Entrevista: Superphones

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Parafraseando as primeiras linhas de “500 Dias Com Ela“: esta é uma história de um garoto que conhece uma banda. Mas antes você precisa saber que essa não é uma história de amor.

Se compararmos as histórias entre esse filme e a banda que vocês estão prestes a conhecer, irão entender que a Superphones deixou milhares de garotos e garotas apaixonados por suas letras e energia. E como toda história de amor sem um final feliz, arrasou o coração de todos ao dar o seu adeus aos palcos.

Tom não ficou com Summer. E, talvez, como um paradigma a essa comparação, a Superphones não ficou com seus fãs. Entretanto, seus fãs guardaram todas as boas lembranças de um romance gaudério que perdurou por anos na cena musical.

A Superphones é uma banda de Porto Alegre e que encerrou suas atividades em 2007. E se você percebeu a contradição na frase anterior, não se enganou, pois ao longo dessa entrevista você vai entender que na cabeça de um fã ou, às vezes dos próprios integrantes, é difícil encarar o término de um sonho.

O meu primeiro contato com eles foi em 2002, após ter me mudado para Porto Alegre. Desde então, e sem a vergonha de assumir, me tornei fã deles e sempre que possível tentava acompanhar algum dos shows pela capital gaudéria.

Foi com grande alegria que nessas últimas semanas entrei em contato com o Marcus (Foguinho) e o Marcelo para que ambos pudessem contribuir com essa publicação além de, claro, matar a curiosidade sobre alguns fatos e acontecimentos sobre a Superphones.

Você confere a seguir os detalhes da entrevista:

– Que tal a gente começar com um pouco da história da Superphones? Como ela surgiu e quem são as pessoas que fizeram parte dela?

Foguinho: Bem, a banda surgiu por volta de 2000 e no início eu não fazia parte dela. Segundo o Marcelo, Sérgio, Fabian e o Pedro, isso que eu falo não faz sentido, porque a banda antes – quando tinha outro vocalista – ainda não se chamava Superphones.

Marcelo: O Sérgio, Fabian, Pedro e eu nos juntávamos desde a adolescência para interpretar canções de outros artistas que gostávamos, mas nenhum de nós se sentia capaz e à vontade para cantar. Em seguida conhecemos o Marcus (Foguinho) e convidamos ele para cantar na nossa banda. Foi ele que nos incentivou a tocar nossa primeira composição (9th Floor) e a compor mais músicas.

Foguinho: Quem me convidou a fazer um teste para entrar na banda, quando o B saiu, foi o Scooby. Lembro até hoje quando eles me mostraram as músicas próprias deles, que na época eram 9th Floor e Where Have You Been. Fiquei muito empolgado com as músicas, e como eu trabalhava com o Cholly (Charles Di Pinto) na época – durante a gravação do primeiro CD da Bidê ou Balde – pilhei muito o pessoal para gravar aquelas músicas. Foi até engraçado porque era eu que trabalhava com isso, mas só precisei mostrar pro Sérgio e pro Pedro o programa que o Cholly usava pra que em duas semanas os dois estivessem sabendo mexer naquilo muito melhor do que eu.

Analisando hoje, a banda foi vítima de um entra e sai dos próprios integrantes durante quase toda sua existência. Primeiro o Scooby viajou para os Estados Unidos e nós nunca acabamos colocando ninguém pra substituir ele, embora fosse o plano. O Scooby acabou voltando pro Brasil porque ficou doente e voltou para a banda. Depois o Marcelo foi passar um tempo em Londres e o Chaves, da Groove James, ficou nos dando uma força no baixo. Daí o Marcelo resolveu ir morar em Londres e foi quando a Mariana entrou na banda. Então foi a vez do Sérgio ir embora e o Cris entrou. Então o Scooby morreu e não existe como descrever o que isso foi pra nós. O Marcelo voltou pro Brasil e nós infernizamos ele para voltar para a banda, tocando teclado. Ele voltou. Aí foi a vez do Sérgio voltar pro Brasil e ele seguiu meio que sendo o sétimo Superphone. A Mariana saiu e o Sérgio assumiu o baixo.

Incrível como é complicado tentar contar, de uma forma ordenada e completa, a história da banda. Ainda mais porque minha memória um lixo. Aconteceu tanta coisa em um espaço de tempo que nem foi to grande assim. Mas certamente sempre teremos muita coisa pra contar.

– Como foram os primeiros shows da banda?

