Os Filhos de Anansi, os deuses arquétipos e a dualidade humana

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Hoje vamos falar de Filhos de Anansi, um livro que reúne muitas características da literatura de Neil Gaiman em pouco mais de 300 páginas que passam voando.

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Essa história começa, assim como a maioria das coisas, com uma música.
Afinal de contas, no começo havia as palavras, e elas vinham acompanhadas de uma melodia. Foi assim que o mundo foi feito, que o vazio foi dividido e que a terra, as estrelas, os sonhos, os pequenos deuses e os animais vieram ao mundo.
Eles foram cantados.

Vinte anos após deixar a América do Norte, Charles Nancy (ou Fat Charlie, um apelido de infância que ele odeia) retorna à Flórida para o enterro do seu pai, que em vida fez o filho passar muita vergonha em diversas situações embaraçosas.

A Sra. Higgler, uma velha amiga de seu pai que toma café em baldes, lhe conta algumas coisas bem estranhas sobre a família dele: aparentemente, o Sr. Nancy era Anansi (Nancy/Anansi, sacou?), o Deus-Aranha, dono de todas as histórias do mundo; e Charles tem um irmão semideus chamado Spider, de quem nunca ouviu falar, que herdou todos os poderes do pai. Para encontrá-lo, diz a Sra. Higgler, basta pedir a uma aranha. Mais por curiosidade do que por acreditar na velha, Charlie pede a uma aranha que convide seu irmão para aparecer a qualquer hora. E não é que o garoto aparece?

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Você quer saber se Anansi parecia uma aranha? Claro, exceto quando tinha a aparência de homem. Não, ele nunca mudava de forma. Tudo depende do jeito que você conta a história. Só isso.

O surgimento do irmão desencadeia uma série de conflitos entre os dois. Em parte por Spider ser tudo aquilo que Charlie não é. Entenda: nosso protagonista é tímido, desajeitado, odeia escândalos, carece de imaginação e leva uma vida rotineira e organizada na Inglaterra, onde viveu nos últimos 20 anos; Spider, por sua vez, é a festa em pessoa, usa o charme para chamar a atenção, é extremamente confiante e age por impulso.

Em poucas horas, Spider promove tanta bagunça na vida de Charlie (com o noivado, o trabalho e a lei), que Charlie se vê forçado a procurar meios “mágicos” de expulsá-lo de sua vida. É aqui que a história realmente começa.

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Histórias são teias conectadas fio a fio. E você deve seguir cada história até o centro, porque o centro é o final. Cada pessoa é um fio da história.

Filhos de Anansi tem uma narrativa super legal, que pula de personagem em personagem, colocando o leitor à par de todas as facetas da história. O que é fundamental, uma vez que Charlie enfrenta tudo sozinho, entendendo pouco ou nada do mundo que o cerca.

Vez ou outra estamos na pele de Charlie, ou de sua noiva Rosie, do seu chefe que desvia dinheiro dos clientes Grahame Coats, e até mesmo na pele de Spider. Pouco a pouco, o intrincado mundo onde deuses, totens e fantasmas dão pitaco na esfera humana, se torna uma sólida história de superação e autoconhecimento.

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– Bom… No momento, estou desempregado. Não tenho namorada e, em grande parte graças aos seus esforços, os vizinhos estão convencidos de que eu sou um matador profissional. Alguns até começaram a atravessar a rua quando cruzam comigo. Por outro lado, o moço da banca de jornal perto de casa quer que eu dê uma lição no sujeito que engravidou a filha dele.

Os capítulos são nomeados de forma bem original e toda a condução da história é muito interessante e divertida. Fazer parte dos pensamentos de Charlie, das aflições de Spider e das traquinagens por vezes macabras de Coats dão uma perspectiva completa à história. Spider e Charlie representam muito bem a dualidade que cada ser humano carrega dentro de si. E o desfecho não poderia ter sido melhor: todas as pontas se amarram e levam ao amadurecimento dos personagens. Dá conclusões, abre novas possibilidades e encerra ciclos.

