existem se não tivesse lido aqui….fico até me sentindo mal…mas já passa, pois me agregou conteúdo…
    Em tempos de discussões sobre adaptações de clássicos para uma linguagem mais moderna e até um pouco mais burra, se me permite dizer…tive que recorrer ao “pai dos inteligentes” para procurar a palavra escafandro..tinha entendido a “ideia geral”, mas tive que ir procurar kkkkk
    Parece que a história por trás é muito mais intrigante que a história em sim….mas eu fiquei triste..coitado, preso em seu prórpio corpo…

    1. Eu também pesquisei sobre escafandro na época, e fez todo o sentido quando eu descobri o significado, hehehe. Mas olha, te digo que escafandro não é a palavra mais complicada do livro, o dicionário me fez uma longa companhia. Franceses… Hehehhee :)

      Que bom que gostou da proposta. Indico o filme, principalmente. O livro é muito bom, mas como a história por trás dele é mais impressionante que a história em si, o audiovisual pode te ajudar a compreender o principal. E depois o livro agrega bastante.

      Beijo!