Foguinho: Os primeiros shows era um monte de música cover mais 9th Floor e Where Have You Been. O primeiro EP, só com as duas músicas, foi citado na época como o demo com melhor produção daquele ano no Brasil. Na medida em que íamos compondo novas músicas, menos covers ficavam no setlist. Foi uma época legal em que a cena do rock daqui estava cheia de gente legal. Tocávamos com Winston, Vide Hits, Bidê ou Balde, Tom Bloch, Wonkavision e mais um monte de bandas que estavam fazendo muitos shows legais por aqui.

– Em 2005, no festival “Claro Que é Rock”, vocês abriram o show da Placebo. Vocês são fãs da banda? Como foi esse convite e poder tocar por lá?

Marcelo: Na época, a maioria de nós curtia bastante o Placebo e quando ficamos sabendo que eles viriam para Porto Alegre tivemos uma ideia.

Foguinho: Foi uma coisa engraçada. A gente sempre teve planos e ideias mirabolantes e, mesmo antes de começar a promoção Claro que é Rock, a gente não apenas tinha enfiado na cabeça que iria abrir pro Placebo, como estávamos espalhando o boato. Foi engraçado, porque as pessoas vinham nos perguntar se era verdade e não passava de uma brincadeira. Daí surgiu a promoção. Precisava mandar material para concorrer e nós acabamos sendo um dos escolhidos.

Marcelo: Tocar antes do Placebo foi uma experiência única. Milhares de pessoas nos ouvindo atentamente e surpreendentemente várias delas cantando junto. Foi fantástico.

Foguinho: Foi muito legal abrir para os caras. Eu acabei sendo incumbido pela banda de entregar um CD pro Brian Molko (vocalista), que estava nos bastidores assistindo os shows. Espero que ele tenha ouvido, hehe. Lembro que quando subimos no palco e vimos toda aquela gente, comentei que shows depois daquele ali seriam muito difíceis de nos deixarem nervosos.

– E esse show contribuiu para vocês aparecerem na cena musical?

Foguinho: Ao contrário do que se possa imaginar, não nos abriu muito espaço não. Éramos a única banda que cantava em inglês e no Brasil isso sempre é um problema para conseguir espaço nas rádios.

– O que acho legal é que todos os arranjos, edição e até mesmo videoclipes eram feitos por vocês e o resultado sempre é muito bom. Dá pra ver isso em Love Games, Killing Yourself e outros clipes. Como era fazer esse trabalho?

Foguinho: Os arranjos e mixagens das músicas eram feitas todas por nós. Os vídeos também, com exceção do 9th Floor, que na verdade foi um trabalho de concluso de uma turma de Comunicação da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação). Os outros vídeos foram frutos das idéias malucas do Marcelo. Até hoje me empolgo assistindo.

Marcelo: Nós tínhamos prazer em fazer tudo isso, fazíamos questão. Os clipes que produzimos sempre foram despretensiosos. Ligávamos a câmera e começávamos a brincar na frente dela, ou simplesmente capturávamos o nosso dia-a-dia como em Killing Yourself. Éramos muito perfeccionistas, o que nos garantia um resultado acima da média das produções independentes da época, mas ao mesmo tempo tornava o processo todo mais lento e trabalhoso. Trabalhoso mas divertido. Se tínhamos algum segredo, era fazer só o que gostávamos. Se alguém não gostava de algo, aquilo era descartado.

– E sobre as músicas, elas tem alguma relação ou significado com a vida pessoal de vocês ? De onde vocês buscam inspiração para as letras?

Foguinho: Todos nós compúnhamos. Às vezes juntos, às vezes separados. Acho que alguma relação com as nossas vidas, por mais subjetiva que fosse, sempre havia. Eu quase sempre tinha idéias de letras quando estava andando de ônibus ou caminhando pela cidade.

Marcelo: Só posso falar pelas letras que escrevi. As da primeira fase eram mais sobre desilusões amorosas e mais ingênuas, retiradas direto da minha vida particular. Eu tinha só 20 anos, então era normal que tivessem esse lado mais ingênuo. Nas composições do The Way Opa! eu já comecei a incorporar um pouco mais da minha visão política, como em Bones e Shrouded Hills, outras já falam de arrependimentos meus, como Sour Apples, que é praticamente um pedido de desculpas meu ao Scooby, depois de ele ter falecido.

– O clipe de Untitled#2 mostra cenas da Superphones em Londres. Como foi essa viagem? Onde vocês tocaram por lá?

Foguinho: Aquela viagem, em 2005, foi fora de série. Queria que a situação fosse outra na época, que nós pudéssemos ter ido pra ficar. Mas não tinha como.

Marcelo: Fizemos dois shows se não me falta a memória. Em um deles estávamos bêbados e tocamos muito mal, mas tinha bastante público, no outro estávamos sóbrios e tocamos tri bem, mas só tinham seis pessoas assistindo.