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As lendas de Anansi na África e na visão de Gaiman

Em diversas passagens do livro, Neil Gaiman nos apresenta às lendas de Anansi e nos coloca em contato com criaturas diferentes. Uma espécie de deuses arquétipos representados por um animal e, em parte, por uma características humana. Todos eles conhecem Anansi, mas o Deus-Aranha tem alguns inimigos. O pior deles é o Tigre, que costumava ser o “dono das histórias” até que Anansi lhe passou a perna e contou cada uma das histórias como suas, alterando seu sentido e tornando o mundo um lugar mais alegre e menos sombrio.

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– (…) Esta noite partilharemos as sensações ruins e encararemos nossos problemas. Ficaremos de luto. Secaremos o poço amargo da mortalidade. A dor, quando compartilhada, meu irmão, não é dobrada, e sim dividida. Nenhum homem é uma ilha.

Nas lendas que conhecemos (no lado de cá), Anansi é um deus africano que ocasionalmente toma a forma de uma aranha e é considerado o deus de todas as histórias. Ele também é um dos personagens mais importantes do folcore africano e seus contos são muito famosos.

A lenda original conta que Anansi tentou comprar as histórias da deusa do céu, Nyame, e que ela colocou um alto preço para evitar que a aranha as obtivesse. Acontece que os desafios propostos por ela foram todos cumpridos de forma inteligente e astuta por Anansi, e ela não teve outra opção a não ser cumprir sua palavra e conferir ao Deus-Aranha todas as histórias do mundo.

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– Para você, Charles. A polícia considera você como o principal suspeito.
– Sim. Mas é claro. Combina com o resto do dia.
E Fat Charlie foi para casa.

Você pode ler algumas das histórias de Anansi em um website específico que garimpei na internet. Achei bem interessante, tem as histórias mais famosas, tem uma explicação de como Anansi se tornou uma aranha e como as histórias chegaram na América.

Alguém aí já leu Filhos de Anansi? Conta aí pra gente :)

Ficha Técnica

Título: Os Filhos de Anansi
Autor: Neil Gaiman
Ano: 2012 (original: 2005)
Editora: Conrad Editora
Gênero: Fantasia
Páginas: 344
Skoob: adicione na estante
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Comentários

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8 comentários via blog

  1. Isabela comentou em

    Estou descobrindo aos poucos o trabalho de Gaiman, mas cada vez me encanto mais. A dica de hoje já entrou para a minha lista de leitura. Estou amando esse especial!

    Bjs!

    1. Que coisa boa de se ler, flor! Estou muito empolgada com o especial e espero que mais pessoas possam adicionar o Neil à lista de autores favoritos. :))))

      Beijo!

  2. Máh comentou em

    Oiee =)
    Gostei dessa dica e opinião, até então é a primeira vez que vi e li a repeito do livro, só li um livro da Neil e gostei muito de sua escrita, tenho certeza que irei gostar de ler esse também.
    Beliscões carinhosos da Máh ♥
    Cantinho da Máh
    @Maaria_Silvana

    1. Que bom que curtiu, Máh! Estou ansiosa pra ver se mais pessoas se interessam pelo livro e me contam depois o que acharam :)))

      Beijo!

  3. Gabi comentou em

    Eu li apenas “O Oceano no Fim do Caminho” do autor e desde então tenho vontade de ler mais. Essa foi a primeira resenha desse livro que eu li e achei muito interessante, espero conseguir ler em breve!

    1. Oi flor!

      O Oceano é incrível, né? Gosto muito também :) Todos os livros dele são bem legais, e este aqui te prepara para Deuses Americanos, que vamos falar ainda este mês. Venha nos visitar :)

      Bjs

  4. Mariana Cascaes comentou em

    Esse livro parece ser muito muito bom, estou louca pra ler. O Anansi aparece em Deuses Americanos, não aparece? Beijinho pra você.

    1. Oi Mari, tudo bem?

      Esse livro é divertido, espero que tenhas a oportunidade de ler. E sim, o Anansi aparece em Deuses Americanos num trechinho muito bacana, por sinal. :)

      Beijo, obrigada pela visita!