Foguinho: Por mais ridículo que pareça, só lembro do nome de um dos lugares que tocamos: Bull and Gate.

– Houve algum fato ou acontecimento engraçado durante a viagem?

Foguinho: Vários. Teve a Mariana nos surpreendendo quando viu um esquilo.

Marcelo: Um dia estávamos no Hyde Park e a Mari disse “olhem que bonitinho, um esquilo”. Ela não enxerga bem à distância, e estava sem óculos. Perguntamos a ela como sabia que era um esquilo, ela respondeu que via um ponto se mexendo pela grama. Poderia ter sido um rato. Contando não parece engraçado, mas na hora quase nos mijamos de tanto rir.

Foguinho: Teve eu dormindo das 6 às 10 da manhã em linhas do metrô de Londres. Eu pegava um, acabava dormindo, perdia a parada. Descia, pegava outro, dormia, e assim por diante. Teve eu bebendo feliz da vida um xarope de maçã, para fazer suco, achando que era pra tomar puro, embora um copo fizesse 2 litros. Teve uma mulher que ficou muito brava com o Pedro por ele não parar de fotografar.

Marcelo: Foi ótimo voltar a Londres com o pessoal, nos divertimos muito pra variar.

– A banda também é muito amiga do André Takeda, o escritor do “Clube dos Corações Solitários” e “Hotel Cassino“. Como era essa relação e qual foi a sensação em terem contribuído com a música “Grows Up” pro segundo livro dele?

Foguinho: O Marcelo, Sérgio e o Scooby sempre foram muito amigos dele, pelo que me lembro. Eu achei muito legal a participação na idéia do livro. Gosto desse tipo de mistura.

Marcelo: O Takeda é ótimo e todos adorávamos o que ele escrevia. E aparentemente era recíproco. Achamos até que ele exagerava um pouco nos elogios que ele escrevia pra gente no blog. Grown-ups foi meio que feita sob encomenda e foi difícil fazer a letra dela. Foi ótimo contribuir com um trabalho tão legal.

– Como eu disse para vocês, na cabeça dos fãs o sonho nunca acaba. Por que a Superphones encerrou suas atividades?

Marcelo: Por mim e pelo Sérgio a banda não teria acabado. Só que em seguida o Cris se mudou para Caxias e o resto do pessoal parecia cansado, desmotivado e mais preocupado em trabalhar.

Foguinho: Quando as pessoas me perguntam sobre a banda, até hoje eu não respondo: “acabou”. Eu sei que acabou, só não gosto de aceitar. Se a gente tivesse sentado junto e decidido “ok, pessoal, vamos parar”, daí eu aceitaria melhor. Mas a gente simplesmente foi se afastando.

Marcelo: Era comum, e triste, marcarmos um ensaio e estar menos da metade da banda.

Foguinho: Alguns de nós, eu principalmente, acabaram se deixando envolver completamente por nossas carreiras profissionais, e isso fazia com que os ensaios nunca estivessem com a banda completa.

Marcelo: O último ensaio, com toda a banda reunida, foi em 2007.

– O que cada um tem feito hoje em dia?

Marcelo: Hoje em dia eu trabalho em um café vegano com a minha companheira e estou envolvido em outros projetos de ativismo. O Sérgio trabalha com produção de áudio para cinema. O Cris trabalha na Caixa Federal, em Caxias do Sul e parece que está tocando com uma banda fazendo covers do The Beatles.

Foguinho: O Fabian trabalha na Aldeia Design e o Pedro trabalha no Terra Networks.

– Saudades do tempo em que estava reunidos? Não bate aquela vontade de reunir a turma de novo?

Marcelo: Sim, sinto certa saudades. Eu adorava tocar com eles, mas o tempo da Superphones já passou. Se eu voltasse a tocar e compor hoje em dia seria algo bastante diferente.

Foguinho: Muita. Cada vez que eu ouço as músicas eu tenho vontade de voltar. Chegamos a conversar sobre o assunto, mas não vai acontecer.

A Superphones foi:

Cristiano Selbach – guitaras, vocal
Fabian Umpierre Couto – guitarras, vocal
Foguinho – vocal, guitarras
Marcelo Guidoux Kalil – teclados, vocal
Mariana Prates – baixo, vocal
Pedro Belleza – bateria, vocal
Sérgio Guidoux Kalil – baixo, guitarras, vocal

Ficha Técnica

Nome: Superphones
Gênero: Indie Rock
Site: Site Oficial | Last.fm
Origem: Brasil (Rio Grande do Sul)

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2 comentários via blog

  1. Ouço esse treco desde 2007 e foram muitas as vezes que essas músicas me deram um gás pra fazer algo!